À revelia da estagnação da chamada economia real, os investimentos nas empresas de tecnologia continuam a crescer mesmo com os resultados negativos de empregos e investimentos que insistem em abater o País. Entre 2016 e 2017, somente em investimento anjo (voltado a startups em estágio inicial), o volume de negócios aumentou 16%, saindo de R$ 851 milhões para R$ 984 milhões. O problema é que enquanto os investimentos crescem, o ritmo de formação dos profissionais que atuam nesse mercado não segue a mesma evolução, e força muitos jovens já formados a colocar na balança a estabilidade trazida por uma empresa de grande porte e o espírito empreendedor que permeia as startups. Tudo isso em meio à disputa das empresas por mão de obra qualificada.
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O engenheiro de software Mateus Moury, 25, antes mesmo de concluir a formação em ciência da computação já tinha no currículo estágios em grande empresas como o Facebook e a startup pernambucana InLoco - que caminha para se tornar o primeiro unicórnio do Estado, quando avaliada em US$ 1 bilhão. Nessas primeiras experiências profissionais, a startup foi a que mais atendeu os desejos dele, tanto que mesmo tendo sido contratado pelo Google, decidiu abandonar o bom salário em troca da sensação de “impacto” que a sua atuação provocava na InLoco.
“Assim que acabei a faculdade fui contratado para trabalhar no escritório do Google em Belo Horizonte (MG). Por se tratar de uma multinacional de tecnologia, achei que iria encontrar grandes desafios técnicos de desenvolvimento de software, mas acabei sempre tendo a sensação de que por ser uma empresa muito grande, os problemas técnicos sempre já estavam resolvidos”, afirma o jovem. Embora no Google, além do salário, houvesse flexibilidade de horários e até mesmo participação do funcionário no plano de ações da empresa, Moury sentia que suas atividades eram engessadas.
“Eu não ganhava o conhecimento que queria em desenvolvimento de software. A velocidade dos desafios gerados na empresa era muito diferente de uma startup. E eu gosto de sentir que gero valor à empresa, que posso ser sempre testado”, reforça o engenheiro. Após um ano e três meses no Google, Mateus Koury pediu demissão e trilhou o caminho de volta à startup pernambucana, passando apenas duas semanas desempregado.
As empresas dos mais diversos setores têm cada vez mais demandado profissionais de TI e acirrado com empresas puramente de tecnologia e até mesmo startups a busca por qualificações que ainda continuam escassas no Estado. A exemplo disso, a auditoria e consultoria empresarial Deloitte, que não atua só no segmento de tecnologia, tem buscado inovar a rotina de trabalho e o ambiente físico da empresa para se tornar atrativa a esse tipo de mão de obra.
“Os jovens estão menos preocupados com carreira e pensam mais no propósito, em gerar algo de impacto relevante para a empresa e para a sociedade. A preocupação hoje é saber como ele vai estar envolvido nos processos da empresa, e por isso as multinacionais, assim como a Deloitte, estão buscando mais inovação”, diz o Financial advisory da Deloitte, Carlos Hunka. No escritório da empresa no Empresarial RioMar, será inaugurado no fim de maio uma universidade corporativa, unindo a experiência de mercado à aplicação do conhecimento para formação de profissionais.
Crescimento
De acordo com levantamento da Softex Brasil, de 2007 a 2017, o número de profissionais de TI atuando em empresas de outros setores saltou de 203 mil para 310 mil trabalhadores - crescimento de 52,91% no período. Isso não necessariamente significa que esse jovens estão deixando de empreender por medo da economia, mas reflete o vai e volta de profissionais do setor. “A gente tem hoje problemas quantitativos e qualitativos na formação de mão de obra em Pernambuco. E isso se converte em dificuldade para contratação tanto nas empresas caracteristicamente de TI, como as empresas de outras especialidades, porque há insuficiência no número de pessoas formadas”, aponta o presidente do Softex Recife, Alcides Pires.
Segundo ele, de 2015 para cá o número de contratações em TI no Estado cresceu 16%, mas sem acompanhamento do número de profissionais formados. “Não acho que a criação das startups foi afetada, mas é claro que é mais difícil para os pequenos negócios com a economia estagnada. Não temos números, mas é bem provável que para as startups esteja mais difícil conseguir mão de obra, porque a demanda está grande, até mesmo nas empresas mais consolidadas”, acredita Pires.
Investimentos
Dentre as oportunidade para aumentar o investimento em startups de Pernambuco, a Anjos do Brasil - especializada em investimentos nessas empresas - abriu em fevereiro seu primeiro núcleo regional no Estado. “Um dos motivos do núcleo aqui é congregar e atrair mais investidores. É natural que uma multinacional, com garantias melhores de salários atraia a meninada, porém há um retrato claro de que esse movimento é de ida, mas com volta, porque há vontade de empreender”, confirma o líder do núcleo pernambucano, Yves Nogueira. A Anjos do Brasil já conta com 16 investidores no núcleo regional e espera injetar pelo menos R$ 2 milhões em startups neste primeiro ano de atuação.
