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Estaleiro Atlântico Sul lança navio e faz cobrança à Petrobras

Indústria naval brasileira não está nos planos de investimento da estatal para os próximos anos

Luiza Freitas
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Luiza Freitas
Publicado em 23/12/2017 às 7:07
Foto: Felipe Ribeiro/ JC Imagem
Indústria naval brasileira não está nos planos de investimento da estatal para os próximos anos - FOTO: Foto: Felipe Ribeiro/ JC Imagem
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Em um momento simbólico e decisivo para sua sobrevivência, o Estaleiro Atlântico Sul (EAS) lançou na sexta-feira (22) ao mar seu 11º navio, batizado com o nome do poeta Castro Alves. A entrega é a primeira do modelo Aframax – petroleiro um pouco menor que os produzidos em Pernambuco até então – e a última de 2017, ano em que o empreendimento bateu os próprios recordes de produtividade. O teste de mar veio, ainda, um dia após a divulgação do plano de negócios da Petrobras para os anos de 2018 a 2022, período em que devem ser investidos US$ 74,5 bilhões. Desse total, não há previsão de aportes para a indústria naval brasileira. Enquanto isso, o EAS corre contra o tempo para garantir novas encomendas, já que a última entrega está prevista para 2019.

Após o período de teste de mar e acabamento, que deve durar de 60 a 70 dias, o EAS passa a ter garantidos apenas outros quatro navios até 2019, todos do modelo Aframax e para a Transpetro, subsidiária da Petrobras. Há, ainda, dois contratos pré-assinados para a produção graneleiros (embarcações de grande porte para transporte de mercadorias a granel).

Sem poder contar com novas encomendas da Petrobras, esse novo tipo de produto é a aposta de sobrevivência do estaleiro pernambucano. “Se a Petrobras continuar nos ignorando e sem nos dar a chance de mostrar o quanto nos tornamos produtivos, não vamos fechar as portas. Vamos conseguir novos clientes e encomendas, entregando navios com cada vez mais qualidade, fazendo a bandeira de Pernambuco tremular lá no alto”, afirmou o presidente do EAS, o Harro Burmann.

Outra opção para manter a atividade ainda seria conquistar uma das encomendas da Marinha do Brasil, que vai investir US$ 1,8 bilhão na construção de quatro corvetas, sendo a primeira entrega prevista para 2022. “O estaleiro até tem interesse, mas, para isso, é preciso mantê-lo funcionando até lá”, afirma o executivo.

A produtividade à qual Burmann se refere é consequência da capacidade de o estaleiro continuar produzindo, mesmo com menos trabalhadores. Em 2011, o EAS chegou a ter 11 mil funcionários. Hoje, são 3,6 mil. Desde 2014, quando o atual presidente assumiu o comando do estaleiro, a quantidade de horas-homem necessários para a construção de um navio caiu de 3 milhões para 1,8 milhão, e a produtividade média do Atlântico Sul passou de 300 horas-homem para 60 horas-homem.

CENÁRIO NACIONAL

Com isso, a expectativa do estaleiro é se tornar atrativo em um momento crítico para toda a indústria naval brasileira. Dos 42 estaleiros que integravam o novo momento do setor no País há pouco mais de dez anos, durante o governo Lula, apenas 12 ainda têm encomendas contratadas, segundo o sindicato das empresas do segmento (Sinaval). Dos que ainda estão em operação, dois são pernambucanos, o EAS e o Vard Promar. Mas ambos foram afetados. Durante esse período, as encomendas feitas ao Atlântico Sul pela Petrobras foram reduzidas de 29 para 15 embarcações. As últimas são os Aframax que estão sendo produzidos.

Para a indústria naval, um dos golpes mais duros foi o anúncio do plano de negócios da Petrobras, que abre espaço para a compra de navios produzidos em outros países. “Quando foi feito o projeto do estaleiro, as perspectivas eram outras, a Petrobras tinha o planos de fazer várias encomendas. E agora simplesmente a decisão é de comprar fora do país, enquanto estamos gerando empregos e pagando impostos”, critica o presidente do EAS, referindo-se principalmente às embarcações produzidas na China.

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