O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel, disse nesta quinta-feira (28) que o recuo no estoque de crédito brasileiro em março e no trimestre não era registrado para esses períodos desde 2000. Segundo ele, há uma persistência do cenário de escassez de demanda e falta de oferta por crédito.
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"Crédito continua expandindo, mas em ritmo menor", afirmou. De acordo com o diretor, um conjunto de fatores tem afetado confiança dos agentes, entre eles o quadro político. Para ele, a retomada do crédito passa pela recuperação da confiança.
Sobre o crédito direcionado, o diretor ressaltou que o maior impacto tem sido observado nos investimentos, especialmente o crédito concedido pelo BNDES. "O quadro de contração no mercado de crédito vem em linha com o nível de atividade, patamar reduzido da confiança", reafirmou.
Fatores
Tulio Maciel salientou que a desaceleração do mercado de crédito foi mais pronunciada do que de costume no início deste ano. Segundo ele, encabeçando a lista dos pontos que influenciaram esse resultado está, "sem dúvida", a atividade econômica. O técnico também citou a ampliação de incertezas com eventos não econômicos (como o BC e refere às questões políticas e eventos como a Operação Lava Jato) e o custo do crédito mais elevado já há algum tempo, como uma consequência do ciclo de aumento da taxa básica de juros, a Selic, que seguiram essa tendência também no mês passado.
Além disso, Maciel considerou que, especificamente em março, houve também fatores adicionais e pontuais, como a sazonalidade para o mês. Ele comentou que todo o início de ano o volume de financiamentos tende a ser menor e que isso não é diferente em março e que a tendência é de ampliação ao longo dos próximos meses.
O chefe do Departamento comentou ainda a valorização cambial vista no mês passado, que tem impacto importante em linhas tanto no segmento de crédito livre quanto no de direcionado.
Retração expressiva em 12 meses
Tulio Maciel comentou que o crédito para consumo no acumulado de 12 meses tem se retraído "de forma expressiva". Não há na nota do BC um tópico que trate especificamente deste tema, mas o técnico fez esta avaliação ao citar o resultado de itens como cartão de crédito parcelado, veículos e de aquisição de outros bens em março.
Maciel mencionou que o saldo do cheque especial apresentou queda de 1,4% de fevereiro para o mês passado e o do rotativo do cartão de crédito, de 1,8% no mesmo período. No caso de veículos, a queda foi de 1%. "Dados da Anfavea e da Fenabrave, percebemos números negativos de desempenho, tanto de vendas quanto de produção de veículos", mencionou.
No caso de crédito para empresas, Maciel lembrou que o financiamento de capital de giro responde por 50% da carteira de empréstimos para Pessoa Jurídica e recuou 0,8% em março na margem. "Isso não é apenas sazonalidade, mas ciclo econômico também contribui", observou. O chefe de departamento também destacou a queda de 10,9% de fevereiro para março de operações de crédito ligadas a repasse externo, salientando que a queda do dólar tem impacto direto sobre essa carteira.
Maciel disse também que continua a ser observado o crescimento do credito renegociado para Pessoas Físicas. De fevereiro para março, houve um aumento de 1,5%. "Isso tem sido uma tendência desde o ano passado. Claro que o juro mais alto e redução a renda estimulam renegociações", explicou. O BC não conta com um detalhamento do mesmo processo para as empresas. O técnico salientou, porém, que na modalidade "outros" há uma alta de 25% em 12 meses e nesta coluna há uma parte que trata de renegociação da dívida.