O dólar fechou em queda nesta quarta-feira (20), influenciado pelo otimismo com as aprovações das medidas de ajuste fiscal no Brasil e pela sinalização de que o juro básico dos Estados Unidos não começará a subir na reunião de junho do Federal Reserve (banco central americano).
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Após duas altas seguidas, o dólar comercial, usado no comércio exterior, fechou o dia com desvalorização de 1,21% sobre o real, cotado em R$ 3,004 na venda. Já o dólar à vista, referência no mercado financeiro, avançou 0,39%, para R$ 3,031 -o mercado à vista estava fechado quando a ata do Fed foi divulgada, às 15h (de Brasília), por isso a cotação irá refletir esse dado no pregão de quinta-feira (21).
A desaceleração econômica registrada pelos Estados Unidos no primeiro trimestre deste ano tornou pouco provável que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) eleve as taxas de juros ainda neste semestre. Foi o que apontou a ata da última reunião da autoridade monetária, realizada nos dias 28 e 29 de abril e divulgada nesta quarta-feira (20).
"Esperava uma novidade, talvez alguma alteração sobre a política do Fed. Até agora, o foco da autoridade tem sido no desemprego. Se a taxa de desemprego continuasse caindo, isso significaria que a atividade estava ganhando fôlego, o que permite aumento nos juros. Mas agora tem também o problema da inflação, que está fraca", disse Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora.
Segundo Figueredo, as apostas do mercado foram reforçadas para que o aumento do juro nos EUA ocorra somente em setembro ou dezembro. "Isso tem impacto direto no dólar, que deve cair no curto prazo. As moedas emergentes ganham força, principalmente o real, que é a moeda emergente mais desvalorizada, com mais espaço para recuperar."
"O Fomc não trouxe alterações no discurso, o que só aumentou a coragem para vender (dólares)", afirmou o especialista em câmbio da corretora Icap, Italo Abucater.
Uma alta do juro americano deixaria os títulos do Tesouro dos EUA -que são remunerados por essa taxa e considerados de baixíssimo risco- mais atraentes do que aplicações em mercados emergentes, provocando uma saída de recursos dessas economias. A menor oferta de dólares tenderia a pressionar a cotação da moeda americana para cima.
A Fed Funds Rate (taxa de juro americana) está em seu menor patamar histórico desde 2008, entre 0% e 0,25%, numa medida do Fed (BC dos EUA) para tentar amenizar os efeitos negativos da crise financeira.
AJUSTE FISCAL
Internamente, o otimismo em relação ao ajuste fiscal contribuiu para a desvalorização do dólar na sessão. "O Levy [ministro da Fazenda] tem conseguido segurar suas propostas e convencer os demais políticos a aprová-las", afirmou Figueredo.
Na véspera, a Câmara dos Deputados aprovou o texto-base da medida provisória 668, que eleva as alíquotas de PIS e Cofins para produtos importados. Nesta quarta (20), no entanto, a pressão do setor exportador e das empresas que tomam crédito no exterior surtiu efeito e a Receita Federal desistiu de tributar as receitas provenientes de operações de "hedge" (proteção) cambial e de captações externas.
"Ainda parece haver apoio suficiente dos parlamentares, que, combinado com o comprometimento sério da equipe econômica, assegura que o ajuste fiscal continue neste ano", escreveu em nota a clientes Siobhan Morden, estrategista-chefe para a América Latina no grupo financeiro Jefferies LLC.
As atuações do Banco Central do Brasil no mercado de câmbio também seguiram no radar dos investidores. Nesta quarta (20), a autoridade monetária brasileira rolou para 2016 os vencimentos de 8,1 mil contratos que estavam previstos para o início de junho, em um leilão que movimentou US$ 395,3 milhões. A operação é equivalente à venda futura de dólares.
Se mantiver esse ritmo até o final de maio, o BC rolará apenas 80% do lote total de contratos de swap com vencimento no início do próximo mês, que corresponde a US$ 9,656 bilhões. Nos meses anteriores, a rolagem estava sendo de 100% dos contratos.
BOLSA EM BAIXA
No mercado de ações, o principal índice da Bolsa brasileira fechou em queda pelo terceiro dia nesta quarta-feira, influenciado pelas ações de bancos. O Ibovespa perdeu 1,08%, para 54.901 pontos. O volume financeiro foi de R$ 8,325 bilhões.
Segundo analistas, o índice atravessa um "período de realização", quando investidores se desfazem de papéis que tiveram uma recente forte valorização para embolsar o lucro com a diferença entre os preços de compra e venda dos ativos. Mesmo assim, a tendência, dizem, continua de alta para o Ibovespa no curto prazo.
As ações da Petrobras são as que mais têm sofrido. Após caírem mais de 8% nos últimos dois pregões, os papéis preferenciais da companhia, sem direito a voto, cederam mais 0,15% nesta quarta, para R$ 12,89 cada um. Já os ordinários, com direito a voto, recuaram 0,36%, para R$ 13,70.
Entre os bancos, o Itaú registrou perda de 1,78%, para R$ 36,50, enquanto a ação preferencial do Bradesco sofreu baixa de 2,51%, para R$ 30,25. Os bancos são o segmento com maior peso dentro do Ibovespa e as desvalorizações nesta quarta refletem a possibilidade de o governo elevar os impostos para o setor, segundo analistas.
A Vale viu seu papel preferencial ceder 1,89%, para R$ 16,57, ajudando a empurrar o Ibovespa para baixo. A mineradora brasileira tem sofrido com a baixa nos preços do minério de ferro negociado no mercado à vista da China, que é o principal destino de suas exportações.