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Petrobras cai mais de 9% e afeta Bolsa; dólar renova maior valor desde 2005

O Ibovespa teve queda de 2,05%, para 47.018 pontos

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Publicado em 15/12/2014 às 19:23
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O Ibovespa teve queda de 2,05%, para 47.018 pontos - FOTO: Marcos Santos/USP Imagens
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Após ter começado o dia no azul, o principal índice da Bolsa brasileira inverteu a tendência para queda ainda pela manhã e fechou esta segunda-feira (15) no vermelho, acompanhando a forte aversão ao risco nos mercados internacionais.

O movimento seguiu uma virada nos preços do petróleo para baixo, que voltaram a atingir seu menor patamar em mais de cinco anos. O cenário negativo aumentou a demanda por aplicações consideradas mais seguras, como o dólar, fazendo com que a moeda americana ganhasse força sobre as principais divisas globais. Em relação ao real, o dólar voltou a atingir sua maior cotação desde março de 2005.

O Ibovespa teve queda de 2,05%, para 47.018 pontos. É o menor nível desde 19 de março deste ano, quando atingiu 46.567 pontos. O volume financeiro foi de R$ 11,002 bilhões, impulsionado pelo vencimento de opções sobre ações (quando termina o prazo de contratos que aposta no preço futuro dos ativos), que representou R$ 3,588 bilhões do total.

As ações preferenciais (sem direito a voto) da Petrobras caíram 9,20% no dia, para R$ 9,18 cada uma. É o menor valor desde 14 de junho de 2004, quando custavam R$ 9,08 cada uma. Já as ordinárias (com direito a voto) cederam 9,94%, para R$ 8,52 -menor preço desde os R$ 8,43 registrados em 5 de novembro de 2003.

Os papéis da petroleira caíram após a empresa ter adiado novamente a divulgação de seu balanço não auditado, que estava previsto para a última sexta-feira (12), diante de novos escândalos de corrupção dentro da companhia. A queda no preço do petróleo na cena externa, além do corte em recomendações de grandes bancos -como o Credit Suisse- para os papéis da estatal, também pesou negativamente sobre as cotações.

"Atualmente a maior preocupação da Petrobras é na publicação do balanço, pois sem resultado não existe rolagem da dívida, nem possível captação via ações. O cenário é bastante complicado para a companhia e incerto. Seguimos não recomendando exposição ao ativo", diz o analista Ricardo Kim, da XP Investimentos, em relatório.

AVERSÃO CONTINUA

Para Eduardo Velho, economista-chefe da gestora de recursos Invx Global, a aversão ao risco global deve continuar. "O mercado tem o mesmo contexto há dias. Três pontos são os principais: possibilidade de aumento nos juros nos EUA, sinalização do governo chinês de que haverá uma desaceleração do crescimento da China e novo patamar dos preços das commodities bem abaixo do que temos visto nos últimos anos", disse.

"O movimento é mais estrutural (perene) do que conjuntural. Não se deve esperar uma recuperação dos preços das commodities. Com o dólar mais forte, elas devem continuar assim, em um patamar mais baixo, nos próximos anos. O cenário é negativo para os emergentes, especialmente os exportadores, como Brasil, México, Rússia e África do Sul", afirmou Velho.

A avaliação do economista é que no Brasil, além da influência externa, o quadro é agravado por incerteza sobre o rumo da política econômica.

PAPÉIS

Também no vermelho, a Vale viu sua ação preferencial ceder 1,30%, para R$ 16, na esteira da queda recente nos preços do minério no exterior e corte nas projeções de analistas para o valor da matéria-prima no próximo ano. Sinais de desaceleração da economia chinesa, principal destino das exportações da companhia, continuam refletindo negativamente sobre o papel.

Em sentido oposto, as ações de siderúrgicas, que caíram fortemente nos últimos dias, reagiram no fim do pregão e dominaram a ponta positiva do Ibovespa. Os papéis preferenciais da Usiminas subiram 6,02%, para R$ 4,58 cada um. Já a ação da CSN avançou 2,42%, para R$ 4,65.

O setor financeiro pesou negativamente sobre o índice. Esse é o segmento com maior participação dentro do Ibovespa. O Itaú Unibanco perdeu 2,13%, para R$ 33,03, enquanto o Banco do Brasil caiu 4,82%, para R$ 22,11, e a ação preferencial do Bradesco mostrou desvalorização de 2,82%, para R$ 33,12.

Em nota, a agência de classificação de risco Fitch ressaltou nesta segunda que o setor bancário brasileiro enfrenta uma perspectiva negativa para 2015 refletindo a deterioração do ambiente operacional e da qualidade dos ativos.

DÓLAR BATE R$ 2,70

No câmbio, o dólar à vista, referência no mercado financeiro, teve valorização de 0,97% sobre o real, para R$ 2,688 na venda -maior cotação desde 29 de março de 2005, quando estava em R$ 2,701. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, subiu 1,28%, para R$ 2,685. Também é o valor mais elevado desde os R$ 2,698 registrados em 29 de março de 2005.

A moeda americana chegou a bater em R$ 2,701 durante o dia. Foi a quarta alta seguida do dólar, que tem ganhado força diante de indicadores econômicos melhores que o esperado. O mercado teme que o BC dos EUA possa começar a elevar os juros naquele país em breve, antes da previsão anterior, que era em meados de 2015.

A taxa de juros americana está em seu menor patamar (entre zero e 0,25% ao ano) desde 2008 a fim de estimular a economia daquele país após a crise. O Fed tem reunião nesta terça (16) e quarta-feira (17).

Um aumento nos juros dos EUA deixaria os títulos do Tesouro americano, que são remunerados por essa taxa e considerados de baixíssimo risco, mais atraentes que aplicações em países emergentes, como o Brasil. O receio é que o aperto monetário por lá cause uma fuga de recursos dos emergentes de volta para a economia americana.

Entre as 24 principais moedas emergentes do mundo, apenas quatro tiveram alta sobre o dólar: o won sul-coreano (+0,47%), o novo leu romeno (+0,08%), o novo soles peruano (+0,03%) e o peso argentino (+0,01%). No sentido oposto, o rublo russo foi o que mais se desvalorizou em relação à moeda americana, com queda de 9,58%.

ATUAÇÕES DO BC

Com expectativa de mudança na política monetária americana em breve, operadores se questionam se o BC brasileiro também adotará novas medidas de atuação no câmbio para evitar uma disparada do dólar quando os juros americanos de fato subirem.

Nesta segunda (15), o Banco Central deu continuidade ao seu programa de intervenções diárias no mercado, por meio do leilão de 4.000 contratos de swap cambial (operação que equivale a uma venda futura de dólares), pelo total de US$ 196,8 milhões.

A autoridade também promoveu um novo leilão para rolar os vencimentos de 10.000 contratos de swap previstos para 2 de janeiro de 2015, por US$ 489,6 milhões. Até o momento, o BC já rolou cerca de 55% do lote total com prazo para o segundo dia do mês que vem, que equivale a US$ 9,827 bilhões.

Houve reforço ainda de um leilão de linha de crédito de US$ 1 bilhão para injetar recursos novos no mercado. É uma operação em que o BC vende a moeda estrangeira, mas com a obrigação, por parte de quem toma o empréstimo, de devolver o dinheiro após um determinado período. Os empréstimos atendem a uma demanda de fim de ano por dólares, principalmente de exportadores.


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