Em pelo menos cinco municípios do Estado aumentaram em quase 10% as filas de pessoas nas agências do trabalho em busca de emprego ou para dar entrada no seguro-desemprego. Segundo a Secretaria de Trabalho e Qualificação (Sempetq), as unidades instaladas no Recife, Palmares, Bezerros e Arcoverde já registraram uma maior procura de pessoas em fevereiro. O aumento das filas é o resultado prático dos dados do mercado de trabalho que foram divulgados nos últimos dias e que mostram uma deterioração no nível de empregabilidade do brasileiro e também do pernambucano. Com o ajuste fiscal necessário para recolocar a economia nos eixos, a tendência são filas maiores.
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A rebordosa do emprego põe fim ao último argumento que sustentou o discurso do governo Dilma para manter o País afastado da bem-sucedida experiência internacional do tripé macroeconômico, que prega um regime claro de metas de inflação, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal. O nível de empregabilidade do Brasil, que por um momento pareceu estar no pleno emprego, sustentou a política do governo conhecida como “a nova matriz”. Com ela, o governo forçou a queda de juros e o controle do câmbio e, sem controle de gastos, deu incentivos fiscais temporários para a indústria e crédito subsidiado via BNDES. Como resumiu o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, em sua rápida passagem pelo Recife na semana passada, “a conta dos desacertos chegou”.
Segundo afirmou no debate de Geraldo Freire na Rádio Jornal, Dilma surfou nas baixas taxas de desemprego, apesar de o fenômeno ter sido uma combinação de processo estatístico com política social, mas não econômica. “Com a desaceleração do crescimento demográfico no País, o baixo desemprego se deveu à estabilização da força de trabalho. O jovem ficou mais tempo na escola e demorou mais para procurar emprego porque sua família manteve um nível de renda melhor, por conta de programas sociais e (da valorização) do salário mínimo”, disse. Ou seja, com menos gente procurando emprego, as vagas disponíveis vinham sendo suficientes para comportar a demanda.
O problema dessa situação, alerta o economista Jorge Jatobá, da Consultoria Ceplan, é que a renda do trabalhador começa a diminuir porque a atividade passou a desacelerar. Com isso, o salário dessa pessoa passa a ficar insuficiente para manter seus familiares. A tendência é que mais gente passe a procurar emprego, forçando para cima os percentuais de desemprego. A busca efetiva pela vaga num certo período de tempo, sem obter êxito, é um dos critérios adotados pelas pesquisas para classificar alguém como desempregado. “Não tenho dúvidas de que as taxas de desemprego vão subir. Além desse segundo governo (Dilma) herdar uma economia desestruturada na parte fiscal, as medidas de ajuste de Joaquim Levy (ministro da Fazenda), no curto prazo, são inflacionárias e recessivas. Se derem certo, no entanto, colocam a economia nos trilhos.”
Enquanto a expectativa de futuro é desanimadora, os números atuais já assustam. Na semana passada, o IBGE divulgou sua Pesquisa Mensal do Emprego (PME), que mostra um aumento no nível de desemprego, o pior desde 2011, inclusive na Região Metropolitana do Recife. Aqui, esse indicador passou de 6,4% em 2014 para 7% este ano. No Brasil, o desemprego também aumentou, assim como a renda caiu em 1,4%, sendo a primeira vez desde 2011 que isso acontece.
Outro dado preocupante foi divulgado há duas semanas pelo Ministério do Trabalho. Segundo os números consolidados do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged), foram fechadas 24.700 vagas de emprego em Pernambuco. Parte dessa conta, no entanto, é sazonal, mas isso não ameniza o tamanho do corte efetivado pelas empresas instaladas no Estado. “Se olharmos a tendência ao longo de quatro anos, o saldo (de vagas fechadas) aumenta. A tendência é de desaceleração”, diz Jatobá.
Outro indicativo disso está no comércio. Nacionalmente, a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) mostra que o volume de vendas vem desacelerando. Desde agosto a variação só diminui. Passou de crescimento (acumulado em 12 meses) de 3,7% em agosto de 2014 para 1,8% em janeiro deste ano. No comércio de carros, esse índice vem negativo desde então e fechou janeiro com uma venda 10,8% menor no acumulado de 12 meses. Com material de construção, a queda é de 0,6%.
Menos vendas, mais desemprego. Que o diga a auxiliar de cozinha Ralisse Cavalcanti. Ela foi demitida de um restaurante há dois meses. “O movimento caiu e as coisas estão mais caras. O patrão não conseguiu segurar e teve que demitir. Eu e mais cinco colegas fomos demitidos”, disse Ralisse. A inflação, aliás, é apontada pelo IBGE como um dos principais fatores para a redução da renda do trabalhador em fevereiro.