INFRAESTRUTURA

A redução da água em Sobradinho trará mais custos para a fruticultura

Somente os irrigantes do perímetro Nilo Coelho terão um custo a mais de R$ 1,5 milhão, caso o reservatório chegue ao volume morto

Ângela Fernanda Belfort
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Ângela Fernanda Belfort
Publicado em 31/08/2017 às 8:01
Foto: Marco Aurélio
Somente os irrigantes do perímetro Nilo Coelho terão um custo a mais de R$ 1,5 milhão, caso o reservatório chegue ao volume morto - FOTO: Foto: Marco Aurélio
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Maior reservatório do Nordeste, o de Sobradinho estava com 7,86% do seu volume útil anteontem. Há quase um ano, esse percentual era de 14,7%. “A nossa previsão é de chegar ao volume morto no fim de novembro, caso continue sem chover”, diz o diretor de Operação da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), João Henrique Franklin. Isso nunca ocorreu desde que o lago foi construído na década de 70. Se vier a acontecer, somente os 2.327 irrigantes do Perímetro Irrigado Nilo Coelho terão uma despesa a mais de R$ 1,5 milhão por mês. Esse será o custo para bancar o diesel a ser usado nos motores das bombas dos conjuntos flutuantes que vão captar a água, quando o lago chegar ao volume morto.

“Se os motores usarem energia elétrica esse custo deve cair pela metade e estamos fazendo um trabalho no sentido de sensibilizarmos os políticos para que as bombas sejam energizadas”, resume o gerente do Perímetro Senador Nilo Coelho (Dinc), Paulo Sales.

A escassez de água em Sobradinho e no São Francisco está deixando os produtores do Vale apreensivos. “Parei de aumentar o cultivo. Todo ano ocorria um crescimento da área entre 10% e 25%, mas há o medo de ficar sem água para a irrigação. Já estamos um dia sem irrigar, a quarta-feira. Guardadas as proporções, é como se o ser humano passasse um dia sem beber água”, diz o gaúcho e produtor rural Ricardo Cappellaro que tem uma área no perímetro irrigado Nilo Coelho, em Petrolina, há 50 quilômetros de Sobradinho. Geralmente, nessa época o empresário costumava contratar mais 100 funcionários, além dos 400 que trabalham na propriedade. “Com essa insegurança da água, não houve contratações novas. Ou chove ou estamos à beira de um colapso”, afirma. Ele cultiva 200 hectares com uva.

Principal produtor de uva e manga para exportação do País, o polo de fruticultura irrigada de Petrolina-Juazeiro é abastecido com a água de Sobradinho. “A produção vai baixar. Desde julho, temos um dia sem irrigar. Isso desorganiza o sistema produtivo. Não tem ninguém pensando em ampliar. E os agricultores de ciclo curto estão sem plantar, porque não sabem se terão dinheiro para fazer as adequações nas captações que implicam em mais despesas”, resume o presidente da Associação dos Produtores do Vale do São Francisco (Valexport), José Gualberto. As culturas de ciclo curto que estão deixando de ser cultivadas são: cebola, milho, melancia e feijão. E acrescenta: “um dia sem água significa 14% a menos de tempo sem irrigação. Geralmente, a uva é muito sensível tanto a falta de água como aos excessos.”

“Há duas semanas, começou o período mais quente. Um dia sem água com as temperaturas mais elevadas vai contribuir para diminuir a produtividade e a qualidade da fruta”, lamenta o produtor Marcos Iuri Alencar, que cultiva manga e uva no Perímetro Nilo Coelho.  Os produtores dizem que ainda é cedo para ter o percentual de redução que a escassez de água deve provocar na produção de frutas.

ENERGIA

Localizado na Bahia, Sobradinho pode acumular quase 70% da água a ser usada na geração de energia no Nordeste. O lago está com a menor vazão da sua história, liberando 600 metros cúbicos por segundo, enquanto a vazão ambientalmente correta é 1,3 mil metros cúbicos por segundo. Hoje, o reservatório de Xingó passou a ter uma vazão de 580 metros cúbicos por segundo, de acordo com informações da Chesf. Esse último reservatório fica na divisa entre Alagoas e Sergipe. Essa diminuição vai aumentar ainda mais o teor de sal nas águas do rio próximo a sua foz em Sergipe.
As chuvas que abastecem o São Francisco ocorrem em Minas Gerais e na Bahia. Lá, o período úmido começa em novembro e vai até maio. Essa região está passando pela maior estiagem em quase 90 anos, de acordo com dados da Chesf. A atual seca ocorre desde 2012.

O volume mais baixo que Sobradinho chegou foi 1% do volume útil em dezembro de 2015. Antes disso, o segundo menor armazenamento foi em 2001, quando ficou com 5% do volume útil e ocorreu, como consequência, o racionamento de energia.
O volume morto de Sobradinho pode comportar três meses de abastecimento com a vazão em 600 metros cúbicos por segundo.
“Se chegar ao volume morto, vamos parar de gerar energia em Sobradinho. Abriremos as comportas para que a água continue indo para o leito do rio”, diz João Henrique. Antes da atual estiagem, a Chesf gerava 6 mil megawatts (MW) médios. Atualmente, a produção média da estatal gira em torno de 20% a 25% desse total.

João Henrique argumenta que não vai faltar energia, porque há outras fontes garantindo o atendimento aos consumidores. Ele estava se referindo às térmicas e eólicas que estão produzindo mais energia no Nordeste. Atualmente também existem mais conexões, permitindo a transferência de uma maior quantidade de energia vinda de outras regiões.

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