E-SPORT

Compromisso com a diversão: o crescente mercado e-Sports no Brasil

Recifenses atrelam responsabilidade à paixão e conquistam reconhecimento mundial no mundo dos gamers

ISABELA VERÍSSIMO
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ISABELA VERÍSSIMO
Publicado em 29/08/2018 às 8:00
Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Recifenses atrelam responsabilidade à paixão e conquistam reconhecimento mundial no mundo dos gamers - FOTO: Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Oito horas de treino, acompanhamento médico, psicológico, alimentação regrada, escritório, assessoria de imprensa e direito à férias. Todo suporte profissional dado a um atleta profissional de futebol, por exemplo, é também oferecido ao recifense Epitácio Pessoa de Melo, mais conhecido como Taco. O jovem de 23 anos soma o bicampeonato mundial de Counter-Strike, 21 finais e mais de 10 títulos internacionais, além dos possuir mais de 317 mil seguidores no Instagram, 195 mil no Facebook, 369 mil no Twitter e outros incontáveis fãs no mundo dos games. Em agosto deste ano, Taco precisou renovar a carteira de identidade por um detalhe, no mínimo, curioso - e importante: jogador profissional de esportes eletrônicos. Esse é um dos sinais que essa nova geração, que vem propagando cada vez mais o e-Sports mundialmente, está sendo reconhecida no mercado de trabalho. Tanto que hoje, 29 de agosto, é celebrado o Dia Internacional dos Gamers.

Taco não é único neste segmento que só faz crescer. Profissão e diversão se misturam também na vida do recifense André Cardoso, de 23 anos. O game designer da empresa Joy Street, com sede no Paço Alfândega, no Bairro do Recife, trabalha no desenvolvimento das soluções gameficadas para educação. No horário de almoço da firma, ele opta por relaxar sem sair da rotina: se diverte em plataformas online de jogos independentes. “Somos autorizados a jogar por diversão, mas é impossível separar as coisas. Estou sempre prestando muita atenção nas referências e em outros desenvolvedores para poder atribuir aos nossos materiais”, explica.

DIVERSÃO X RESPONSABILIDADE

No quesito ‘tempo livre’, Taco se distancia de André. O gamer mora há 3 anos e meio na cidade de Los Angeles, na Califórnia, nos Estados Unidos - cenário perfeito para diversão. Por outro lado, nos 15 dias de férias, Taco optou por retornar ao Brasil para rever a família. “Só quero fazer qualquer outra coisa que não seja ficar no computador. Jogo bola, gosto de correr de kart e ficar com meus amigos”, disse. A escolha pelo descanso longe das telas vem do entendimento de que, mesmo sendo diversão, jogar é, além do seu ganha-pão, um compromisso e uma responsabilidade perante milhares de pessoas.

Os dois jovens fazem parte dos 66,3 milhões de gamers brasileiros, segundo levantamento da consultoria NewZoo, no seu relatório Global Market Report, publicado no ano passado. Olhando mais de perto, 41% desse público são mulheres, sendo 20% desse percentual com idade entre 21 a 35 anos. Ainda de acordo com o relatório, 50% dos homens e 51% das mulheres admitiram usar celular para jogar. Quando perguntado quem utiliza computadores, 44% dos homens e 38% das mulheres disseram sim. Já quem opta pelo bom e velho console, o percentual cai para 37% e 30%, respectivamente. A expectativa é que, até o fim de 2018, o número de praticantes do e-Sports no Brasil suba para 77,5 milhões, com muito deles, talvez, sonhando em transformar o que é diversão para profissão.

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Taco, hoje, faz parte da terceira melhor equipe de Counter Strike do mundo, a Team Liquid, e é profissional na área desde os 19 anos. Ele é o único jogador brasileiro na equipe. No ESL One Cologne, que lhe trouxe o bicampeonato do Major em 2016, na Alemanha, ele foi assistido, na grande final, junto com a equipe que fazia parte na época, a SK Gaming, por mais de 1,3 milhão de fãs simultaneamente, sem contar com as mais de 18 mil pessoas presentes na arena, e os outros 10 milhões de perfis online que assistem de forma ondemand, ou seja, quando quiserem nas plataformas de streaming.

Assim como Taco, André joga desde muito novo. “Quando cresci, percebi que não gostava só de jogar, mas de criar e conceituar o que eu estava fazendo”, conta. Formado em design pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o intercâmbio que fez em Nova York foi decisivo para ver que é possível trabalhar na área, mas sem deixar de lado o desenvolvimento dos games. “Voltei para o Brasil sabendo que precisava encontrar um trabalho onde eu continuasse exercendo o que aprendi”, lembra. Por trás das cenas, o trabalho de André se consolida na missão de encontrar uma forma dinâmica e instigante de prender a atenção do jogador envolvendo assuntos que, normalmente, estariam aplicados em livros. 

MERCADO NÃO PARA DE CRESCER

Falando da parte econômica numa expectativa mais abrangente, de acordo com o relatório feito pela NewZoo, somente no Brasil - o quarto maior país em número de gamers em atividade -  foi movimentado cerca de US$ 1,3 bilhão no último ano. A estimativa é que, em 2018, o montante suba para US$ 1,5 bilhão. Dessa forma, somos o 13º maior mercado de jogos do mundo. Financeiramente, para o recifense considerado um dos melhores gamers do mundo, a profissão é bastante rentável. Mesmo sem formação universitária, Taco está na faixa dos jogadores que ganham entre U$S 15 mil a US$ 25 mil por mês (entre R$ 45 mil e R$ 75 mil).

Se a geração é nova, as formas de entrar nesse universo também são. Anos atrás, Taco assistia os profissionais que jogavam fora do Brasil - atualmente, seus oponentes. Em 2018, já é possível ter acesso a vídeoaulas na internet e cursos online com direito à prova de nivelamento para aprender as técnicas de acordo com o grau de experiência de cada pessoa. Para se profissionalizar, a receita é uma só: jogar.

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