O vice-presidente, Michel Temer, elogiou nesta terça-feira (21), em Lisboa, o ajuste feito por Portugal para enfrentar a crise econômica e disse que pretende levá-lo como exemplo para o Brasil, onde o governo tenta aprovar o ajuste fiscal no Congresso.
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O tom usado por Temer diverge de declarações feitas, no início da crise europeia, por Dilma Rousseff e pelo ex-presidente Lula em relação à forma como a Europa estava enfrentando o problema.
No final de 2012, por exemplo, Dilma afirmou em seu discurso na Cúpula Ibero-Americana que as políticas de austeridade tinham efeitos limitados se não fossem acompanhadas por medidas de estímulo à economia.
Na mesma época, Lula criticou a Alemanha, afirmando que o combate à recessão em países como Grécia, Espanha e Portugal deveria ser feito por meio de investimentos, e não austeridade.
Questionado se o governo havia mudado de opinião sobre o tema, Temer ressaltou que expressou apenas uma "opinião muito pessoal". "Estou sustentando que, se deu resultado aqui, certa e seguramente dará resultado no Brasil", disse o vice-presidente, após visita à Assembleia da República de Portugal.
Mais cedo, na saída de um encontro com o vice-primeiro-ministro português, Paulo Portas, Temer demonstrou confiança na aprovação do ajuste fiscal pelo Congresso.
Segundo ele, o ajuste é necessário para o país crescer. O vice-presidente, porém, buscou diferenciar a situação do Brasil da crise enfrentada em Portugal nos últimos anos.
"Portugal passou por uma fase muito difícil. Nós não tivemos exatamente uma fase difícil", disse Temer, ressaltando que o Brasil praticamente alcançou o pleno emprego, embora agora enfrente "algumas dificuldades".
Em 2011, Portugal ingressou em um programa de resgate e, em contrapartida ao empréstimo de 78 bilhões de euros, se comprometeu com os credores internacionais a fazer uma série de ajustes na economia.
Entre as medidas adotadas nesse período estão o aumento de impostos, cortes nos salários do funcionalismo público e nas aposentadorias, aumento das taxas para utilização dos serviços de saúde, redução nos investimentos em educação e privatizações, dentre outras.
Em 2014, Portugal cresceu 0,9%, após um recuo de 1,4% em 2013, e projeta um crescimento de 2% para 2015.
Apesar dos sinais de recuperação na economia, os impactos dessas medidas sobre a população portuguesa continuam a ser sentidos. Portugal fechou o ano passado com uma taxa de desemprego de 13,5%.
A situação é pior para os jovens: da população com idade entre 15 e 24 anos, 35% está desempregada. Mesmo com as medidas de austeridade, o déficit público de Portugal fechou 2014 em 4,5%, o quarto maior da zona do euro.
TERCEIRIZAÇÃO
Em entrevista a jornalistas brasileiros após cumprir dois dias de agenda na capital portuguesa, Temer também comentou o projeto que regulamenta a terceirização no Brasil.
O vice-presidente disse acreditar que seja possível chegar a um acordo sobre o tema que seja um "meio termo".
"Eu até tomei a liberdade de propor que, no tocante à terceirização plena, houvesse algumas exceções", disse o vice-presidente, explicando que a ideia seria criar uma lista de atividades que seriam excluídas da regra geral.
"Eu tenho impressão que também vamos chegar a um ponto comum nesta matéria, não sei se nesta semana, por causa do quórum. Se houver quórum, se conclui esta matéria.", afirmou.
Às vésperas da publicação do balanço auditado da Petrobras, Temer disse que está "confiando" na palavra da presidente sobre a situação da empresa. No início do mês, Dilma afirmou que a estatal "limpou o que tinha de limpar".