RIO E RECIFE – A crise financeira e política que o Brasil enfrenta tem um papel determinante na alta dos preços. A taxa, divulgada esta semana pelo IBGE, ficou em 10,48% nos últimos 12 meses e chegou aos dois dígitos pela primeira vez desde 2003. Totalmente associada às incertezas políticas do País, a valorização do dólar, que no mesmo período acumulou alta de 45,15%, teve forte influência na elevação dos preços.
A alta da moeda americana foi sentida na compra de insumos com custo ligado ao câmbio – como fertilizantes e máquinas e equipamento – e na concorrência com as exportações. Explica-se: com dólar mais alto, fica mais atraente para as empresas brasileiras vender para o exterior e a oferta se reduz no mercado doméstico, pressionando o preço dos alimentos, como no caso de arroz e carne. Para completar, os produtos importados ficam mais caros, também por causa do real desvalorizado ante o dólar.
“A pressão forte no preço dos alimentos é o câmbio, que está no adubo, nas máquinas. Recentemente, teve efeito de chuva, e também a questão do frete, por causa do aumento do preço do diesel. E também tem a influência de exportações. Como o dólar está alto, a concorrência é alta. O câmbio traz uma avalanche de aumentos”, explicou Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de índices de preços do IBGE.
Este ano foi caracterizado por fortes reajustes em itens monitorados, que são itens importantes e insubstituíveis para as famílias, como energia e taxa de esgoto. Houve aumento de combustíveis, que contaminam outros itens.
Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de índices de preços do IBGE
Grosso modo, o dólar está em registrando seguidas altas porque o Brasil não está oferecendo mais segurança a investidores. Como a dívida pública batendo recorde e a dificuldade para se aprovar o ajuste fiscal no Congresso (em função dos debates sobre impeachment de Dilma Rousseff e cassação de Eduardo Cunha), investidores preferem comprar dólar, um ativo seguro. Com isso, o preço da moeda americana se valoriza em relação ao real e alimenta a inflação.
A inflação de 2015, explicou Eulina, foi resultado de uma combinação de reajuste de itens importantes para o orçamento das famílias – como energia e combustíveis – com a alta do dólar, que afeta diferentes custos, em especial de alimentos.
“Este ano foi caracterizado por fortes reajustes em itens monitorados, que são itens importantes e insubstituíveis para as famílias, como energia e taxa de esgoto. Houve aumento de combustíveis, que contaminam outros itens. Além disso, o câmbio aumentou mais de 50% no ano, o que afeta alimentos e está presente em vários itens.
Metade da alta da inflação em 12 meses (51,34%) veio apenas de alimentos, energia elétrica e combustíveis. Da taxa de 10,48%, pouco menos de um terço (27,39%) veio de alimentos, 14,41% de energia elétrica e 9,54% de combustíveis.
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Nos 12 meses encerrados em novembro, os preços de alimentos subiram 11,56%, enquanto a energia elétrica teve alta de 51,27%. A energia teve individualmente a maior influência na alta do IPCA no período, com impacto de 1,51 ponto percentual dos 10,48%.
A coordenadora de índices de preços do IBGE explicou que, diferentemente de 2014, quando a inflação alta era resultado do aumento dos preços de serviços, em 2015 as razões são mais amplas.“Em 2014, a inflação subia via pressão de serviços, então a culpa era dos serviços. Nesse ano de 2015, essas culpas ficaram mais variadas, como a dos preços administrados e monitorados, que tiveram trégua no passado e agora subiram. Os fatores de causa da inflação se diversificaram.”
Considerado a inflação oficial no País, o IPCA acelerou de 0,82% para 1,01% na passagem de outubro para novembro.
É a maior taxa para o mês desde 2002, quando foi de 3,02%. O resultado veio acima do esperado pelo mercado. Analistas consultados pela Bloomberg News esperavam, em média, uma inflação de 0,95%, com estimativas entre 0,86% e 1,04%. No ano, a taxa é de 9,62%, mais alta desde 2002.