VIOLÊNCIA

Briga de torcidas organizadas no metrô do Recife acaba em morte

Confronto entre integrantes de torcida do Sport e Santa Cruz ocorreu na noite de sexta (7) na estação do Barro.

Leonardo Vasconcelos
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Leonardo Vasconcelos
Publicado em 11/07/2017 às 15:07
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Confronto entre integrantes de torcida do Sport e Santa Cruz ocorreu na noite de sexta (7) na estação do Barro. - FOTO: Divulgação
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Atualizada às 17h46

Um dia antes do confronto entre torcidas do Flamengo e Vasco da Gama, em São Januário, no Rio de Janeiro, no sábado, que acabou com a morte de um torcedor e diversos feridos, chamando a atenção do Brasil e do mundo, Pernambuco também registrou um caso semelhante. Também com uma morte. E quase ninguém soube. Um silêncio que não esconde o lamentável fato de mais uma vez o Estado ser marcado pela violência das torcidas organizadas.

Na noite da última sexta-feira (7), por volta das 22h, após o jogo entre Santa Cruz e Brasil de Pelotas (RS), na Arena de Pernambuco, houve um grave confronto na estação do Barro do Metrô do Recife (Metrorec). A informação foi confirmada pelo coronel aposentado da Polícia Militar e ex-comandante do Batalhão de Choque, Luiz Meira, que assumiu a segurança do órgão no começo deste ano.

“De fato, houve sim esse confronto. Ele começou do lado de dentro da estação e acabou do lado de fora. As informações repassadas deram conta de que foi uma briga marcada entre integrantes de organizadas. O grupo do Sport veio de outra estação e se encontrou com o do Santa Cruz na estação do Barro”, afirmou Meira.

Um vídeo enviado para o Jornal do Commercio mostra dois homens feridos no chão da rampa que dá acesso a estação do Barro. Uma das vítimas ainda não foi identificada. A outra é o integrante da Torcida Jovem do Sport, Mateus Lira da Silva, de 19 anos. Ele foi socorrido pelo Samu inicialmente para o Hospital Geral de Areias e em seguida para o Hospital da Restauração. Ele sofreu traumatismo craniano e morreu na tarde de sábado (8). O enterro foi no domingo, no Cemitério do Pacheco, em Jaboatão dos Guararapes.

Em entrevista à TV Jornal, o tio de Mateus, que não quis se identificar, informou que o sobrinho saiu de casa em Cavaleiro, Jaboatão dos Guararapes, onde morava, por volta das 19h30. “Ele saiu com os amigos para uma festa da torcida Jovem, que ele fazia parte. O nome da festa é ‘Sexta-feira maluca’ e acontece toda sexta no Centro do Recife. Depois é que soube que foram para o metrô e se encontraram com a Inferno Coral”, contou.

Um amigo, que também não quis se identificar e estava com Mateus, admitiu que o “encontro” não foi por acaso. “Nós fomos para o metrô para esperar a torcida do Santa Cruz sair do jogo. A gente foi pra lá pra entrar em confronto sim. Isso acontece com frequência”, disse. No entanto, os rubro-negros foram surpreendidos pelo grande número de tricolores. “A galera da Inferno tava em maior número. Mateus foi cercado e foi espancado. Deram nele com barrote, lixeira. Bateram muito na cabeça com socos e pisadas. Eu consegui ainda correr, mas quando voltei vi ele lá no chão agonizando. Daí a gente levou pro hospital”, afirmou o amigo.

METROREC

A Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) também confirmou o confronto por meio de nota oficial. “A CBTU Recife informa que acionou a Polícia Militar por volta das 22h, na noite desta sexta-feira, 07, para conter uma briga entre torcedores do Santa Cruz e Sport, na Estação Barro que resultou em dois torcedores feridos. Não há registro de óbito na estação”, informou a nota enviada ao JC.

Luiz Meira, que sempre se posicionou contra as torcidas organizadas e prometeu linha dura contra elas, criticou mais um episódio de violência no Estado. “É lamentável você ver aquelas cenas de brigas no Rio de Janeiro e aqui também. Desde o começo do ano estamos trabalhando para zerar essas ocorrências no metrô e aí você vê um caso desse com a torcida de um time (Sport) quem nem jogou no dia. Não tem nada a ver com a partida. Eles marcam de brigar, mas não podemos ficar reféns. É por conta disso que as pessoas não estão indo mais para os jogos”, reclamou o coronel aposentado. De acordo com o Metrorec, somente no ano passado, houve um prejuízo de mais de R$282 mil em danos causados nas datas com partidas. Segundo o levantamento do órgão, foram danificados 146 janelas, 77 portas, 5 parabrisas e 7 basculantes em 2016.

POLÍCIA

O caso já está sendo investigado pelo Departamento De Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP). Uma equipe do departamento, inclusive, esteve no Metrorec na manhã de segunda (10) para colher mais informações sobre o ocorrido e obter as imagens do confronto na estação do Barro. O caso está sendo investigado pelo delegado Gilberto Loyo que até o momento ainda não atendeu as ligações da reportagem.

Procurada pelo JC, a assessoria de comunicação da Polícia Civil se limitou a por e-mail informar apenas na tarde de segunda (10) que  "abriu inquérito, está investigando o caso e falará em hora oportuna". Procurada novamente pela reportagem nesta terça (11) a assessoria disse o seguinte: "A polícia está trabalhando, as investigações avançando. Mas, ainda é cedo para qualquer pronunciamento. Vamos falar no avançar do inquérito". 

TORCIDA JOVEM

Por meio do seu perfil no Facebook, a Torcida Jovem emitou uma nota lamentando o ocorrido e por conta disso adiando uma festa do grupo: "deixamos nossas sinceras condolências e sentimentos aos familiares e amigos do Mateus, componente da nossa entidade que faleceu na noite de ontem (07/07)". Vários integrantes se manifestaram na referida postagem. A maioria desejando força à família de Mateus. Todavia, alguns prometeram vingança. “Até quando? Já vários manos da jovem que se vão mortos por esss filhos da p... Vocês não tem vergonha não é? Vai ter justiça sim! Vai ter que morrer lá também!”, escreveu um torcedor.

 

DOSSIÊ

Há um ano, no dia 10 de julho de 2016, o JC publicou uma série de reportagens especiais sobre a atuação das torcidas organizadas em Pernambuco a partir de 2001, ano da primeira morte em consequência dos confrontos. O material mostrou que nos 15 anos seguintes as ações desses grupos foram devastadoras. Desestruturaram famílias, interromperam sonhos e alteraram rotinas. Outros temas abordados foram a ineficiência das ações do poder público, a origem e descontrole dos grupos no Estado e o caminho para a solução do problema.

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