A festa de muitos significou uma renda extra para um time de catadores que recolheram as latinhas durante o Carnaval. “A nossa estimativa é de que essa atividade tenha movimentado cerca de R$ 600 mil com a venda das latinhas em todo o Estado”, diz o diretor executivo da Associação Meio Ambiente Preservar e Educar (Amape), Sérgio Nascimento. Ainda de acordo com a entidade, o comércio das latinhas movimentou um valor estimado de R$ 500 mil em 2015 no mesmo período e Estado.
“O consumo aumentou e a latinha continuou com o preço bom”, explica Sérgio, se referindo ao aumento de 20% nas estimativas. “Fazemos esse trabalho com os catadores para que as pessoas entendam que o catador é quem evita que a cidade se torne um grande caos”, revela. Somente como exemplo, se as milhares de latinhas não fossem recicladas, elas estariam entupindo os aterros sanitários da cidade.
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No Carnaval, o apoio logístico oferecido pela Amape foi uma bolsa alimentação no valor de R$ 50 para cada catador e fardamento. A entidade tem um cadastro de 50 catadores que atuam, geralmente, no Bairro de Casa Amarela e proximidades. São cerca de 8 mil catadores em todo o Estado, sendo que metade deles trabalha na Região Metropolitana do Recife, segundo informações da associação. A outra metade trabalha nas demais regiões de Pernambuco.
Cerca de 2,5 mil catadores atuaram, em todo o Estado, durante o Carnaval. O catador Jeohvah Claudino Rodrigues trabalhou nos quatro dias de Carnaval e obteve uma renda de R$ 100 diariamente, o que ele considera “muito bom” já que o seu rendimento mensal é de um salário mínimo e meio.
“Recolhi as latas em Olinda. O quilo da lata é vendido por R$ 3,20, o mesmo preço do ano passado. Foi o único reciclável que não baixou de preço com a crise”, resume. Ele começou a trabalhar como catador há três anos depois de ser operado por causa de uma “hérnia”. Até então, trabalhava como pedreiro.
E o senhor recebeu a bolsa alimentação ? “Não, porque não preciso. Sou cadastrado também em outra associação que me dá uma cesta básica por mês. Levei duas moças para me ajudar no Carnaval. Esse dinheiro da bolsa ficou pra elas”, conta. Diariamente, Jeohvah recolhe os recicláveis de moradores no Alto do Mandu e Alto Santa Isabel, na Zona Norte do Recife. “Algumas pessoas juntam tudo que pode ser reciclável para entregar aos catadores, mas ainda são poucos”, comenta.
A Amape consegue os recursos que repassa para os catadores com a Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alta Reciclabilidade (Abralatas). “Às vezes, fazemos parceria com outras entidades”, afirma Sérgio Nascimento, diretor e único integrante da Amape. A entidade tem um ponto de coleta em frente ao número 4484 da Estrada do Arraial, em Casa Amarela. Lá, qualquer cidadão pode deixar material reciclável como latas de alumínio, embalagens de vidro, PET etc que serão comercializadas pelos catadores. “Aqui informamos o catador que ganhou dinheiro com o reciclável entregue localmente”, revela Sérgio que começou a fazer esse trabalho há 17 anos. “O catador é um parceiro da sociedade. Quando o catador melhora, a sociedade também melhora”, acredita Sérgio.
Iniciativas como a de Sérgio e a de Jeohvah contribuem para que o Brasil tenha uma posição de destaque na reciclagem de latas de alumínio. Em 2014, foram recicladas 98,4% de todas as embalagens desse tipo usadas pela indústria de bebidas do País, o que representou 289,5 mil toneladas do produto, de acordo com a Abralatas.
A reciclagem da lata faz com que a indústria tenha um custo menor na produção dessa embalagem. Nela é usada apenas 5% da energia, quando se compara com uma fábrica que transforma a bauxita (o minério) numa lata de alumínio, o que consome muita energia.