A loja localizada no número 92 da Rua das Calçadas, no bairro de São José, poderia se chamar Casa do Carnaval. Conhecida do varejo pernambucano há 70 anos, a Casa Lapa comercializa – o ano inteiro – produtos para a confecção de fantasias da festa mais popular do Estado. Coroas de reis e rainhas, lantejoulas, miçangas, pedrarias, penas, aviamentos e tecidos disputam espaço num universo de cores e brilhos. O lugar é endereço certo de agremiações em busca de material para preparar o próximo Carnaval, enquanto os foliões ainda nem se recuperaram dos dias de festa.
As vendas diluídas ao longo do ano a escolas de samba, caboclinhos, maracatus, bois, ursos e blocos é tanta que se equipara ao volume comercializado aos foliões às vésperas do período momesco, quando o vuco-vuco mais parece um formigueiro. “Os campeões do concurso do Carnaval do Recife são geralmente os que mais compram. Mal recebem o dinheiro da premiação, já vêm gastar novamente porque querem fazer tão bonito quanto no ano anterior. A Gigantes do Samba, por exemplo, chega a vir na loja duas vezes por semana. Quando chega perto do Carnaval as visitas são quase diárias. Isso porque sempre falta alguma coisa e porque eles querem comprar exatamente o que precisam, sem desperdiçar. Os maracatus, tanto de baque solto quanto de baque virado, têm muitas peças artesanais e precisam preparar tudo com antecedência”, observa a gerente da Casa Lapa, Janaína Fernandes, com experiência de 19 anos na loja.
Habituada ao universo do Carnaval e do mercado de aviamentos, a comerciária diz que o varejo também precisa acompanhar as inovações. A cada ano as agremiações tentam trazer novidades para a passarela do Concurso do Recife, em busca de uma colocação no pódio. “No caso do maracatu de baque solto, já teve a tendência das lantejoulas holográficas, aquelas com efeito de strass; há dois anos teve a moda das cores cítricas tanto nas lantejoulas quanto nos chicotes (tiras metálicas coloridas usadas nos chapéus dos caboclos de lança); já teve também a ideia de usar paetê no lugar das lantejoulas e passamanaria branca (uma espécie de sianinha usada no lugar da lantejoula branca que separa as cores do desenho da gola). Em 2020, com o Galo da Madrugada vindo mais rústico, em homenagem à xilogravura e a J.Borges, estão procurando muito as cores rústicas, como marrom e amarelo canário”, adianta Janaína.
DÓLAR
A mais brasileira das festas tem cotação em dólar. Além da escassez de recursos, os grupos carnavalescos se queixam da alta nos preços. “A alta do dólar teve um grande impacto nos preços. Nessa época do ano, por exemplo, já era para termos feito nossa encomenda de penas, mas está tudo muito caro e estamos esperando como vai ficar. Outros produtos, como a lantejoula têm fabricação nacional, mas a matéria-prima é importada”, observa. Na semana passada, o dólar registrou alta de 1,63% e fechou cotado e R$ 4,15 na última sexta-feira (20). Uma das soluções tem sido oferecer pacotes promocionais, como o pacote de 100 gramas de lantejoula, que custa R$ 12,90 e equivale a cinco pacotes, enquanto um pacote com mil unidades é vendido por R$ 4,20, resultando numa economia de R$ 8,10. No Carnaval cada centavo faz diferença.