A redução no volume de vendas e na intenção do consumo das famílias, o desemprego e a falta de confiança na economia do País estão levando os lojistas a planejarem contratar menos funcionários temporários para o fim do ano – período de maior movimento no comércio. Segundo a Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) do Recife, essa redução pode chegar a 40% menos que o ano passado, quando esperava-se contratar reforço de 17 mil profissionais. Outro levantamento, da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em parceria com o SPC Brasil, mostra que a restrição se repete nacionalmente, já que nove em cada dez lojistas afirmam que não contrataram e não pretendem contratar no fim do ano.
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A baixa expectativa também se baseia nos números do período do Dia das Mães – segunda melhor data do ano para o comércio –, quando a contratação de temporários caiu 9% em relação ao mesmo período de 2014, segundo a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Pernambuco (Fecomércio-PE). “Para o fim deste ano acreditamos que a contratação seja nula ou igual ao ano passado, não deve haver aumento”, aponta o economista da federação Rafael Ramos. Ele destaca que, investir em pessoal neste momento de insegurança econômica poderia representar uma redução ainda maior na margem de lucros dos lojistas.
Segundo o economista, fatores como a grande desmobilização no setor industrial do Estado devem reforçar a queda de volume de vendas, que naturalmente diminuem com o aumento do desemprego. “Houve uma grande redução da renda das famílias no Estado em parte devido às demissões dos trabalhadores da indústria, que costumam ter um tíquete médio superior ao dos outros setores”, detalha Ramos.
Para o presidente da CDL Recife, Eduardo Catão, a contratação de funcionários temporários será iniciada mais tarde, o que tradicionalmente começa a acontecer nos meses de outubro. “O lojista deve retardar a contratação para o período, chamar aos poucos e apenas quando realmente for preciso, já que se o lojista não tiver preparado para atender os clientes pode acabar tendo prejuízo maior”, explica Catão. Segundo ele, já prevendo a redução dos temporários, muitas lojas passaram a investir no treinamento do próprio pessoal.
Isso é o que começou a ser feito desde agosto pelo Grupo RM, nas área de comércio e distribuição. “Queremos trabalhar com mais eficiência e um contingente menor. Estamos investindo para apresentar um diferencial e apostar nos nossos funcionários, já que, mesmo em anos normais, não absorvemos todos os temporários, acabamos treinando um pessoal que volta para o mercado”, diz o gerente comercial do grupo, Felipe Torres. A empresa espera contratar cerca de 20% profissionais a menos em relação ao mesmo período de 2014.
A empresa, no entanto, se enquadra em um dos dois setores do comércio que, segundo o IBGE, ainda apresentam desempenho positivo no volume de vendas. “O setor de cosméticos e farmácia continua indo bem porque as pessoas não podem deixar de comprar remédio. Já o setor de artigos comerciais domésticos apresenta um volume positivo tanto pelo grande misto de produtos que abrange quanto pelo tíquete médio ser baixo”, detalha o economista Rafael Ramos.
Pesquisa
Quase metade (49%) dos 1.168 lojistas entrevistados pela pesquisa realizada pela CNDL não irão contratar trabalhadores temporários para o fim do ano por acreditarem não ser necessário diante do baixo ritmo de vendas. “É o que chamamos de ciclo vicioso. O desemprego aumenta, as vendas caem e, com vendas em baixa, não se contrata”, resume o superintendente da CNDL, Everton Correia.
Para ele, a própria redução na contratação de temporários deve ter um impacto negativo nas vendas de fim de ano. “A crise afeta principalmente o emprego e o consumo, fazendo com que as famílias fiquem mais precavidas na hora de comprar e se endividar”, afirma. Para ele, a boa notícia vinda do comércio no fim do ano é que, se por um lado a contratação de temporários irá cair, espera-se um freio no aumento do desemprego.
A pesquisa foi realizada entre os dias 1º e 18 de setembro. “Como estamos falando de expectativas, pode ser que até o fim do ano possa ocorrer alguma diferença para cima ou para baixo. Mas achamos difícil que o quadro mude tanto”, explica a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.