O marketing político do governo federal gosta de comparar o desempenho do período de governo Lula-Dilma (de 2003 até hoje) contra os oito anos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Para muitos analistas a comparação sofre de honestidade intelectual pelo fato de não considerar a herança recebida pelo mandatário, o cenário internacional e até mesmo a sorte do governante dentro dessa conjuntura de fatores. Focando apenas no desempenho da atual administração, é possível perceber que o governo Dilma Rousseff agravou o quadro inflacionário e desestimulou o investimento e o crescimento industrial, mas manteve, por outro lado, uma forte diminuição no desemprego, e melhorou o rendimento médio do trabalhador e reduziu a taxa de juros.
Na avaliação do presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon), Fernando Aquino, os quatro anos de Dilma Roussef trouxeram uma elevação moderada da inflação. Ela recebeu de Lula um IPCA médio de 5,1%, registrados nos quatro anos de seu segundo mandato, e vai entregar para 2015 uma inflação de 6,1% registrada nesses últimos quatro anos, levando-se em consideração a previsão de uma inflação de 6,3% em 2014, de acordo com a expectativa de mercado registrada pelo boletim Focus do Banco Central.
Com relação ao crescimento do PIB, os quatro anos de Dilma também tiveram impacto negativo. O crescimento do PIB caiu de 4,6%, na média do segundo mandato de Lula, para 1,6% nos anos Dilma, considerando nesta conta o crescimento de 0,2% da economia em 2014, de acordo com o Focus. O setor mais impactado por essa desaceleração econômica foi a indústria, que reduziu sua produção de um crescimento de 3% de Lula para uma redução de -0,5% nos últimos quatro anos. Quadro de “forte redução na produção industrial”, segundo análise de Fernando Aquino e que já começa a repercutir no emprego, ponto mais forte da administração Dilma.
Nesses quatro anos, o desemprego caiu de 8% do quadriênio 2007-2010, para 5% durante Dilma, segundo números da Pesquisa Mensal do Emprego do IBGE. Já com relação ao aumento do rendimento médio do trabalhador, houve uma piora sob a administração Dilma mas, mesmo assim, num quadro de manutenção dos ganho real, segundo Aquino. Saiu de uma média de crescimento de 3,4% para 2,8%, também de acordo com os número da PME.
Por fim, a atual administração diminuiu a média dos juros pagos pelo Brasil, saindo de uma Selic média de 11,1% em Lula para 9,8% em Dilma.
Para o gestor de mesa da Finacap DTVM, Leandro Lima, qualquer comparação de indicadores econômicos entre governos têm de ser lidos com “asteriscos”. “Cada governo enfrenta cenários e conjunturas diferentes”, salienta o especialista, para destacar os bons ventos que sopraram durante a administração de Luiz Inácio Lula da Silva, contra os cenários adversos enfrentados por FHC, com crise da Rússia, México e dos tigres asiáticos e a própria Dilma, que pegou o esfriamento da economia mundial.
“A grande vantagem que Lula teve foi em termos de troca, que é a diferença entre o preço que o país vende suas mercadorias contra o que se importa. Ganhamos muito dinheiro com a valorização das commodities neste período, além do crescimento da renda externa que terminou chegando ao nosso País também”, comentou.
A crítica que se faz a este período é que Lula não utilizou essa sobra para reduzir as despesas do governo, tendência que foi mantida pela atual presidente, que manteve a trajetória de inflação, de gastos públicos e déficit na balança comercial com o exterior, apesar de atingir taxas históricas de desemprego.
Fernando Henrique, por sua vez, conseguiu consolidar o processo de estabilização da moeda, mas também não conseguiu entregar um governo austero com os gastos públicos, iniciando o processo de aumento de carga tributária.