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Rebaixamento pode trazer desemprego a longo prazo, diz professor da USP

Segundo o professor, além das multinacionais, os fundos de ações deverão diminuir a aplicação de recursos em empresas brasileiras e nos títulos do governo

Da ABr
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Publicado em 10/09/2015 às 21:32
Foto: Camila Domingues/ Palácio Piratini
Segundo o professor, além das multinacionais, os fundos de ações deverão diminuir a aplicação de recursos em empresas brasileiras e nos títulos do governo - FOTO: Foto: Camila Domingues/ Palácio Piratini
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A perda do grau de investimento pela agência Standard & Poor's, anunciado nesta quarta (10), poderá aumentar, a longo prazo, o desemprego no Brasil. A avaliação é do professor de economia da Universidade de São Paulo (USP), Paulo Feldmann. De acordo com ele, a decisão da agência acentuará a retirada de investimentos de multinacionais no país.

“As multinacionais diminuíram e vão continuar a diminuir os investimentos. Com uma notícia como essa, essa decisão será acentuada”, disse em entrevista à Agência Brasil. “Os investimentos das empresas multinacionais quase sempre geram empregos. Em geral, são investimentos para aquisição de novas fábricas ou expansão das atividades já existentes”, acrescentou.

Segundo o professor, além das multinacionais, os fundos de ações deverão diminuir a aplicação de recursos em empresas brasileiras e nos títulos do governo. “Esses fundos têm, por norma, que levar em consideração essas avaliações das agências de rating. Provavelmente, vão aplicar muito menos no Brasil agora e, alguns, inclusive, vão retirar seus investimentos e suas aplicações, principalmente em ações de empresas brasileiras."

Feldmann considerou, no entanto, que a situação econômica brasileira não justifica a perda do grau de investimento anunciado pela Standard & Poor's. Segundo ele, a decisão foi política e pouco técnica. “Foi uma decisão política da agência, porque o Brasil não merecia isso. Tem países muito piores [que não perderam o grau de investimento]”, disse.

“O Brasil tem honrado todos os seus compromissos, tem uma dívida externa muito pequena, o endividamento sobre o PIB [Produto Interno Bruto] não é tão alto, pelo contrário. Se a gente descontar o que o Brasil tem de reservas, a dívida líquida brasileira é de cerca de 35% do PIB. É muito baixo. Foi uma grande injustiça e mostra que essas agências atuam sempre com conotação política”, acrescentou.

Porém, o professor ressalta que a situação econômica do país está “complicada” e falta uma ação mais eficaz dos ministros da área econômica. Feldmann destaca que o governo erra ao não reduzir a taxa de juros. “O Brasil vai pagar em juros quase 500 bilhões de reais [ao ano], o que é, mais ou menos, 7% do PIB brasileiro. Isso não existe em lugar nenhum do mundo. Mesmo países que estão muito mal, como a Grécia, não pagam tudo isso de juros”, disse.

Segundo Feldmann, a taxa de juros alta é uma das razões porque o governo não consegue fechar as suas contas. De acordo com o professor, se a taxa de juros caísse dos 14,5% atuais para 9%, a economia gerada seria de R$ 150 bilhões.

“É uma senhora economia. Na minha opinião, o governo está no caminho totalmente errado ao aumentar a taxa de juros, achando que, dessa forma, vai combater a inflação. Não combate, pelo contrário, a inflação está aumentando. Não está funcionando”, afirmou.

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