QUÍMICA

Danuza Telles, a discípula recifense do Nobel de Química John Goodenough

O norte-americano, um dos três ganhadores do Nobel de Química deste ano, orientou a pernambucana durante mestrado na década de 1980, em Oxford

Amanda Azevedo
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Amanda Azevedo
Publicado em 15/10/2019 às 22:07
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Assim que soube que um John Goodenough estava entre os três ganhadores do prêmio Nobel de Química deste ano, a professora e pesquisadora recifense Danuza Leal Telles, 64 anos, logo enxergou uma coincidência: uma pessoa com o mesmo nome do seu orientador de mestrado na Universidade de Oxford, na Inglaterra, na década de 1980, tinha recebido o mais prestigiado reconhecimento da área, no dia 9 de outubro. Ao ver a foto, se deu conta; era realmente ele. O mesmo professor norte-americano que a conduziu durante sua pesquisa sobre o elemento rutênio havia sido um dos premiados pela invenção das baterias de íon-lítio.

“Ele tem 97 anos, é o mais velho da história a ser ganhador do Nobel, está consciente e na ativa. Para mim, foi uma surpresa imensa. A princípio, quando vi a notícia, pensei que tinha o nome igualzinho, mas não poderia ser a mesma pessoa. Quando vi a foto dele em Oxford, percebi. Ele está bem, trabalhando e, ainda por cima, ganhando prêmio Nobel. Não poderia estar melhor. É um exemplo para todo mundo”, relatou Danuza.

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A recifense Danuza Leal Telles durante palestra neste ano - Acervo Pessoal
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A recifense Danuza ao lado do químico John Goodenough (em pé, de óculos) - Acervo Pessoal
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Danuza quando concluiu o mestrado em Oxford, em 1985 - Acervo Pessoal

A recifense chegou ao Reino Unido ao lado do marido, em 1980, para estudar. Com bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), conseguiu tornar-se orientanda de Goodenough, que já era muito conhecido na época, e chefiava o Departamento de Química Inorgânica da Universidade de Oxford.
“Ele trabalhava com três metais que a gente chama de semicondutores: rutênio, lítio e platina. Os pesquisadores se encontravam, trocavam ideias, tudo em reuniões científicas semanais coordenadas por ele. Apesar de serem metais diferentes, o desempenho em um metal ajuda no desempenho no outro, havia essa troca de conhecimento”, explicou.

Para desenvolver sua pesquisa, um estudo catalítico sobre óxidos de rutênio, Danuza precisou aprender a técnica de cromatografia gasosa, utilizada para determinar a composição de uma mistura de produtos químicos, e a emprega até hoje. “Você pode aplicar essa técnica de análise química em vários ramos da ciência. Eu comecei a utilizar para análise de agrotóxicos, dando suporte e consultoria, ajudando, especialmente, exportadores do Vale do São Francisco”, disse a pesquisadora, que trabalha no Instituto de Tecnologia de Pernambuco (Itep).

Do bom humor do professor aos desafios enfrentados por estar tão longe de casa, Danuza lembra com gratidão do período em que estudou em Oxford. “Ele tinha uma tremenda risada e falava alto. Era sempre solícito, mas, como chefe de departamento, também era muito ocupado. Foi uma luta muito grande, não é fácil sair do Nordeste e chegar em um lugar como Oxford para pesquisar, mas valeu a pena”, resumiu.

Nobel de Química

John Goodenough foi premiado ao lado de Stanley Whittingham, 78 anos, inglês, e Akira Yoshino, 71 anos, japonês.


Após as crises de petróleo nos anos 1970, Whittingham, atualmente professor na Universidade de Binghamton, em Nova York, começou a pesquisar fontes de energia não fósseis e criou um cátodo em uma bateria de lítio a partir de dissulfeto de titânio (TiS2).

Goodenough, que atualmente é professor na Universidade do Texas, nos Estados Unidos, previu que as propriedades desse cátodo poderiam ser ampliadas se ele fosse produzido com óxido metálico no lugar de dissulfeto. Mais tarde, em 1980, ele demonstrou que a combinação de óxido de cobalto e íons de lítio poderia produzir até quatro volts.

Com essas descobertas, Yoshino conseguiu criar a primeira bateria comercial, no ano de 1985.

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