O dólar voltou a subir nesta terça-feira (4) e fechou no maior patamar em 12 anos com a expectativa em torno de votações no Congresso que podem prejudicar o ajuste fiscal do governo. Declarações de um membro do banco central dos EUA apoiando a alta dos juros no país já em setembro também contribuíram para o avanço da moeda americana.
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O dólar à vista, referência no mercado financeiro, registrou alta de 0,80%, para R$ 3,4798. O dólar comercial -usado em transações no comércio exterior- subiu 0,31%, para R$ 3,465. Na máxima, ambos atingiram R$ 3,48. Tanto o dólar à vista quanto o comercial estão no maior patamar desde 20 de março de 2003.
Na Bolsa, as ações do Itaú Unibanco e de outros bancos pesaram e o Ibovespa, principal índice do mercado acionário brasileiro, fechou com desvalorização de 0,16%, para 50.058 pontos. O Itaú anunciou que seu lucro subiu 22,1% no segundo trimestre, mas registrou aumento do calote.
A retomada das votações no Congresso de projetos que podem causar impactos fiscais negativos para o governo pressionou o dólar no pregão, afirma Sidnei Nehme, economista e presidente da NGO Corretora.
Entre essas medidas estão a que revê a desoneração da folha de pagamento e a que amplia a correção do saldo do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) para os depósitos feitos a partir de 2016.
Há também a possibilidade de votação de outras pautas-bomba, após o rompimento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com o governo, em julho. Mas o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou que não pretende colocar em votação projetos que ameacem a economia.
"Em vez de ficar acuada pelo Congresso, a presidente Dilma Rousseff deveria fazer as reformas tributária e trabalhista, cortar ministérios. Assim, jogaria a pressão do ajuste fiscal sobre o Congresso", avalia.
Caso as medidas que comprometem o ajuste fiscal sejam aprovadas, cresce a chance de o país perder o selo de bom pagador concedido por agências de classificação de risco. E isso pressionaria ainda mais a cotação da moeda americana no Brasil, em um contexto em que o Banco Central já deixou claro que não vai fazer intervenções no mercado cambial para conter a alta da divisa.
O Banco Central realizou nesta terça-feira (4) a rolagem parcial dos contratos de swaps cambiais (equivalentes à venda de dólares no mercado futuro). Se mantiver o ritmo e realizar leilões até o penúltimo pregão do mês, como tem feito, o BC rolará 60% do lote total, fatia aproximadamente igual à rolagem dos contratos para agosto.
EUA
Também contribuiu para a alta da moeda americana declaração do presidente do Federal Reserve de Atlanta, Dennis Lockhart, que afirmou que a economia dos Estados Unidos teria de sofrer "uma deterioração significativa" para não apoiar uma alta dos juros em setembro.
"Lockhart é considerado centrista. Se mesmo ele já defende um aumento de juros em setembro, é provável que o Fed comece a elevar a taxa no próximo mês", afirma Luis Gustavo Pereira, estrategista da Guide Investimentos.
A taxa básica nos EUA está em seu menor patamar histórico, entre zero e 0,25% ao ano, desde 2008 -uma medida para conter os efeitos da crise.
O aumento dos juros nos EUA deixaria os títulos do Tesouro americano -cuja remuneração acompanha essa taxa e que são considerados de baixíssimo risco- mais atraentes do que aplicações em emergentes, como o Brasil, provocando uma saída de recursos dessas economias. Com a menor oferta de dólares, a cotação do dólar seria pressionada para cima.
Para Sidnei Nehme, porém, é prematuro falar em um aumento de juros neste ano. "Você nota que sai um dado positivo da economia e depois outro negativo. Os EUA estão com sinais fortes de recuperação. Se subirem os juros, valorizam o dólar. Com isso, a atividade exportadora perde atratividade e as importações podem aumentar", diz.
"Eu entendo que o governo americano não deseja uma alta dos juros neste ano, para não provocar uma contração na dinâmica de recuperação que eles já estão obtendo", destaca.
BOLSA
A queda das ações do Itaú Unibanco e de outros bancos levou o Ibovespa a cair nesta terça (4). Os papéis do Itaú tiveram desvalorização de 2,41%, para R$ 29,20, após o banco informar aumento do calote.
"Gostamos do resultado, mas a inadimplência traz um pouco de cautela, o que acabou contaminando outras ações, como as do Banco do Brasil. Em função de uma carteira de crédito acelerada nos últimos trimestres, o banco estatal pode ter uma piora da inadimplência", afirma Luis Gustavo Pereira, da Guide.
As ações do Banco do Brasil fecharam com queda de 3,55%, para R$ 21,45. Os papéis preferenciais do Bradesco caíram 1,51%, para R$ 26,03, e os ordinários se depreciaram 1,06%, para R$ 27,11.
No sentido contrário, as ações da Vale e da Petrobras subiram nesta terça. Os papéis preferenciais da mineradora avançaram 2,99%, para R$ 14,81. As ações ordinárias subiram 2,90%, para R$ 18,10.
Já os papéis mais negociados da Petrobras fecharam com valorização de 1,60%, para R$ 10,18. As ações com direito a voto subiram 1,18%, para R$ 11,11.