Torcida

Promotora revela 'lei do silêncio' entre torcidas organizadas de São Paulo

Denúncia feita pela promotora fez com que 14 integrantes da Gaviões e 11 da Mancha Verde se transformassem em réus do processo

Da Folhapress
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Publicado em 19/03/2015 às 11:36
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A promotora Cláudia Ferreira Mac Dowell nunca havia trabalhado em um caso envolvendo violência de torcidas organizadas. Integrante da equipe de promotores que atua na zona norte de São Paulo, ela foi sorteada para acompanhar as investigações e fazer as denúncias no que ficou conhecido no "caso da Inajar de Souza". Ela se espantou com a lei de silêncio entre os envolvidos no caso.

Uma emboscada de integrantes da Gaviões da Fiel a palmeirenses da Mancha Alviverde acabou em briga envolvendo cerca de mil torcedores (500 de cada lado) e resultou nas mortes de André Alves Lezo e Guilherme Vinícius Jovanell Moreira. Ambos foram espancados. O conflito aconteceu em março de 2012.

"Para eles [os torcedores organizados], a violência é normal. A dificuldade [de investigar] foi essa. Eles têm muita versatilidade nesse tipo de briga e possuem um código de honra estranho, distorcido. Ao longo de três anos, todas as testemunhas foram ouvidas, algumas delas até mesmo protegidas pelo segredo de Justiça. Mas ninguém dizia nada. Mesmo os palmeirenses não falavam sobre os integrantes da Gaviões envolvidos. É um código de silêncio muito forte", disse à Folha de S.Paulo.

Ela cita depoimentos vagos, como: "Nem deu para ver as camisas, se eram de organizadas..."

A denúncia feita pela promotora fez com que 14 integrantes da Gaviões e 11 da Mancha Verde se transformassem em réus do processo. Os corintianos serão julgados por homicídio com motivo torpe e formação de quadrilha. Os palmeirenses se encaixam apenas neste último caso.

A briga na zona norte foi uma vingança da Gaviões pela morte de Douglas Karim Silva. O corintiano foi encontrado morto no Rio Tietê em agosto de 2011 quando voltava da quadra da organizada. Ele foi perseguido por associados da Mancha Verde, antes de aparecer morto. Acredita-se que tenha sido espancado pelos palmeirenses. 

"Nesse caso da morte do Douglas, não apareceu nenhuma testemunha dizendo que ele foi espancado, mesmo nós sabendo que isso tenha acontecido", completou Cláudia.

Pela investigação, os acusados da Gaviões tinham um dos alvos principais em André Alves Lezo. Acreditavam que ele teve participação na morte de Douglas Karim Silva.

Os envolvidos se tornaram réus perante à Justiça, em parte, por trechos de depoimentos de algumas testemunhas que receberam proteção por isso. Também houve apreensões feitas nas sedes das organizadas e até mesmo de materiais particulares dos torcedores.

Entre os integrantes da Gaviões, estão o atual presidente Wagner da Costa ("B.O"), o ex-presidente Alan Silva Souza ("Donizete") e o candidato à presidência na eleição da entidade que acontece neste sábado (21), Rodrigo de Azevedo Lopes Fonseca ("Diguinho"). Alex Sandro Gomes ("Minduim"), outro réu no caso, é secretário parlamentar do deputado federal Andrés Sanchez (PT-SP).

INTELIGÊNCIA

Cláudia Ferreira Mac Dowell acredita que seria melhor se o Ministério Público tivesse uma divisão específica para cuidar da violência no futebol. Até porque reuniria o conhecimento policial, de investigação e as informações disponíveis sobre o assunto.

"Está na hora de o Ministério Público ter um grupo para centralizar isso. Você pode perguntar ao Paulo Castilho [promotor conhecido pelo combate às organizadas] se ele tem alguma coisa. Comigo ele não falou", completou a promotora.

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