Após o Ministério da Saúde informar, nesta quinta-feira (23), que não há casos suspeitos de coronavírus no Brasil, secretarias de saúde de quatro estados e do Distrito Federal confirmaram ter descartado casos que chegaram a reportar à rede Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS).
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Em nota, a secretaria estadual de Saúde de Minas Gerais explicou que, após receber orientações do ministério, e com base nos critérios estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para definir os casos suspeitos da nova doença, concluiu que o caso da mulher de 35 anos que, no último dia 18, desembarcou em Belo Horizonte com sintomas compatíveis com uma “doença respiratória viral aguda”, não se trata de um caso da nova doença.
De acordo com a secretaria mineira, a mulher - cujo nome não foi divulgado - desembarcou na capital mineira após retornar de uma viagem a Xangai, na China. “A notificação [a Rede Cievs] se deu porque a paciente esteve em um evento internacional na China, teve contato com pessoas de diversos locais do mundo, com vários dias de duração, e apresentava sintomas respiratórios”, acrescentou a secretaria em nota enviada em resposta às questões da Agência Brasil.
De acordo com a secretaria, a notificação de suspeita foi feita porque, só nesta quinta (23), os técnicos da área tiveram acesso às orientações oficiais do Ministério da Saúde, com os critérios de definição de casos suspeitos para o novo Coronavírus.
“Quando a paciente procurou atendimento [no dia 18], a secretaria ainda não dispunha do protocolo do Ministério da Saúde, com orientações sobre esses casos. Ela foi conduzida rapidamente para o Hospital Eduardo de Menezes e, por medida de precaução, para evitar a disseminação de uma possível nova doença, ainda desconhecida, foi decidido pelo isolamento da paciente, para observação cuidadosa em ambiente hospitalar”, acrescentou a pasta.
A paciente continua internada no Hospital Eduardo de Menezes, onde foi submetida a exames laboratoriais de rotina, capazes de detectar a presença dos vírus influenza, comuns em diversos tipos de infecções respiratórias, e de outros vírus. Antes de receber a nova orientação do Ministério da Saúde, contudo, a secretaria já tinha enviado uma amostra dos testes da paciente para ser analisada no laboratório da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro. A secretaria de Saúde de Minas Gerais afirma que ainda vai avaliar, junto com o Ministério da Saúde e com a fundação, se deve ou não realizar o exame para o novo coronavírus.
“A partir do protocolo veiculado hoje [quinta, 23], o estado de Minas Gerais adotará as recomendações do Ministério da Saúde”, garantiu a secretaria antes de informar que o estado clínico da mulher é considerado estável e a expectativa é que ela tenha alta médica em breve.
Distrito Federal
Consultada pela reportagem, a secretaria de Saúde do Distrito Federal confirmou que reportou um caso suspeito no dia 18 de janeiro. O paciente era um homem, 55 anos, morador do Distrito Federal, que, junto com parentes, viajou por alguns países da Europa e da Ásia entre o fim de dezembro de 2019 e 17 de janeiro de 2020. De volta ao Brasil, ele apresentou sintomas “sugestivos de síndrome respiratória aguda grave”, com fortes dores de cabeça, mal-estar geral, dores pelo corpo e febre com calafrios.
O paciente, no entanto, não esteve na cidade chinesa de Wuhan, onde surgiram os primeiros casos da doença que já contaminou centenas de moradores do município e se espalhou para ao menos outros oito países (Arábia Saudita, Cingapura, Coreia do Sul, Estados Unidos, Japão, Tailândia, Taiwan e Vietnã). Para a OMS – e, consequentemente, para o Ministério da Saúde brasileiro – a passagem por Wuhan é um dos principais critérios para se suspeitar de alguém que apresente os sintomas que podem indicar uma série de outras complicações de saúde mais brandas.
