Interrupções no fornecimento de energia elétrica têm trazido transtornos a indústrias da Mata Norte pernambucana. Na Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás), as falhas ameaçam o cuidado com o plasma utilizado como matéria-prima. Na Jeep, a fábrica chega a parar com as pausas de abastecimento.
Embora governo do Estado e Companhia Energética de Pernambuco (Celpe) afirmem que as interrupções são pontuais ou mesmo inexistentes, informações da Hemobrás e de pessoas que visitaram a Jeep nos últimos meses dão conta que os problemas são constantes.
Com uma conta média mensal de quase R$ 150 mil paga à Celpe, a Hemobrás registrou, de janeiro até o dia 15 de novembro, 116 horas sem energia na fábrica – o equivalente a quase cinco dias consecutivos.
Ainda de acordo com a estatal, ainda não houve perdas de plasma porque a fábrica possui dois geradores para suprir o consumo da câmara fria, mas “os problemas persistem, colocando em risco a matéria-prima utilizada na produção dos hemoderivados”, como diz o texto da nota enviada ao JC.
A 14 quilômetros dali, na fábrica da Jeep, empresários e autoridades são alertados quanto à possibilidade de faltar energia durante a visita. Foi o caso quando integrantes da Comissão de Desenvolvimento Econômico da Assembleia Legislativa (Alepe) foram à montadora. “Chegamos às 9h30 e já estava sem energia”, relata o presidente da Comissão, deputado Aluísio Lessa. Empresários consultados pela reportagem e que preferiram não se identificar também contam sobre falta de energia durante visita à empresa.
A Jeep – que espera a conclusão da licitação conduzida pelo governo do Estado de uma linha de transmissão de 230 kilovolts (kV) para aumentar o volume de energia para a fábrica – não se pronunciou.
REUNIÕES - O problema do abastecimento de energia elétrica foi levantado na semana passada, em uma audiência pública realizada na Alepe sobre a Hemobrás. Segundo o deputado Aluísio Lessa, a Comissão de Desenvolvimento Econômico vai solicitar uma reunião com a Celpe para tratar do abastecimento na estatal e na Jeep.
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A Hemobrás informou que tem mantido contato com a concessionária, que teria se comprometido a melhorar o fornecimento de energia elétrica para fábrica, mas “os problemas persistem”. Consultada pelo JC, a Celpe confirma que tem diálogo aberto com as empresas e que já analisa a situação. Contudo, a Celpe diz que avaliações preliminares indicam que se “tratam de relatos pontuais”.
Aparentemente, o problema não se estende a todo o polo industrial. Consultadas pela reportagem, a indústria de vidros Vivix e a fábrica de cervejas Itaipava (localizada no município vizinho de Itapissuma) afirmaram que não registraram falhas no abastecimento este ano. “A concessionária atuará na resolução específica de cada caso”, relatou a Celpe, na nota em que também cita os últimos investimentos: “Em 2014, a concessionária construiu três novas linhas de transmissão. Neste ano, a Celpe ampliou a capacidade da Subestação Goiana II e construiu mais uma linha de transmissão”.
Já em relação à Jeep, atualmente, a indústria é suprida por um linha de transmissão de 69 kV da Celpe. Mas não é suficiente. Tanto que o governo estadual está em uma nova tentativa de licitar uma nova linha, mais potente, de 230 kV, somente para a Jeep, para cumprir a promessa de fornecer toda a energia que a montadora precisa para seu funcionamento pleno. Além disso, a companhia já começou a montagem de seu segundo parque de fornecedores, que também ficará no polo de Goiana (o primeiro fica na área interna da fábrica).
No fim do ano passado, na primeira tentativa, somente a Toshiba demonstrou interesse e ofertou um preço acima do esperado. No início do ano, houve a republicação do edital, com previsão de um investimento de R$ 67 milhões para 12 meses de obras, mas também sem sucesso. No cronograma do certame atual, a abertura dos envelopes está prevista para o dia 15 do próximo mês.
A Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDEC), que cuida desse processo licitatório, também deverá se envolver na discussão de soluções para a Hemobrás. “Vamos fazer um encaminhamento para a SDEC, já que o Estado tem interesse direto no desenvolvimento da região”, acrescenta o deputado Aluísio Lessa.