De todos os mais de mil gols do rei Pelé em sua carreira, o torcedor alvirrubro pode se orgulhar, ou quem sabe lamentar, a depender do grau de desprendimento: nenhum deles foi marcado no estádio dos Aflitos, que será reaberto no próximo domingo. Em sua única oportunidade nos gramados da Rosa e Silva, no dia 4 de outubro de 1957, o então garoto de quase 17 anos era tido como grande nome do futebol nacional, já convocado para a seleção brasileira.
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A imprensa da época aguardava ansiosa a chamada “temporada” em solo pernambucano. Seriam, inicialmente dois jogos, contra Sport e Náutico, respectivamente. “O Santos apresentará todos os seus astros famosos, onde pontifica em primeiro plano o extraordinário Pelé, apontado como a maior revelação do momento, no football brasileiro. A apresentação de Pelé, no Recife, começa a empolgar a torcida”, dizia o Jornal do Commercio na semana da partida.
A expectativa para o jogo contra o Timbu também era grande. Afinal, o alvirrubro era tratado como poderosa força regional. “Este jogo poderá se constituir um espetáculo dos mais sensacionais, pois não se pode negar os predicados técnicos das equipes em choque.”
No primeiro jogo, terminado em 1x1, que pouco deve interessar ao mais vermelho e branco torcedor, Pelé deu “show”, sendo classificado como a “vedette” do espetáculo. Porém, o rei não se criou em campo timbu.
Também não foi o Náutico a dar grande espetáculo aos presentes nos Aflitos naquela noite de sexta-feira e empate sem gols. “Fraca exibição dos visitantes - padrão vistoso, mas improdutivo dos locais”, chamava o JC no dia seguinte, citando que o alvinegro jogou mal, não agradando o público, que deixou uma bilheteria de mais de 140 mil cruzeiros. Um futebol “miúdo e improdutivo”.
O jogo se desenvolveu pelo meio de campo, com um Pelé bastante apagado e “ligeiro” domínio alvirrubro. Também sem grandes jogadas nas áreas. “Ficou assim a torcida privada de emoções, num choque entre duas equipes categorizadas que poderiam oferecer um desempenho muito melhor”, dizia o relato da partida.
Mas, onde estaria o menino que viraria rei? “Pelé foi duas ou três vezes jogado ao terreno e daí para a frente nada mais produziu. Em síntese, o poderoso esquadrão visitante não satisfez ao torcedor pernambucano”, analisava o repórter que testemunhou o embate.
Por outro lado, se o que interessa ao torcedor alvirrubro é o Náutico, eis o que pode-se dizer do desempenho naquela noite de mais de 60 anos atrás. Além de desperdiçar duas chances de gol no primeiro tempo, dominou as jogadas. Porém, perdia facilmente a posse. “Poderia ter vencido o interestadual de ontem se os seus integrantes tivessem mais peito, mais agressividade, mais experiência”, listava a reportagem.
FICHA TÉCNICA
Em campo, o Timbu jogou com Cazuza; Caiçara, Garcia e Nenzinho; Capareli e Zequinha, Miguel (João do Vale), Douglas, Marzinho, Paulinho e Zezinho. Do lado santista, fica um buraco na carreira do melhor jogador já visto. Com gols da Vila Belmiro à Suécia, houve um lugar em que Pelé não teve o gostinho de balançar as redes. Bem no número 1086 da Avenida Conselheiro Rosa e Silva. O estádio dos Aflitos.