“Me sinto um otário! Tenho um trabalho da p... para nada. É como se estivesse enxugando gelo. A lei, infelizmente, é branda demais com esses caras.” O desabafo é do delegado Paulo Moraes, da Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais (Core), que está à frente das investigações da Operação Arquibancada. Deflagrada há exatas quatro semanas, a primeira fase da ação da Polícia Civil que se propõe a combater crimes cometidos por membros de torcidas organizadas prendeu 12 pessoas, duas delas portando revólveres calibre 38. Todas estão em liberdade. O que frustra e revolta autoridades policiais não abala, por enquanto, a confiança do promotor do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) Marcos Carvalho: “Esse é um trabalho de paciência, mas a resposta será forte contra esses pseudotorcedores”.
A Operação Arquibancada foi apresentada como uma grande ofensiva do “time do bem” contra as três principais organizadas de Pernambuco: Torcida Jovem, Inferno Coral e Fanáutico. O diferencial estaria, de acordo com o Governo do Estado, na atuação coletiva de diversos poderes (polícia, Ministério Público e Justiça) para enquadrar os membros das uniformizadas no crime de associação criminosa (artigo 288 do Código Penal), que prevê penas mais rigorosas: até quatro anos de prisão. Até hoje, País afora, os integrantes dessas facções respondem por delitos de menor potencial ofensivo (como lesão corporal e dano ao patrimônio público), que geram apenas punições socioeducativas, como o pagamento de cestas básicas. Fato que contribui para alimentar na sociedade o sentimento de impunidade.
Os 12 presos pela Operação Arquibancada deixaram o Cotel em 7 de novembro, data do fim do prazo da prisão temporária (10 dias). Eles se beneficiaram do fato de as investigações não terem sido concluídas – é que o MPPE pediu novas diligências à polícia civil. A previsão é que haja um ponto final até sexta-feira da próxima semana. É com os inquéritos em mãos que o MPPE poderá enfim oferecer denuncia à Justiça. A expectativa é saber se as autoridades conseguirão ou não enquadrá-los como associação criminosa. “Acredito que vamos ter elementos suficientes para denunciar essas pessoas por formação de quadrilha. Já reunimos documentos que mostram que eles têm passagem no Juizado do Torcedor por outros delitos. Isso prova que é sistemática a participação deles em crimes ligados ao futebol”, afirmou o promotor Marcos Carvalho, do MPPE. Enquanto o inquérito estiver em andamento, todos estão proibidos de entrar em estádios.
O fato é que as autoridades pernambucanas estão se desdobrando na busca por uma punição exemplar para os presos da Operação Arquibancada. O desafio deles seria bem menos complicado se o Estatuto do Torcedor tivesse sido atualizado, com penas mais severas para os infratores. Há anos, juristas de todo o País cobram isso do governo Federal. “A nossa lei é frouxa. Essa é a verdade. Ministério Público e Justiça ficam de mãos atadas para pedir a prisão preventiva, que manteria essas pessoas na cadeia. Ficamos todos frustrados após tanto trabalho, pois demandou tempo e dedicação de várias pessoas”, lamentou José Silvestre, diretor do Core. “Tenho certeza de que, se pudessem, o promotor do MPPE e o juiz já teriam dado a (prisão) preventiva, mas infelizmente não podem”, disse.