RACISMO

Assassinatos de jovens negros expõem racismo e violência, diz especialista

Segundo dados do Mapa da Violência 2012, dos 56 mil assassinatos registrados no país, 30 mil são de jovens entre 15 e 29 anos

Da ABr
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Publicado em 30/09/2015 às 9:36
Foto: Beto Figuerôa/Acervo JC Imagem
Segundo dados do Mapa da Violência 2012, dos 56 mil assassinatos registrados no país, 30 mil são de jovens entre 15 e 29 anos - FOTO: Foto: Beto Figuerôa/Acervo JC Imagem
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O assassinato de jovens negros na periferia das cidades expõe o racismo e a violência da sociedade brasileira, afirmou o diretor executivo da Anistia Internacional, Átila Roque. A organização destaca que, segundo dados do Mapa da Violência 2012, dos 56 mil assassinatos registrados no país, 30 mil são de jovens entre 15 e 29 anos. Destes, 77% são negros.

Segundo Roque, a violência sempre teve papel-chave na busca da ordem pelo Estado e está profundamente arraigada na forma como a sociedade distribui o poder. Ele disse que, apesar de o Brasil não se ver como um país racista, a cor influencia no tratamento que se dá ao cidadão. “O Estado, que detém o monopólio da força, acaba sendo violador de direitos e abusa da força letal”, disse o diretor em debate feito na Matilha Cultural, na capital paulista.

Para Átila Roque, não há solução mágica para a segurança pública no país. É preciso primeiro quebrar o ciclo de impunidade e romper com a lógica da guerra, na qual a busca é por eliminar o inimigo.

A fundadora do Movimento Mães de Maio, Débora Maria, lamentou a criminalização dos jovens e criticou a tentativa de se legitimar mortes com o argumento de que a vítima tinha passagem pela polícia. Ela, que teve o filho assassinado em maio de 2006, disse que basta ser pobre e morar na periferia para morrer.

A defensora pública Daniela Skromov Albuquerque afirmou que as mortes causadas por policiais militares costumam ter um roteiro padronizado, em que o suspeito atira e o policial reage em legítima defesa. Ela ressaltou que uma função da Polícia Militar é preservar a vida.

Daniela lembrou que muitos casos registrados como morte decorrente de intervenção policial, conhecidos como auto de resistência, trazem múltiplos disparos de arma de fogo em regiões vitais, muitas vezes nas costas, e sem registro de policiais feridos ou viaturas atingidas, o que eliminaria uma versão de confronto ou troca de tiros. Ela disse ainda que a falta de depoimentos de testemunhas e cenas de crimes alteradas prejudicam as investigações e dificultam as punições.

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