O primeiro dia da 20ª Feira Nacional de Negócios do Artesanato (Fenearte) deu bem a dimensão desse evento, que, em sua vigésima edição, cada vez mais se consolida como uma grande rodada de negócios em torno das artes.
Nessa quarta-feira (3), uma hora antes da abertura, já havia fila nas bilheterias do Centro de Convenções de Pernambuco. Às 14 horas em ponto, um público ávido por novidades já percorria os 800 estandes dos cinco mil expositores. São 27 Estados brasileiros, 82 prefeituras e 21 países representados na feira deste ano, que tem uma estimativa de público de 300 mil pessoas ao longo de 12 dias. Mais de 70% dos artesãos são pernambucanos.
Leia Também
A Fenearte é grandiosa. São 30 mil m² ocupados com estandes, espaços culturais e de oficinas, sem falar nos restaurantes e polo de cerveja artesanal. Não à toa, a Ciranda é o ritmo homenageado deste ano, com direito a livro publicado pela Cepe Editora e distribuído na feira para celebrar a arte do Mestre Baracho, falecido em 1988, Dona Duda e Lia de Itamaracá.
Circular, como a ciranda, é a movimentação financeira na Fenearte, que deve superar os R$ 43 milhões este ano. O investimento do governo do Estado para a realização do evento foi de R$ 5,5 milhões e a geração de empregos contemplou 2,5 mil trabalhadores temporários.
Existem peças a partir de R$ 2,50, como é o caso das pequenas peças de barro dos irmãos Elias e Sílvio Vitalino, netos do lendário Mestre Vitalino de Caruaru. Há também produtos mais sofisticadas, como o autêntico traje completo de vaqueiro, com gibão, peitoral, luvas e perneiras, que pode chegar a R$ 2.300 se feito por Irineu do Mestre, filho do consagrado artista do couro, Zé do Mestre, de Salgueiro. “Meu pai, hoje com 87 anos, já era famoso no Sertão quando participou da feira, há alguns anos, mas a Fenearte serviu para projetar o meu trabalho. Isso aqui é uma vitrine para o mundo todo.” Irineu diz que já vendeu 250 peças para um comerciante de Milão, na Itália, e já foi convidado pelo Sesc para dar uma oficina de costura em couro, em São Paulo.
Vendas
Por trás das cores das cerâmicas, das madeiras e dos tecidos, estão os números manipulados pelos artesãos. Mano de Baé, de Tracunháem, que herdou do pai o talento para trabalhar com a arte figurativa no barro, vendeu em poucas horas neste primeiro dia de Fenearte 59 peças. Ele preparou 200 e mobilizou família e amigos para dar conta do estoque. “Boa parte do nosso comércio é para galeristas, gente que faz encomenda para o ano todo. Essa é uma das coisas boas da Fenearte. A gente não vende só aqui, as vendas continuam depois que a feira acaba”, diz Baé.
Alameda dos Mestres
É na Alameda dos Mestres que a maioria dos comerciantes de artesanato faz suas encomendas para todo o ano. Esta aproximação entre empresários e artistas pode ser de maneira direta ou intermediada pelo Sebrae-PE, que mantém uma espécie de coworking dentro do pavilhão de exposições, para receber comerciantes e artesãos. O ambiente de 540 m² é preparado para dar mais conforto e privacidade tanto para quem pretende comprar quanto para quem pretende vender. Este ano o Sebrae mudou a mecânica dos encontros. Não há mais dia e hora marcados para as rodadas de negócios acontecerem. O espaço estará aberto durante o horário de funcionamento da feira para receber os negociadores a qualquer momento.
“Enviamos 41 convites a empresários de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Bahia, Minas Gerais, Amazonas e Rio Grande do Norte, que se cadastraram com interesse em objetos de arte e decoração para virem até a feira e comprarem diretamente dos artesãos”, diz Gabriel Cavalcanti, coordenador do espaço de rodada de negócios do Sebrae-PE. Em 2018, o Sebrae promoveu R$ 4,1 milhões em negócios diretos e realizados em até um ano após a conclusão da feira. Foram 503 encontros, entre 54 lojistas e 233 artesãos.
Miro dos Bonecos, de Carpina, é um dos artesãos que conhece bem a importância das rodadas de negócios. No ano passado, ele vendeu seus personagens baseados na arte do mamulengo, para um comerciante de São Paulo que comprou R$ 7 mil em peças. O balanço total do faturamento de Miro na feira de 2018 foi de R$ 21 mil. “Foi muito bom. Dividimos tudo em família, já que eu tenho ajuda do meu casal de filhos, que me ajuda na produção dos bonecos”, relembra Miro.