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Analistas enxergam novo plano positivo, mas ações da Petrobras caem

Interpretação é que os dados foram divulgados muito próximo da abertura do pregão

Da Folhapress
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Publicado em 29/06/2015 às 18:46
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O novo plano de negócios da Petrobras, que apresentou queda nas estimativas de investimentos para os próximos cinco anos e sinalizou com venda de ativos no valor de US$ 42,6 bilhões, agradou analistas ouvidos pela reportagem. Mesmo assim, as ações da Petrobras, às 12h30 (de Brasília), operavam em leve queda. A interpretação é que os dados foram divulgados muito próximo da abertura do pregão e que até o final do dia as ações poderão recuperar valor.

A empresa reduziu em 37% sua estimativa de investimento, para US$ 130,3 bilhões entre 2015 e 2019. O plano anterior, para o período de 2014-2018, previa investimentos no valor de US$ 206,6 bilhões. A redução se faz necessária diante da realidade de caixa da empresa, que sofreu no último ano com as perdas com a corrupção investigada pela operação Lava Jato, com a queda do preço do petróleo e com o aumento da dívida, impulsionada pela alta do dólar.

Segundo o analista-chefe da Gradual Investimentos, Daniel Marques, o corte de 37% foi positivo e veio um pouco acima do que esperava o mercado. Ele esperava um corte de 35% e a média do mercado era na casa de 30%. "Eu gostei do que foi divulgado. Veio um pouco mais forte do que estávamos esperando", disse.

Em sua avaliação, a empresa acertou em reduzir seu investimento por ano a um patamar abaixo de US$ 30 bilhões por ano -o plano prevê aportes anuais de US$ 26,06 bilhões.

Segundo ele, a Petrobras vê o custo de sua dívida encarecer, seja por conta da alta do dólar -a maior parte da dívida da empresa está em moeda estrangeira- seja pelo aumento da percepção do risco da empresa pelas instituições financeiras no exterior, o que faz subir a taxa de juros de dívidas contraídas fora do Brasil.

A dívida líquida da Petrobras bateu, no primeiro trimestre deste ano, R$ 332 bilhões. No plano apresentado nesta segunda, a empresa prevê reduzir a relação entre dívida e geração de caixa para três vezes até 2018, algo que Marques considerou como factível, visto que esse percentual no primeiro trimestre estava em 3,8 vezes.

Ele também considerou como bom o sinal que a empresa deu de que irá concentrar investimentos na área de exploração e produção, que garante o maior retorno para a estatal, e reduzirá os aportes nas áreas de refino e distribuição de combustíveis, que têm retorno mais baixo.

"Você pode reduzir essa relação [dívida líquida/Ebitda] de duas formas: diminuir a dívida ou gerar mais caixa. O que podemos ler, nesse momento, é que a empresa, talvez na impossibilidade de reduzir sua dívida mais rapidamente, optou por gerar mais caixa, deixando sua estrutura mais enxuta e cortando gastos", disse.

O que não ficou claro, disse ele, é qual tipo de ativo a empresa irá se desfazer no plano de desinvestimento. No comunicado enviado ao mercado, a empresa não explicita exatamente o que será posto a venda. Diz apenas que desinvestirá US$ 15,1 bilhões neste ano e no ano que vem, e que a cifra chegará a R$ 42,6 bilhões em 2018. Nesse total, 30% serão em exploração e produção e 70% nas áreas de abastecimento, gás e energia.

AÇÕES - Na esteira da divulgação do plano, as ações da Petrobras caíram 0,76% -a preferencial (sem direito a voto) e 0,61% a ordinária, com direito a voto. A expectativa de cortes já havia feito as ações da empresa subir na última sexta-feira -4,84% e 4,79%, respectivamente ON e PN.

"O mercado ainda está digerindo os dados e isso leva a certa volatilidade", disse Marques. "O plano vai fazer as ações subirem nos próximos dias", afirmou Adriano Pires, diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura).

PRODUÇÃO - Crítico contumaz da gestão do governo na Petrobras, Pires afirmou que em última análise os cortes de investimento foram uma boa notícia. Segundo ele, a estatal divulgou "pela primeira vez um plano realista e condizente com sua situação financeira".

Ele faz, contudo, ressalvas quanto às reduções estimadas para a produção. "Ninguém deve comemorar queda de produção, mas mostra que a diretoria tem mandato [independente] do governo. Não é fácil cortar 40%", disse.

Na avaliação de Pires, o recado dado foi que o modelo de negócios pensado para a Petrobras em 2010, quando da mudança do marco regulatório da exploração de petróleo no Brasil, não deu certo para a empresa. Na época, o governo mudou a lei e determinou que a estatal seria a operadora única do pré-sal e que teria no mínimo de 30% de todos os blocos exploratório.

"Deixa claro que o governo precisa rever a política de óleo e gás no Brasil. A Petrobras enfrenta o desafio de reduzir dívida e aumentar sua liquidez. Não dá para fazer isso com a empresa do tamanho que estava. A empresa não estava dando conta", disse.

Pires citou também a questão do congelamento dos preços da gasolina no país, que não acompanhou altas no passado do preço do petróleo. A disparidade de preço entre o combustível comprado no exterior pela petroleira e o vendido no Brasil consumiu parte do caixa da empresa nos últimos anos. "Nesse ano não deve ter altas nos combustíveis, por conta da inflação e também da popularidade baixa do governo".

Ele considerou como importante o foco na exploração e o desinvestimento maior nas áreas de refino e distribuição. Pires afirmou que o plano de desinvestimento precisa ser melhor detalhado para que o mercado saiba exatamente o que está sendo posto à venda.

"A empresa poderia se concentrar na produção, que dá o maior rendimento, e liberar, por meio de venda de ativos, refinarias, terminais e dutos para a iniciativa privada".

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