O estudante Cristiano Epifânio ficou na 47ª posição quando fez o tradicional vestibular para o curso de Química da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que oferece 20 vagas. Com essa classificação, ele não entraria no curso. No entanto, os professores do Departamento de Química criaram a terceira etapa da seleção. A iniciativa possibilita a 60 alunos que obtêm as maiores notas cursarem as disciplinas de Introdução à Química e Introdução à Matemática durante um semestre. “Essas duas disciplinas funcionam como um novo vestibular. Os 20 primeiros colocados entram e os demais são reprovados”, explica o professor titular do Departamento de Química Fundamental, Alfredo Simas. Cristiano conseguiu ingressar no curso por ter se destacado nessa terceira etapa do vestibular.
A revisão de matemática e química de uma forma mais aprofundada é necessária, segundo Simas, porque o ensino do segundo grau de ambas é muito deficitário tanto na rede pública como na privada. “A química que se ensina no segundo grau é do período que vai de 1800 a 1940. Na terceira etapa, o aluno aprende a química antiga e a do século 21, incluindo, por exemplo, a nanotecnologia (segmento revolucionário da ciência)”, diz Simas.
Estudante de escola pública, onde cursou tanto o ensino fundamental quanto no médio, Cristiano viu na terceira etapa uma oportunidade. “Ela me preparou para a graduação. Aprendi muitos conceitos que não tinha estudado direito antes, como o da molaridade (que indica a quantidade de moléculas e átomos) e a mecânica quântica. Não tinha condições de acompanhar o curso sem esse reforço”, conta.
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Cristiano está no terceiro período de Química, é considerado um dos melhores alunos, tem uma bolsa de extensão e, na semana passada, apresentou o seu primeiro trabalho científico no 54º Congresso Brasileiro de Química. O caso dele não é isolado. Depois da terceira etapa, 50% dos alunos passaram a se formar em química e 7% nos demais cursos. Antes, 25% concluíam essa graduação e 12% terminavam outro curso superior.