Agropecuária

A logística que atravessa estados para levar carne ao seu churrasco

Com estrutura logística que interliga criadores, abatedouros e vendedores em todo o País, Masterboi se destaca entre concorrentes internacionais

Da editoria de economia
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Publicado em 06/05/2018 às 11:31
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Com estrutura logística que interliga criadores, abatedouros e vendedores em todo o País, Masterboi se destaca entre concorrentes internacionais - FOTO: Foto: Agência Brasil
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CANAÃ DO CARAJÁS (PA) – São 7 horas da manhã e um funcionário da Agropecuária Umuarama, em Canaã do Carajás (PA), libera dois caminhões carregados, cada, com 18 bois das raças senepol e nelore. O destino é o município de São Geraldo do Araguaia, onde os animais serão abatidos. Na mesma hora, naquele município a 180 quilômetros a leste de Umuarama, 300 funcionários estão iniciando a jornada de trabalho, com a missão de processar a carne de 800 outros animais no frigorífico Masterboi, de onde saem para todo o Brasil e para mais 10 países – entre eles Singapura, que compra contêineres inteiros de vísceras, inclusive o vergalho do pênis do boi. No Recife, a 1.800 quilômetros de São Geraldo, na mesma hora, um promotor da
Masterboi se prepara para exibir num supermercado a nova linha de produtos destinada a churrasco, com destaque para a picanha, sonho de consumo do brasileiro. 

O personagem que une essas três atividades aparentemente diferentes é o empresário Nelson Bezerra. Exaçougueiro, ele começou sua empresa aos 16 anos, cortando carne no Mercado Público de Afogados. Hoje comanda, a partir de uma dezena de relatorias recebidos em tempo real pelo WhatsApp, uma companhia que em 2017 faturou R$ 1,3 bilhão e que briga, na prateleira, com os gigantes JBS e Magrif com uma marca que ele próprio criou e distribui do Norte ao Nordeste, do Centro-Oeste ao Sudeste. 

Bezerra entrou na atividade industrial de processamento de carne pelo caminho da distribuição. Sua empresa mãe é uma companhia focada na entrega dos produtos de terceiros ao cliente. A mercadoria inclui todos os tipos de carne, inclusive boi in natura, que as suas unidades industriais processam para açougues. A empresa mantém ainda hoje lojas próprias para a venda de seus produtos in natura, de forma que o consumidor possa decidir o que deseja levar para casa. 

Nos últimos anos, Bezerra começou a discutir com fornecedores de gado no Pará e no Tocantins, onde a Masterboi opera outra planta industrial, a viabilidade de estimular o melhoramento genético do animal abatido. Não é por intuição. Está fazendo isso a partir da procura pelo consumidor de uma carne mais marmorizada (gordura entranhada na fibra), de sabor mais apurado da que se tem hoje. O foco são animais de origem britânica criados em confinamento, entre eles os da raça angus, muito difundida nos programas de gastronomia da TV como ideal para grelhados.

O rebanho brasileiro (220 milhões de cabeças) para corte é essencialmente nelore, um gado de origem indiana de pelagem branca e pele preta com tolerância extraordinária ao calor, que se adaptou ao regime de pasto extensivo no Norte e Centro-Oeste do Brasil. Ali, além de pastagem de excelente qualidade, existe farta oferta de água, praticamente livre de doenças e cujo único componente adicional ao capim é o sal marinho. 

O nelore brasileiro é referência mundial de robustez, produtividade, adaptabilidade e facilidade de manejo para o criador. Sua carne é a preferida pelo consumidor brasileiro e internacional que deseja um produto orgânico. Mas na opinião de especialistas, ele “bateu no topo” em termos de genética para virar uma carne superior. Como todas as raças de sucesso no mundo, portanto, vai exigir a introdução de cruzamento mais acelerado com outras raças e desta vez por um fato novo: maior conhecimento do consumidor sobre o produto carne, cuja tendência adquiriu status de item de valor pelas marcas expostas na gôndola do
supermercado. 

Bezerra identificou essa demanda na ponta e aposta que, na medida em que o consumidor deixe de comprar carne cortada num açougue – ainda que no ambiente do supermercado – ele vai, cada vez mais, procurar marcas que assegurem qualidade e facilidade e sabor no preparo de alimentos de sua família. 

O que planeja fazer de diferente das concorrentes é “estimular”, via prêmio financeiro, a entrega de um animal de uma carcaça maior, com maior índice de gordura e menor tempo de vida, de modo que, na prática, se traduz em mais carne em menos tempo de engorda.

Melhorias

Para mostrar que a aposta é para valer, a Masterboi já está pagando R$ 10 por arroba ao produtor que entregue um animal diferenciado, de modo a estimular essa melhora. Além disso, a empresa firmou parceria com um tradicional melhorador genético (Grupo Adir), para a venda de sêmen da raça nelore. A meta da Masterboi é fazer com que ao menos dois milhões de animais com essa linhagem possam ser criados por produtores ligados à Masterboi.

“Estamos invertendo o processo”, diz Bezerra. “Em lugar de pedir que o produtor, por conta própria, melhore seu nelore, estamos pagando a ele por um boi melhor e que seja resultado de cruzamentos com novas raças”, diz. Ele conseguiu parceiros importantes e perto de seu frigorífico. O empresário Luís Pereira Martins, conhecido na região como Luís Pires, aposta no conceito. Mas quer melhorar o nelore cruzando-o com a raça senepol, desenvolvida na Ilha Caribenha de St. Croix. A diferença é que Luís Pires tem um plantel de 100 mil cabeças, 50 mil delas pastando na fazenda Umuarama, em Canaã do Carajás (PA), onde está desenvolvendo um acelerado programa de cruzamentos de novas raças, que já está começando a chegar para o abate na
Masterboi. 

Luís Pires também aposta na raça angus, cruzando-a com nelore. Mas ele está interessado em reduzir o tempo de engorda do seu plantel, mirando em 18 meses para todas as raças. “Vai levar um tempo”, diz o pecuarista, que já conseguiu descarte de animais com 22 meses com a qualidade pela qual Nelson Bezerra está disposto a pagar mais caro, especialmente com o uso do confinamento antes do abate. A importância de criadores como Luís Pires na região do Araguaia é estratégica, pelo efeito de
demonstração. Funciona como um indutor para um país como Brasil, cujo percentual de abate por ano é de 20%, um dos menores do mundo, quando nos Estados Unidos é de 30%. No Brasil, portanto, o boi passa mais tempo no pasto, aumentando o custo médio do animal para o criador

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