Assim que Daniel e Davi nasceram, seus pais, Harumy e Woney de Sousa, abriram uma previdência privada aberta para as crianças. Atualmente, eles têm 7 anos e 10 meses, respectivamente, e poderão usufruir do dinheiro quando tiverem 50 anos. “É um dinheiro sagrado. Eu e meu marido nos comprometemos a não mexer nas contas”, afirma Harumy. Já a bancária Jana Pires, 52 anos, aporta recursos na sua previdência privada há 15 anos. “Quero uma aposentadoria confortável aos 60. É um meio seguro de complementar a renda.”
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A preocupação com o futuro não é só de Harumy, Woney e Jana. Muitas pessoas estão recorrendo a alternativas para garantir uma aposentadoria digna devido à situação econômica complicada. Em 30 dias, o governo Michel Temer enviará ao Congresso proposta de reforma previdenciária, em que pode fixar idade mínima. A prioridade do governo é diminuir o rombo causado pela previdência. Trata-se de uma ação necessária para o futuro do País, mas é bom lembrar que, isoladamente, todos vão perder: ou ganhar menos, ou trabalhar mais. Ou ambos.
Além disso, o seguro pago pelo INSS é, quase sempre, inferior ao salário recebido durante o período na ativa. O máximo pago é R$ 5.082,89. No Estado, apenas 121 pessoas recebem esse valor, porque o cálculo do benefício leva em conta o tempo de serviço e a idade do segurado (mulheres devem completar 85 pontos e homens, 95). “O INSS é vantajoso, porque você contribui com pouco. A primeira regra de ouro é focar em contribuir o máximo com a previdência social para atingir o teto. Depois, pensar em fundos extras, como ações, títulos e imóveis, por exemplo”, explica o advogado previdenciário Paulo Perazzo.
A previdência privada é a opção mais comum para complementar a renda. Segundo a Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi), a contribuição em planos deste tipo somaram R$ 6, 47 bilhões em fevereiro deste ano. Em janeiro de 2016, havia 12.203.680 contratantes em todo o Brasil, sendo 9.165.429 individuais.
Este mês, entrou em vigor a Resolução 4.444 do Comitê Monetário Nacional, que amplia o leque de possibilidades de investimento no setor. Agora, é possível aportar 70% dos recursos em renda variável e 10% em ações no exterior. “O Brasil agora está no mesmo nível de países avançados, como os EUA e o Chile, no que diz respeito a investimentos de longo prazo”, afirma o presidente da empresa de previdência privada BrasilPrev, Paulo Valle.
Segundo o superintendente de Produtos da empresa, Sandro Bonfim, é importante começar a economizar o quanto antes e ter em mente um objetivo. “A primeira etapa para a poupança consciente é pensar no objetivo. Por exemplo: aposentar-se com dignidade ou abrir o próprio negócio. Quanto mais cedo começar, mais vantajoso será o rendimento. Disciplina é essencial”, diz.
Existem dois modelos de previdência privada. A fechada é criada por uma empresa para seus funcionários, em alguns casos a instituição contribui com R$ 1 para cada R$ 1 do empregado. Já a aberta conta com o Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL), que permite deduzir 12% do total tributável declarado no IR. Se você tem uma renda de R$ 100 mil por ano, R$ 12 mil vão para o fundo. Os tributos serão pagos no resgate do dinheiro. Este modelo é indicado para quem declara o IR completo. Quem é isento ou declara no formato resumido pode optar pelo Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL), em que não é deduzido nada e é possível investir mais de 12%. Os impostos só incidem sobre o valor dos rendimentos.
Há também as chamadas taxas de administração que, segundo Perazzo, não devem ser maior do que 1%.
Também é possível escolher a tabela de correção do IR. Na regressiva, a tributação diminui dois pontos percentuais a cada dois anos. Se sacar o valor em dois anos, paga 35%. Se fizer isso em mais de dez anos, paga 10%. Já na progressiva, o valor do imposto varia de acordo com a alíquota do Imposto de Renda, que vai até 27,5%.
No fim, o cliente pode escolher a forma como vai receber: de uma vez só, por meio de renda mensal temporária ou vitalícia. O professor de economia da Faculdade Guararapes e consultor financeiro, Roberto Ferreira, aconselha que o contratante defina um beneficiário em caso de morte. “Se o segurado morrer no período de receber o benefício, o contrato fica extinto e o dinheiro vai para a seguradora. É um risco muito grande.”
TÍTULOS
O modelo de previdência privada também recebe críticas devido a algumas limitações, como o baixo rendimento e o grande impacto das taxas de administração e de carregamento sobre a poupança. Existem outras formas de investir a médio e longo prazo para a aposentadoria, como em títulos e ações. Para isso, é preciso procurar apoio de consultores financeiros especializados.
Uma opção é a aplicação no Tesouro Direto, um programa administrado pela Bovespa que distribui títulos públicos do governo federal, como o NTN (Notas do Tesouro Nacional), cujo valor varia de acordo com o reajuste do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atrelado a juros. É um investimento de risco reduzido.
Já as Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e Letras de Crédito Agrícola (LCA) são isentas de Imposto de Renda. “Estes títulos são disponibilizados pelo banco e estão sendo muito demandados recentemente por essa vantagem. Existe um título chamado CDB (Certificado de Depósito Bancário, também emitido pelo banco), por exemplo, em que você tem que pagar 20% de Imposto de Renda sobre o lucro em um ano”, explica o diretor de Investimentos da Consultoria Financeira e Mercado de Capitais Finacap, Luiz Fernando Araújo.
O investidor também pode comprar debêntures, títulos de dívidas emitidos por empresas privadas. São mais rentáveis do que os títulos públicos, mas as empresas apresentam maior risco de não cumprir com o contratado, devido à inadimplência.
“Para gerir seu patrimônio de forma mais eficiente, ganhando rentabilidade, você deve diversificar o portfólio. Aportar parte do patrimônio em títulos públicos, em ações, crédito privado, LCI, LCA. Claro que deve tomar cuidado e investir pouco em títulos que apresentam mais risco, como as debêntures. Se começar cedo, procurar uma consultoria especializada e diversificar bem a carteira, vai ter um retorno razoável com risco baixo”, garante Luiz Fernando Araújo.