“Imediatamente, técnicos da equipe da Gerência de Epidemiologia de Campo (DIVEP/SVS), se deslocaram ao hospital [onde o paciente esteve internado] para proceder a investigação do caso”, relata a secretaria estadual. “Com os dados obtidos na investigação, foi descartada a hipótese de doença respiratória causada por agente novo coronavírus (apelidado até o momento de 2019-nCoV). [Mesmo assim] foram coletados materiais para exames complementares a serem realizados no Laboratório Central do Distrito Federal”.
Rio Grande do Sul
Em nota divulgada nesta quinta-feira (23), a secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul confirma não ter registro de nenhuma situação relacionada ao novo coronavírus em investigação. A pasta explica que, nesta quarta-feira (22), chegou a notificar ao Ministério da Saúde um possível caso, mas já descartou tal hipótese.
“Tratava-se de uma pessoa que passou 18 dias trabalhando na China e que procurou atendimento médico com febre e tosse. Foram tomadas as medidas preconizadas para atendimento de caso suspeito e o resultado foi negativo, sendo que o paciente sequer está internado”, explica a secretaria gaúcha, que está orientando os profissionais das redes de saúde pública e privada sobre os critérios estabelecidos pela OMS e os procedimentos preconizados pelo Ministério da Saúde no Boletim Epidemiológico divulgado nesta quinta-feira.
Entre as principais orientações está a recomendação para que, em eventuais casos suspeitos, os pacientes utilizem máscara cirúrgica, e os profissionais que tiverem contato com ele todos os equipamentos de proteção individual (EPIs) recomendados, além das medidas de precaução padrão. Os casos graves devem ser encaminhados para um hospital de referência, e os leves devem ser acompanhados pela atenção básica em saúde.
Santa Catarina
A secretaria de Saúde de Santa Catarina afirma que, na última terça-feira (21), servidores da Diretoria de Vigilância Epidemiológica chegaram a entrar em contato com funcionários do Ministério da Saúde a fim de relatar a suspeita de que um casal da cidade de Videira, a cerca de 400 quilômetro de Florianópolis, pudesse ter contraído o novo tipo de coronavírus.
“Os casos foram descartados por não se enquadrarem na definição da doença adotada pela Organização Mundial da Saúde (OMS)”, explicou a secretaria catarinense, alegando que a suspeita só foi levantada porque as duas pessoas, cujos nomes não foram divulgados, apresentaram sintomas gripais logo depois de voltarem de uma viagem à Tailândia. “Ambos tiveram sintomas leves, não precisaram internar e não receberam nenhum tratamento específico”.
Até o momento da publicação desta reportagem, apenas a secretaria de Saúde de São Paulo não havia respondido às perguntas enviadas pela Agência Brasil.
Além de divulgar novas orientações, o Ministério da Saúde instalou o Centro de Operações de Emergência (COE) - coronavírus. Formado por técnicos especializados em resposta às emergências de saúde pública de vários órgãos, o comitê tem a missão de preparar a rede pública de saúde para o atendimento de possíveis casos no Brasil.
Esta manhã, o secretário substituto de Vigilância em Saúde do ministério, Júlio Croda, garantiu que o Brasil está preparado para lidar com a doença. “Nossa rede laboratorial está preparada para realizar os testes e fazer os diagnósticos, mas, neste momento, não há porque submeter a exames [para detecção do coronavírus] todos os pacientes [com sinais] de síndromes gripais, que são avaliadas de acordo com outro protocolo, o de [detecção do vírus] influenza, que é o vírus mais comum”.
Croda destacou que, segundo a OMS, até o momento, só há registros da transmissão do vírus entre pessoas que moram ou tiveram contato frequente com pessoas infectadas, incluindo profissionais de saúde. “A OMS estabeleceu dois critérios [para atestar a presença do coronavírus]. Um clínico: a pessoa precisa ter febre e mais algum sintoma respiratório. E temos os critérios epidemiológicos, que são três: ter viajado para Wuhan, na China; ter tido contato com algum paciente suspeito de coronavírus ou com algum paciente com [a doença] já confirmada. São estas as situações em que uma pessoa pode ser enquadrada em um caso suspeito.”