Não precisa envolver dois times pernambucanos. Não precisa ser clássico. Não precisa ser perto de estádios. A violência das torcidas organizadas hoje transcende fronteiras e não envolve mais apenas equipes locais. Isso por conta das coligações, que ameaçam o futebol pernambucano e brasileiro. O fato é que o poder público e a polícia têm conhecimento sobre elas há muito tempo e até agora o que fizeram não foi suficiente para detê-las. Enquanto isso, cenas de selvageria continuam se repetindo, como no último domingo, no jogo entre Santa Cruz e Remo, pela Série C.
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Antes de a bola rolar, várias brigas ocorreram nas imediações do Arruda, inclusive cenas de espancamento, que fizeram três vítimas darem entrada no Hospital da Restauração. Dois seguem em estado grave (ver matéria na página 3). Em um vídeo enviado ao Jornal do Commercio, um torcedor trajando camisa azul escuro foi agredido covardemente por aproxidamente 20 pessoas na rua Cônego Barata, na Tamarineira, Zona Norte do Recife. O episódio expôs novamente as coligações entre as torcidas organizadas já que, segundo a polícia, a torcida do Pará foi “turbinada” com integrantes da Torcida Jovem do Sport, com a qual é coligada.
#JCEsportes Briga entre torcidas organizadas na tarde deste domingo (8), na rua Cônego Barata, na Zona Norte do Recife. pic.twitter.com/pG8a041mKH
— Jornal do Commercio (@jc_pe) 8 de julho de 2018
Vale a pena relembrar que a maior tragédia do futebol pernambucano foi registrada em situação semelhante. No jogo entre Santa Cruz e Paraná, pela Série B de 2014, um vaso sanitário foi arremessado da arquibancada do Arruda, atingindo e matando Paulo Ricardo Gomes, que era integrante da Jovem do Sport, parceira da uniformizada paranista.
Nesta geografia de coligações violentas, os limites dos Estados não impõem limites para as organizadas. Fronteiras são transpostas com a mesma facilidade com que elas transpõem as medidas para tentar controlá-las. Assim, as principais facções pernambucanas, Inferno Coral, Torcida Jovem e Fanáutico, que, inclusive são proibidas de entrar os estádios, continuam não só indo aos jogos de seus times, como também, ajudando a “fazer volume” nas arquibancadas em partidas de organizadas aliadas.
COLIGAÇÃO
“O problema maior são as coligadas. A Remoçada é coligada da Torcida Jovem do Sport. Então, quando eles vêm para o Recife jogar com o Náutico e o Santa, a Jovem se alia com a Remoçada e o abacaxi está pronto. Isso é normal. Houve um jogo do Santa em Belém, houve um abacaxi e o confronto lá. Aqui foi a represália”, relatou o delegado da Delegacia de Repressão à Intolerância Esportiva, Paulo Moraes.
O fato citado pelo delegado no Pará aconteceu em maio deste ano. Na ocasião, um grupo de torcedores do Remo fez uma emboscada a torcedores que desembarcavam no aeroporto de Belém. Um tricolor acabou sendo espancado. Apesar de bastante machucado, o homem escapou com vida.