A expansão da energia nuclear no Brasil prevê a conclusão de Angra III e a implementação de quatro novas usinas nucleares, segundo informações que devem fazer parte do Plano Nacional de Energia (PNE) 2050, que aponta diretrizes para o setor e que será lançado ainda este ano. “A definição da localização dos novos empreendimentos deve ocorrer a partir de 2021”, diz o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia (MME), Reive Barros. A previsão é que duas dessas unidades seriam instaladas no Nordeste e outras duas no Sudeste.
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As quatro usinas novas acrescentariam uma capacidade instalada de geração de 4 mil megawatts (MW). Ou seja, cada local escolhido receberia duas usinas com capacidade instalada para 2 mil MW. Para um empreendimento desse porte, o investimento estimado fica em torno de US$ 11 bilhões, o que corresponde a R$ 42,3 bilhões, com o dólar a R$ 3,85, cotação da última sexta-feira (14).
O Atlas Potencial Nuclear Brasileiro apontou mais de 40 áreas que poderiam receber as futuras usinas. “Existem áreas potenciais em Pernambuco, Bahia, Alagoas e Sergipe”, diz o presidente da Eletronuclear, Leonam dos Santos Guimarães, referindo-se ao Nordeste. “Itacuruba é um dos sítios com potencial que poderia ter estudos mais aprofundados”, cita. Localizada a 340 km do Recife, Itacuruba fica no Sertão do São Francisco e possui população de cerca de 5 mil habitantes.
A implementação desses empreendimentos vem sendo alvo de discussões do setor elétrico desde 2007. Na época, o então governador Eduardo Campos (PSB), que esteve à frente do Estado entre 2007 e 2014, chegou a dizer que poderia ser feita uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) alterando a lei que proíbe a implantação de usina nuclear no Estado antes de explorar todas as possibilidades de geração de energia por fontes renováveis. Em março de 2011, ocorreu o acidente na usina de Fukushima, no Japão, o que esfriou a discussão. Depois veio a crise econômica (2015-2017), que deixou o Estado sem recursos e postergou os investimentos.
O governo de Pernambuco informou, por nota, que desconhece estudo que cita Itacuruba como possível local de instalação de usina nuclear e “ressalta que a Constituição Estadual, através do Artigo 216, veda a instalação de usinas nucleares em todo o território pernambucano”. A nota também diz que é necessária “avaliação criteriosa” para “identificar de que forma o Estado pode exercer participação em prol do desenvolvimento energético do País”.
CONFIANÇA
Outra razão que justifica a expansão da energia nuclear é trazer mais confiança para o sistema elétrico brasileiro, segundo os técnicos. A nuclear é considerada energia de base: produz por grande parte do tempo ininterruptamente. A atual ampliação da geração do setor elétrico se baseia nas renováveis, como a eólica e solar, que são intermitentes e podem parar a produção, porque a matéria-prima de ambas depende da natureza. “Não há competição entre as renováveis e nuclear, porque cada uma cumpre papel diferente. Não há uma melhor do que a outra. O importante é o bom aproveitamento das renováveis e nuclear combinando da maneira mais inteligente para buscar a descarbonização do sistema elétrico o mais rápido possível”, resume Leonam. O Brasil está entre os 195 países que se comprometeram a reduzir as emissões de carbono.
Por exemplo, quando os parques eólicos ou solares param de produzir, várias térmicas – incluindo as que queimam diesel – começam a gerar energia para suprir o que não pode ser gerado pelas renováveis. As térmicas a diesel lançam emissões de carbono, que é poluente. As térmicas produzem energia mais cara do que as renováveis, contribuindo para alta na conta de energia.
A energia nuclear pode gerar riqueza e novas tecnologias. O Brasil possui a 6ª maior reserva de urânio (a matéria-prima da energia nuclear). “O impacto econômico gerado pelo Programa Nuclear Brasileiro é importante para um País que tem 13 milhões de desempregados. Essa expansão vai nos dar oportunidades para observar as externalidades econômicas que podem surgir”, afirma o superintendente da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Energia, Felipe Gonçalves.