O vírus zika "se instalou" de fato em países tropicais, como o Brasil, e apenas campanhas para mudar o comportamento de cidadãos não vão mais frear a proliferação de casos. O alerta foi feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que indica que o Brasil terá de investir em saneamento se quiser lidar com o surto.
Leia Também
- Zika torna mais rígido critério de doação de sangue
- Estudo mostra que bebês com zika têm 55 vezes mais risco de apresentar microcefalia
- Congresso dos EUA luta para finalizar projeto 'anti zika'
- Proteína do leite pode ajudar na proteção contra zika e chicungunha
- Aborto em caso de zika é 'mais delicado', diz presidente do STF
- Estudo reforça ligação entre zika e síndrome de Guillain-Barré
- OMS: altamente provável que zika se espalhe na região Ásia-Pacífico
- Pesquisadores do Brasil e do mundo se unem para combater o zika vírus
- Zika: Dúvidas continuam um ano após divulgação dos primeiros casos de microcefalia
"As campanhas no Brasil tem falado essencialmente em comportamento, em não deixar água parada", disse Nathalie Broutet, coordenadora da Agenda de Pesquisa do Vírus Zika OMS. "Mas se não houver investimento em saneamento, não haverá um controle dos vetores. No Nordeste brasileiro, existem muitas áreas sem saneamento suficiente."
Plano de pesquisas da OMS
Nesta quarta-feira (26), a entidade lançou seu plano de pesquisas até o final de 2017, apelando para que a comunidade internacional financie seus trabalhos em U$ 112,5 milhões. Por enquanto, porém, a OMS recebeu apenas US$ 24 milhões.
"O vírus passou de emergência para um programa de longo prazo", disse Boris Pavlin, gerente do programa de combate ao zika na OMS. "O zika vai ficar conosco por um bom tempo."
De acordo com ele, diante da falta de instrumentos mais eficientes para controlar o mosquito vetor do vírus, o zika "está se estabelecendo". "Precisamos de novos instrumentos", disse.
Na avaliação de Pavlin, nenhum mosquito pode ser erradicado e o Aedes aegypti tem se mostrado "desafiador". "Mas ainda assim, se houver um controle, a doença pode ser reduzida", disse o especialista.
Mais de um ano depois de iniciar o trabalho, a OMS diz que tem lidado com as famílias afetadas e criar serviços para essas crianças contaminadas. Mas a entidade ainda trata do assunto como uma emergência. "Estamos aqui por um longo tempo", admitiu Pavlin, reconhecendo que a OMS ainda não tem respostas para muitas das perguntas.
"Raramente temos visto um vírus que se espalha tão rapidamente", disse.
Segundo a OMS, duas vacinas já começaram a passar por testes de primeira fase. Mas ainda há data para o resultado final e sua comercialização. Na entidade, a possibilidade de uma vacina estar pronta em 2017 é considerada como "irrealista".
Enquanto isso, a OMS sugere que governos e mesmo a comunidade internacional comecem a tratar a doença como uma nova realidade. "A OMS e seus parceiros estão se planejando para uma resposta ao zika a longo prazo, já que a proliferação vai continuar no futuro e a comunidade global terá de ajustar sua resposta de uma emergência para uma administração de longo termo", afirma um documento da agência.
"O vírus vai continuar se espalhando por todos os países que tem o vetor", afirmou Pavlin. "O que não se sabe é o que vai ocorrer naqueles locais onde o problema já é endêmico."