INFRAESTRUTURA

Investimentos em infraestrutura e indústria no Brasil seguem em queda

Mesmo com o plano de privatizações do governo e o fim da recessão econômica, a situação é negativa

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Publicado em 23/11/2017 às 16:42
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Mesmo com o plano de privatizações do governo e o fim da recessão econômica, a situação é negativa - FOTO: Foto: Agência Brasil
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De acordo com o recente levantamento concluído pelo Comitê de Análise Setorial (CAS) do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), os investimentos em infraestrutura e indústria no Brasil seguem em tendência de desaceleração nos próximos anos, apesar do plano de privatizações do governo e o fim da recessão econômica. O especialista em Projetos de Infraestrutura, Felipe Montoro Jens. destaca que, segundo o estudo, os setores preveem investimentos médios anuais de R$ 225,3 bilhões para o período de 2017 a 2020, o que significa um valor 7% inferior ao realizado em 2016, que foi de R$ 243,3 bilhões.

Na média do período, a infraestrutura deve atrair R$ 104,6 bilhões por ano. Em 2017, serão R$ 114,9 bilhões, 8% a menos do que ano passado, quando o valor foi de R$ 124,8 bilhões. Conforme a pesquisa, o valor seguirá em declínio nos anos seguintes, devendo recuar para R$ 97 bilhões em 2019. Em 2020, os investimentos devem ficar em torno de R$ 100 bilhões Em todos os anos, porém, deve permanecer abaixo do pico histórico registrado no ano de 2012, de R$ 162 bilhões

Felipe Montoro Jens explica que o levantamento do BNDES considera investimentos dos setores público e privado, e que são computados projetos iniciados ou planejados, identificados em contatos com empresas e associações dos dois setores. O mapeamento abrange 100% do setor de infraestrutura e 80% dos setores da indústria brasileira, reporta o especialista em Projetos de Infraestrutura. Na média dos últimos anos, a projeção apresentada pelo banco tem uma aderência de 95% em relação ao realizado.

O economista e diretor do BNDES, Carlos da Costa, acentua "Como o banco tem contato com cada um dos setores e das empresas, a gente tem uma ideia bem próxima do que eles pretendem fazer nos próximos anos. Parte desses projetos já foram iniciados, parte ainda vai começar. Mas a tendência da infraestrutura, infelizmente, é continuar em queda". Costa assumiu a diretoria das áreas de Crédito, Tecnologia da Informação e Planejamento e Pesquisa do BNDES em agosto deste ano.

Energia elétrica, telecomunicações, aeroportos, saneamento e mobilidade urbana são os cinco, dos nove ramos da infraestrutura acompanhados, que preveem menos investimentos nos próximos anos, salienta Felipe Montoro Jens. Destes, energia elétrica é o que mais deve investir ao longo do período com uma média de R$ 39,5 bilhões ao ano até 2020. O que, entretanto, é um valor 31% menor do que o investido em 2016 de R$ 56,9 bilhões.

Já na indústria, os investimentos devem somar R$ 120,6 bilhões na média anual para os próximos três anos, sendo um valor praticamente estável na comparação com 2016, quando o número foi de R$ 118,8 bilhões. Foram acompanhados 12 ramos, sendo que a atividade de petróleo e gás é a única que aponta para um crescimento relevante dos investimentos. De acordo com o estudo do BNDES, serão investidos R$ 71,3 bilhões ao ano até 2020, 15% acima dos níveis verificados no ano passado, que foram de R$ 61,8 bilhões, enfatiza o especialista Felipe Montoro Jens. Ainda assim, no entanto, esse montante é inferior à média verificada no quadriênio anterior, de R$ 89,5 bilhões, marcado pelo desenvolvimento da produção em campos do pré-sal e a construção de grandes refinarias pela Petrobras

A explicação para todas essas quedas, segundo economistas, está relacionada à falta de confiança de parte do empresariado com o futuro da economia brasileira e aos problemas fiscais dos governos. Também, apesar da recente melhora da produção, a indústria segue ociosa, adiando a necessidade de investimentos.
"Os empresários se endividaram há quatro anos porque acreditavam no país. Eles perderam dinheiro e agora estão parecendo cachorro mordido por cobra, que tem medo de linguiça", ilustra Carlos da Costa. Ele afirma, entretanto, que se houver um planejamento estratégico amplo, capaz de retomar a confiança dos empresários nos rumos do Brasil, esse quadro ainda pode mudar.

A sugestão de Costa é que o BNDES seja o "orquestrador" desse planejamento, oferecendo estudos, fórum de discussão e ambiente de articulação para que emerja essa nova visão sobre o futuro do país, finaliza Felipe Montoro Jens.

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