Souleymane, vítima do incidente racista protagonizado por torcedores do Chelsea no metrô de Paris, disse nesta sexta-feira em entrevista à AFP que estava "orgulhoso" com a repercussão do caso e esperava uma "conscientização" da sociedade.
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"Muitas pessoas de cor enfrentam este tipo de incidentes. Isso precisa parar", sentenciou o franco-mauritano de 33 anos, que não quer divulgar o sobrenome para evitar expor sua família.
O incidente foi flagrado em um vídeo gravado na última terça-feira, poucas horas antes da partida do Chelsea contra o Paris Saint-Germain, pelas oitavas de final da Liga dos Campeões.
Nas imagens, divulgadas no site do jornal The Guardian, é possível ver um grupo de torcedores dos 'Blues' empurrando com força duas vezes um homem negro que tentava subir no vagão de metrô, aos gritos de "Somos racistas, somos racistas e gostamos disso".
A vítima já prestou queixa numa delegacia da capital francesa, e o ministério público de Paris abriu uma investigação, recebendo logo em seguida o apoio de Scotland Yard.
"Espero que um caso como esse ajude a sensibilizar as pessoas, para que haja uma verdadeira conscientização", afirmou Souleymane.
"Quando fui empurrado para fora do metrô, me senti perdido, estava totalmente perdido. Entendi na hora que tratava-se de um ato racista, mas o que poderia fazer?", lamentou.
'Rosa Parks às avessas'
"Hoje, ainda estou com raiva. Já fui vítima de várias ofensas racistas nos últimos anos, mas, felizmente, desta vez, alguém filmou a cena", lembrou o pai de família, que tem três filhos e mora no Val D'Oise, distrito do subúrbio de Paris.
"Se o vídeo não tivesse sido divulgado, eu teria que engolir minha raiva, como sempre. Agora, quero que justiça seja feita", completou.
"Queremos que o caso seja julgado na França. Precisa virar um exemplo, para que as pessoas comecem a refletir sobre suas atitudes e o impacto de suas declarações", pediu Jim Michel-Gabriel, advogado da vítima.
"O que Souleymane viveu, foi Rosa Parks às avessas. Pediram para Rosa Parks sair do ônibus, e ele tentou entrar no metrô. E isso aconteceu em 2015, em Paris", lamentou o advogado.
Rosa Parks se tornou o símbolo do movimento dos direitos civis contra a segregação racial nos Estados Unidos, quando recusou-se, em 1955, aceder seu assento a um homem branco num ônibus de Montgomery, no Alabama, como previa o regulamento da empresa de transportes públicos.
O Chelsea já identificou cinco suspeitos de ter participado do ato racista. Eles foram proibidos de entrar no estádio Stamford Bridge por tempo indeterminado, e correm risco de serem banidos para sempre.
O incidente gerou inúmeras reações de repúdio no mundo do futebol e da política, sendo condenado, entre outros, pelo presidente da Fifa, Joseph Blatter, ou o premiê britânico, James Cameron.