Em painel realizado pela Globo News no último sábado (10) para debater o tema ‘Política ambiental e desmatamento na Amazônia’, o ex-diretor do Instituto de Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão, disse ao atual ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que “nós [do Inpe] usamos as publicações científicas, não a balela que vocês usam, coisa de twitter”. Tal digressão é uma réplica às recentes críticas do presidente Jair Bolsonaro aos dados sobre desmatamento no Brasil.
Marcelo Brito, presidente da associação brasileira do agronegócio, também participou do programa.
Salles admitiu, ainda, a veracidade dos dados divulgados pelo Instituto. Mas complementa que, apesar disto, dão margem para “interpretações sensacionalistas”. “Eu não tenho dito que os números estão manipulados, mas que a forma de se apresentar os números estão. A imprensa teve acesso a isso antes do Ibama, um repórter sabia dos dados antes do próprio órgão. Isso é inadmissível”, disse o ministro.
Declarações de Bolsonaro
O ex-diretor do Inpe defendeu a pesquisa realizada pelo órgão. “O presidente da República chamou os dados do Inpe de mentirosos. Ele acusou todos os cientistas do Inpe de terem cometido crime de falsidade ideológica. Ele me acusa de estar a serviço de uma ONG internacional. Eu não sou uma criança, eu tenho uma respeitabilidade internacional enorme. O presidente da República me acusa. Não acha isso errado ministro?”, questiona.
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O ministro do Meio Ambiente defendeu Bolsonaro e afirmou que ele é “uma autoridade política que tem liberdades”. Criticou, ainda, a postura de Galvão por dizer que o presidente falava “como se estivesse falando em botequim” em entrevista.
TerraClass
No último bloco do programa, Galvão concordou com a sugestão de Salles em retomar o ‘TerraClass’, projeto do Inpe em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que tem como intuito o acompanhamento da regeneração de áreas desmatadas.
“O ministro tem uma crítica ao desmatamento que está correta. O Deter e o Prodes dão o dado de desmatamento da floresta nativa, mas não computam como foi a regeneração e utilização da terra depois. Nós deixamos de fazer [as análises do TerraClass] a partir de 2014 porque era um recurso do BNDES que deixou de ser passado ao Inpe. Eu, apesar das divergências com o ministro, considero muito boa a proposta dele de nós voltamos com o TerraClass”, concluiu.
Entenda o caso
Ricardo Galvão, ex-diretor do Inpe, rebateu às declarações afirmando, em entrevista, que presidente falava “como se estivesse falando em botequim, ou seja, faz acusações indevidas a pessoas do mais alto nível da ciência brasileira, não estou dizendo só eu, mas muitas outras pessoas". Isso é uma piada de um garoto de 14 anos que não cabe a um presidente da República fazer".
No último dia 2 de agosto, a exoneração de Galvão foi divulgada pelo governo. Segundo Galvão, a motivação de sua saída foi porque seu discurso em relação ao chefe do executivo gerou constrangimento.