As concussões, como são chamadas as contusões cerebrais que ocorrem após pancadas na cabeça, se tornaram uma preocupação real no futebol. Levantamento feito pela CBF apontou que tais pancadas são a segunda maior incidência de lesões no futebol nacional, somente atrás de lesões musculares. Assim, a entidade instituiu no segundo turno do Campeonato Brasileiro um protocolo obrigatório que os médicos dos times precisam seguir quando um jogador sofre uma concussão. "As concussões empatam com lesões nos joelhos e só ficam atrás das lesões musculares", explica Jorge Pagura, presidente da comissão de médicos da CBF.
Para Pagura, o aumento da incidência de concussões no futebol se dá pelo fato de o jogo estar mais veloz e os jogadores mais altos. O médico diz que por ser uma preocupação nova no futebol, ainda não há um comparativo internacional para saber se o Brasil tem mais ou menos concussões no futebol do que outros países.
A CBF já tinha há alguns anos uma diretriz para os médicos ficarem de olho nas concussões, seguindo as recomendações da Fifa, mas não eram obrigados a assinar um documento oficial sobre o assunto. "Uma coisa é falar que não aconteceu nada, outra é preencher um formulário e assinar como médico", diz Pagura.
Para o médico da CBF, a criação do protocolo faz com que os médicos dos clubes se habituem com a situação. "É uma forma de educar, de fazer com que os médicos pensem seriamente no problema de concussão. Você vai criando um hábito."
COMO FUNCIONA
A CBF juntou dois documentos oficiais da Fifa sobre o assunto, o Concussion Recognition Tool 5 (CRT5) e o Sport Concussion Assessment Tool (SCAT5), em um formulário único O médico do clube assina os dados do jogador e como aconteceu o choque. Após isso, o médico faz a avaliação de 11 sinais de concussão, sendo que quatro são destacados em vermelho como sinais inequívocos e determinam a retirada imediata do jogador de campo e ida ao hospital. São eles: perda de consciência, convulsão, no solo sem se movimentar e marcha instável com cabeça baixa.
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Caso os sinais sejam inconclusivos, o médico aplica um teste de memória para determinar as funções cognitivas do jogador. O questionário tem perguntas básicas para saber se o atleta sabe onde está, contra quem estão jogando e o nome do treinador. Se acontecer confusão mental em algum desses pontos, o médico é obrigado a informar ao técnico para retirar o jogador de campo.
Como ainda não há um médico neutro nas partidas para analisar os casos de concussão, os profissionais dos times entregam os formulários para os oficiais de antidoping da CBF presentes no fim da partidas. "No futuro, o nosso desejo é instituir um médico neutro para avaliar esses casos e receber os protocolos, parecido com o que acontece na NFL (liga de futebol americano dos EUA)", fala Pagura.
Segundo o diretor médico da CBF, os casos de concussão são analisados quinzenalmente pela entidade para saber se os médicos estão cumprindo o protocolo. "Os médicos são funcionários dos clubes, mas são profissionais da saúde acima de tudo, então eles precisam priorizar a saúde dos jogadores em detrimento do jogo", afirma.
Até agora, o novo protocolo de concussões foi utilizado pelo menos oito vezes no levantamento preliminar feito pela CBF. Pagura cita o caso de Zé Rafael, meia do Palmeiras que foi retirado de campo após choque com Tadeu, goleiro do Goiás, no dia 9 de setembro. "O protocolo foi seguido à risca pelo médico do Palmeiras."
Para 2020, o novo protocolo de concussões será instituído em todas competições organizadas pela CBF e Pagura afirma que já está conversando com as federações estaduais para colocá-lo em prática também nos torneios regionais no ano que vem. Pensando a longo prazo, Pagura espera que a educação continuada sobre concussões leve a mudanças mais profundas nas regras do futebol, como a instauração de uma quarta substituição nestes casos. "Estamos trabalhando com o Leonardo Gaciba na comissão de árbitros e temos apoio da Conmebol para fazer esse pedido à IFAB (a International Board, órgão internacional que regula as regras do futebol) nos próximos anos."