O juiz da comarca de Mariana, Frederico Esteves Duarte Gonçalves, acusa a mineradora Samarco de esconder dinheiro para evitar o cumprimento de decisão judicial que prevê o bloqueio de R$ 300 milhões em recursos da empresa para pagamento de danos depois do rompimento da barragem da empresa no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, no dia 5.
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Em decisão tomada nesta quarta-feira (25) sobre recurso impetrado pela empresa para evitar o bloqueio do dinheiro, o juiz afirma que a Samarco "sumiu" com o dinheiro e que vem "adotando estratégia jurídica indigna e deliberada de, como se fosse o botequim da esquina, não cumprir o mandamento judicial"
No posicionamento, Gonçalves diz que "a companhia fatura anualmente quase R$ 8 bilhões de reais e aufere lucro de outros R$ 3 bilhões por ano, e que, à população brasileira, em horário nobre da televisão, vem a público pedir desculpas às vítimas (vide programa Fantástico, da Rede Globo de Televisão, exibido em 22/11/2015), mas que, na intimidade do processo, indesculpavelmente, furta-se à sua obrigação decorrente de ordem judicial".
O magistrado afirma também que "malgrado o exercício do juízo de, diariamente, desde a data da concessão da ordem, acionar a ferramenta Bacenjud, com o desidrato de lhe dar concretude, até o momento logrou-se êxito em indisponibilizar pouco mais de R$ 7 milhões, isto é, cerca de minguados 3% do valor devido nestes autos". A decisão para o bloqueio dos R$ 300 milhões é de 11 de novembro. O Bacenjud é um sistema que interliga o Banco Central, a Justiça e instituições bancárias.
Prossegue o juiz: "em outras palavras: a requerida, potência econômica que ostenta números acima citados, e que, em seu balanço patrimonial último, provisionou mais de R$ 500 milhões para contingências quais a ocorrida em 5 de novembro em Mariana, vem adotando estratégia jurídica indigna e deliberada de, como se fosse o botequim da esquina, não cumprir o mandamento judicial". "Em outras palavras e em português claro: a requerida sumiu com o dinheiro, embora em 31 de dezembro de 2014 tivesse em seu caixa mais de R$ 2 bilhões, demonstrando, desde já, que, se, no futuro, vier a ser condenada em ações indenizatórias movidas pelas vítimas do acidente, não tem mesmo disposição alguma de suportar os efeitos de virtuais cumprimentos de sentenças".
Como não conseguiu o dinheiro pelo sistema Bacenjud, o juiz acionou diretamente o Banco Central na tentativa de assegurar o bloqueio dos aproximadamente R$ 293 milhões restantes. Dessa vez, por meio da interceptação de operações feitas pela empresa no exterior. A reportagem aguarda retorno da Samarco sobre a decisão do juiz.