O número de mortos na epidemia do Ebola se aproximou de mil nesta quarta-feira, enquanto cresce o temor de a doença mortal estar se espalhando na Nigéria, país mais populoso da África, depois da segunda morte e de sete casos confirmados na capital, Lagos.
Leia Também
O avanço da doença ocorre em um momento em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) se reunia em sessão de emergência, em Genebra, para decidir se declaram, ou não, uma crise internacional.
O mais recente balanço oficial em todo o oeste da África, divulgado nesta quarta-feira, chegou a 932 mortos desde o começo do ano, com 1.711 casos confirmados, sobretudo em Guiné, Libéria e Serra Leoa.
A morte de uma enfermeira em Lagos, megacidade com mais de 20 milhões de habitantes, somou-se a outros 45 óbitos confirmados em todo o oeste da África entre sábado e segunda-feira. Isso levou agências de ajuda, incluindo a respeitada Médicos sem Fronteiras, a declarar que a terrível doença tropical está fora de controle.
Em Monróvia, capital da Libéria, onde os mortos foram deixados insepultos nas ruas, ou abandonados em suas casas, a presidente Ellen Johnson Sirleaf apelou para a intervenção divina e ordenou três dias de jejum e oração.
Em Serra Leoa, que tem o maior número de infecções confirmadas, 800 soldados, inclusive 50 enfermeiras militares, foram mobilizados para vigiar hospitais e clínicas para tratar pacientes com Ebola, informou um porta-voz do Exército.
No início da crise, algumas clínicas sofreram atos de vandalismo, e funcionários de saúde foram atacados por jovens, que os acusavam de ajudar a espalhar a doença.
Outros soldados, que chegavam no fim de uma missão com as tropas de paz da União Africana, na Somália, receberam ordens, nesta quarta-feira, para permanecer no país destroçado pela guerra ao invés de voltar para casa por causa do Ebola.
A reunião a portas fechadas da OMS não deve chegar a um consenso até a sexta-feira, mas a sessão em si salientou a gravidade da ameaça que a doença representa. Febre alta e hemorragia sem controle são alguns dos sintomas.
- Remédio experimental se mostra promissor -
Também nesta quarta-feira, um avião da Força Aérea espanhola partiu rumo à Libéria para buscar o missionário espanhol, que será levado para tratamento.
Nos últimos dias, dois americanos - um médico e uma missionária - que trabalhavam para agências de ajuda cristãs na Libéria foram levados de volta para os Estados Unidos para se tratar. Eles estão tomando um remédio experimental conhecido como ZMapp, que é difícil de produzir em larga escala, e apresentam sinais de melhora.
O ministro nigeriano da Saúde, Onyebuchi Chukwu, disse a jornalistas que esteve em contato com o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos sobre a possibilidade de conseguir os medicamentos com eles.
"Eu disse que estamos recebendo informações de que esse remédio experimental parece útil. Também é possível que tenhamos acesso atualmente para o nosso povo que está sendo tratado e em incubação", afirmou.
Mas, em Washington, durante coletiva de imprensa, o presidente Barack Obama considerou prematuro usar o medicamento experimental para tratar as pessoas infectadas com o Ebola na África.
"Acredito que devemos deixar que a ciência nos guie e não creio que tenhamos todas as informações para determinar se este remédio é eficaz", respondeu Obama, quando perguntado sobre a possibilidade de enviar o medicamento experimental para a África.
A organização de prevenção e controle de doenças dos Estados Unidos divulgou, nesta quarta, seu alerta mais elevado, pedindo a participação de todos em uma resposta para a crise do Ebola no oeste da África.
O nível 1 é o mais alto de uma escala que vai até 6 e indica que mais pessoal e recursos serão mobilizados para combater a epidemia.
O número crescente de vítimas em Lagos, a cidade mais populosa da África subsaariana, traz desafios únicos aos funcionários de saúde.
Chukwu disse que os sete casos confirmados em seu país foram de pessoas que tiveram "contato primário" com Patrick Sawyer, um funcionário do Ministério das Finanças da Libéria, que levou o vírus para a Nigéria em 20 de julho.
Sawyer tinha viajado para Lagos, procedente da Monróvia, com escala em Lomé (capital do Togo), e estava visivelmente doente quando desembarcou no aeroporto internacional da capital nigeriana.
Ele morreu na quarentena em 25 de julho, após infectar vários funcionários do hospital onde ficou internado, inclusive uma enfermeira que faleceu na noite desta terça-feira.
O comissário de Saúde de Lagos, Jide Idris, apelou aos médicos em greve para que retornem ao trabalho, afirmando que "todos precisamos nos unir para lidar com essa situação".
Médicos do serviço público estavam em greve desde 1º de julho, pedindo melhores salários e condições de trabalho.
- Possível caso saudita -
Enquanto isso, um homem de nacionalidade saudita que tinha viajado para Serra Leoa e desenvolveu sintomas similares aos do Ebola morreu nesta quarta-feira de ataque cardíaco, informou o Ministério da Saúde.
Autoridades não revelaram os resultados dos testes de Ebola feitos no exterior, mas informaram que ele será sepultado segundo o costume islâmico, com precauções estabelecidas pelas autoridades sanitárias mundiais.
O novo diretor global da Cruz Vermelha, Elhadj As Sy, alertou que o Ebola será contido somente com o apoio do público, afirmando que "o estigma e a discriminação costumam matar tanto quanto os vírus".
Sy afirmou que há lições a serem aprendidas com o combate à Aids e que atribuir culpas não ajuda.
"É muito difícil, no contexto cultural do oeste da África, dizer às pessoas que não se ocupem de seus entes queridos que estão doentes. Mas, na situação atual, elas precisam fazer isso", declarou à AFP.
Além disso, as pessoas precisam evitar ritos funerais tradicionais que exigem que os parentes lavem o corpo do falecido, uma vez que o Ebola permanece contagioso mesmo após a morte do doente.
Descoberto em 1976 e nomeado com base em um rio situado na atual República Democrática do Congo, o Ebola se espalha pelo contato com fluidos corporais, como sangue, saliva e suor.
Em quase quatro décadas, o vírus matou cerca de dois terços dos infectados, e duas epidemias tiveram taxas de mortalidade que se aproximaram dos 90%. A última registrou mortalidade de 55%.