Ao resumir mais de 800 páginas de constatações sobre a mudança climática em um volume de cerca de 30, cientistas de todo o mundo definirão nesta semana, em Copenhague, o lastro para as negociações sobre o documento sucessor do Protocolo de Kyoto. As discussões políticas sobre os compromissos de economias desenvolvidas e em desenvolvimento serão retomadas depois em Lima, Peru, em dezembro. Quanto mais o acordo final, a ser assinado em Paris em maio de 2015, responder às constatações dessa síntese do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), menos chances de a temperatura do planeta aumentar 3,7ºC, em média, até 2100.
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O aumento da temperatura da terra já se tornou inevitável, conforme o IPCC constatou em seu relatório de 2013. O cenário mais otimista indica elevação de 1°C até o fim do século. A humanidade terá de adaptar-se também às outras sequelas do aumento da emissão dos gases do efeito estufa. O nível dos oceanos já está subindo, geleiras começaram a derreter, o Ártico e a Antártica perdem superfícies geladas e os eventos climáticos extremos - seca e chuvas torrenciais - se tornam cada vez mais frequentes.
A síntese para formuladores de políticas, texto a ser extraído do encontro desta semana do IPCC, não vai trazer dados novos nem mudar evidências já registradas nos três relatórios produzidos desde o ano passado. Tampouco dirá o que cada país deve fazer. Mas, na sua construção, terá de deixar de lado muito mais do que a maioria dos cientistas gostaria e preservar os elementos indispensáveis para os governos tomarem decisões acertadas em Lima e em Paris. O problema, como sempre, estará nos detalhes omitidos e nos que venham a sobreviver. "A síntese deve refletir o conteúdo dos três grupos de trabalho. Os governos estão muito atentos para evitar a inclusão de algo novo", explicou a pesquisadora Thelma Krug, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e membro do IPCC. "Não se pode inventar. Não se pode nem mesmo atualizar os dados."
Estratégia. Para o sociólogo José Eli da Veiga, independentemente da síntese do IPCC, o Brasil manterá a estratégia de atribuir aos países desenvolvidos a responsabilidade maior pelo aquecimento do planeta. Tenderá, portanto, a empurrar para essas nações a cota de compromissos de redução de emissões.
No ano passado, o governo brasileiro retomou um conceito que já havia caducado em 2009, o da responsabilidade histórica. A tese, que evitaria ao País a tarefa de assumir qualquer compromisso, tem o apoio do Itamaraty e do Ministério da Ciência e Tecnologia.
"O Brasil julga ter tido muita influência no Protocolo de Kyoto. Mas esse foi o pior acordo que se poderia ter feito", defendeu Veiga, ao criticar os cortes de emissões apenas aos desenvolvidos e a criação do mercado de carbono. "O protocolo é eticamente absurdo. Politicamente, nem se fala", completou.