entrevista

Única saída para a geração nem-nem está na educação

Pró-reitor da FGV, Antonio Freitas, conversou com o Jornal do Commercio sobre o assunto

Raissa Ebrahim
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Raissa Ebrahim
Publicado em 11/08/2013 às 5:00
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Jornal do Commercio - Onde está a geração nem-nem no Brasil e a quem atribuir a culpa das estatísticas?
Antonio Freitas - É possível encontrar essa geração em todos os níveis sociais. Na classe mais baixa, credito à péssima educação básica do País, que faz com que o jovem fique desmotivado pela falta de professores qualificados e de estrutura das escolas. A culpa para as classes C, D e E é dos três governos (federal, municipal e estadual), por não dar educação básica de qualidade. É preciso estimular essa população. É preciso uma ocupação para que se comece, para acender o foguete. A culpa é especialmente do governo municipal, por ser o responsável pelos primeiros anos do ensino. Esses jovens estão perdidos, muitas vezes não porque querem, mas simplesmente porque não tiveram a oportunidade mínima de se encontrar nem motivação para seguir nos ensinos médio e superior. Já nas classes A e B, sobretudo no Nordeste, a culpa costuma ser dos pais, que paparicam demais os filhos, com carro e dinheiro, por exemplo.

JC - Na prática, o que é preciso mudar na lógica educacional para quebrar esse ciclo?
Freitas - Investir principalmente no ensino tecnológico. Pela manhã, base acadêmica e, à tarde, ensino de uma profissão, como, por exemplo, marcenaria e manutenção predial. São profissionais difíceis de encontrar hoje. O problema é que os professores estão mal preparados e desinteressados e as famílias não obrigam esses jovens a nada, muitas vezes passam o dia fora trabalhando. Uma boa formação, inclusive, passa também pela educação sexual e de higiene.

JC - Quais as consequencias desse cenário para o futuro do País?
Freitas - Uma delas é a alta dependência dos programas de transferência de renda do governo. A Bolsa Família é boa para tirar as pessoas da miséria, mas tem que estar associada ao estudos para os menores e ao emprego para os adultos. Se a situação continuar sem nenhum mudança disruptiva, o Brasil vai ficar proporcionalmente para trás, principalmente em relação aos Brics. Estamos celebrando um crescimento próximo de 2%, 3%, enquanto a China tem problemas porque cresce perto de 7% ao ano. A renda per capita da Coreia dobrou desde a década de 1950. Tudo isso porque investiu-se em educação, primordialmente educação básica.

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