O governo dos Estados Unidos anunciou nesta quinta-feira (31) que vai impor tarifas elevadas às importações de aço (25%) e alumínio (10%) da União Europeia (UE), Canadá e México a partir de meia-noite (1H00 de Brasília, sexta-feira), uma medida que será objeto de resposta dos afetados.
O anúncio do secretário do Comércio, Wilbur Ross, também deve abalar a reunião dos ministros das Finanças do G7, que começa nesta quinta-feira no Canadá.
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O México já anunciou que vai adotar represálias comerciais, enquanto a UE deve explicar suas ações nas próximas horas.
Ross afirmou à imprensa que as negociações com a UE não alcançaram um acordo satisfatório para convencer Washington a manter a isenção das tarifas anunciada em março.
Ao mesmo tempo, as negociações com Canadá e México para revisar o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) "estão levando mais tempo que o previsto e não existe uma data precisa" para a conclusão. Por este motivo, as isenções dos dois países serão eliminadas.
O anúncio foi confirmado formalmente em um decreto do presidente Donald Trump.
Apesar de semanas de conversações com os colegas da UE, Ross disse que Washington não estava disposto a cumprir com a demanda europeia de que o bloco permaneça "isento de forma permanente e incondicional às tarifas".
"Tivemos discussões com a Comissão Europeia e, apesar de alguns progressos, não chegamos a um ponto que justificasse continuar com a isenção temporária ou ter uma isenção permanente", disse Ross.
"Potencial flexibilidade"
O secretário do Comércio minimizou as ameaças de represália dos países afetados e disse que as negociações podem prosseguir, inclusive durante a disputa para tentar encontrar uma solução.
Como presidente, Trump tem autoridade para modificar as tarifas ou impor cotas, ou "fazer o que desejar a qualquer momento", o que permite uma "potencial flexibilidade" para resolver o problema, afirmou.
Trump anunciou as tarifas de importação de 25% sobre o aço e de 10% sobre o alumínio alegando questões de segurança nacional, o que segundo Ross envolve uma ampla gama de temas econômicos.
A Coreia do Sul negociou uma cota para o aço, enquanto Argentina, Austrália e Brasil concordaram em "limitar o volume que podem enviar aos Estados Unidos, ao invés das tarifas", explicou Ross.
Represálias
A UE anunciará nas próximas horas medidas para retaliar a decisão de Washington. A Alemanha afirmou que a resposta ao slogan "Estados Unidos primeiro" será "Europa Unida".
"Este é um dia ruim para o comércio mundial. A UE não pode ficar sem reagir", disse Juncker em uma entrevista coletiva em Bruxelas, pouco depois do anúncio da decisão americana de impor tarifas de importação à UE, Canadá e México.
O governo mexicano disse em um comunicado que o presidente Enrique Peña Nieto e o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, "lamentaram e expressaram sua rejeição à recente decisão de Estados Unidos de impor tarifas às importações de aço e alumínio" durante uma conversa telefônica.
O comunicado acrescenta que que Peña informou Trudeau sobre as represalias comerciais que o governo mexicano aplicará e que o primeiro-ministro "confirmou que o Canadá também estabelecerá medidas compensatórias proporcionais".
Mais cedo a Secretaria de Economia do México já havia informado em um comunicado que o país vai adotar medidas equivalentes a diversos produtos como aços planos, lâmpadas, carne de porco, embutidos, frutas, vários tipos de queijo, entre outros.
"A medida estará em vigor enquanto o governo americano não eliminar as tarifas impostas", afirma o comunicado.
Em represália, o Canadá anunciou tarifas sobre produtos americanos no valor de 12,8 bilhões de dólares.
As medidas tarifárias dos Estados Unidos são "totalmente inaceitáveis", disse o primeiro-ministro Justin Trudeau em coletiva de imprensa.
"Essas tarifas são uma afronta à longa sociedade em segurança entre Canadá e Estados Unidos e, em particular, são uma afronta aos milhares de canadenses que brigaram e morreram juntos com seus irmãos americanos em armas", disse Trudeau, fazendo uma referência à invocação de segurança nacional usada por Washington para justificar as medidas.
Segundo Trudeau, o Canadá também impugnará a medida americana ante o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) e a Organização Mundial de Comércio.
O ministro da Economia da França, Bruno Le Maire, avisou que não negociará "sob pressão" com os EUA.
Segundo o palácio Eliseu, o presidente francês, Emmanuel Macron, disse à Trump, por conversa telefônica na noite desta quinta-feira, que sua decisão de impor as tarifas é "ilegal" e que a UE responderá de forma "firme e proporcional".
O secretário-geral da OCDE, o mexicano Ángel Gurría, pediu que "salvem multilateralismo" diante do perigo de guerra comercial.
"Estamos em momento crítico não somente para o futuro do multilateralismo, como também para o planeta" afirmou Gurría ao fim da reunião anual da OCDE. "Temos que salvar o multilateralismo porque é a única maneira de avançar", acrescentou.