Isolado no cenário internacional pela crise na Ucrânia, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou nesta quinta-feira (4) que o Ocidente adotou sanções contra a Rússia para enfraquecer seu país e prometeu uma série de reformas para liberalizar a economia russa.
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Popular em seu país, mas muito criticado externamente, Putin discursou por mais de uma hora aos parlamentares, ministros e líderes religiosos reunidos no Kremlin. A Rússia é "uma nação sã, capaz de defender militarmente seus compatriotas", declarou.
"Cada vez que alguém acredita que a Rússia se tornou muito forte e independente, aplicam imediatamente este tipo de medidas", disse Putin, em referência às sanções ocidentais.
Segundo ele, mesmo sem a anexação da península da Crimeia, em março, e sem o conflito no leste separatista pró-russo da Ucrânia, as potências ocidentais "teriam inventado outra coisa para conter as oportunidades crescentes da Rússia".
Putin advertiu que "esta maneira de proceder não é de ontem. Isso faz décadas, séculos".
O chefe de Estado russo também voltou a criticar o governo dos Estados Unidos, que "tenta influenciar, nos bastidores ou de forma direta, as relações com os vizinhos" da Rússia.
"Muitas vezes, não sabemos com quem devemos falar, se com os governos diretamente ou com seus protetores americanos", ironizou.
Apesar da situação, afirmou que não tem intenção alguma de romper as relações com a Europa e com os Estados Unidos.
"Não pensamos de forma alguma em romper nossas relações com a Europa e com os Estados Unidos. Mas, ao mesmo tempo, restabeleceremos e ampliaremos nossos vínculos tradicionais com o continente sul-americano, e seguiremos cooperando com a África e com os países do Oriente Médio", afirmou Putin, consciente de que o isolamento internacional de seu país pode ser fatal para a economia.
Tomando a palavra na OSCE, o secretário de Estado americano John Kerry assegurou que Washington também não procura confrontar a Rússia.
MEDIDAS LIBERAIS - A crise entre a Rússia e o Ocidente - a mais grave desde o fim da Guerra Fria em 1991 - tem afetado a economia russa, em queda-livre devido às sanções econômicas.
Neste contexto, no discurso desta quinta-feira, Vladimir Putin pediu ao Banco Central e ao governo "ações contundentes" para acabar com a especulação em torno do rublo, que esta semana alcançou uma cotação mínima histórica.
"Pedi ao Banco da Rússia e ao governo que adotem medidas contundentes e coordenadas para dissuadir os chamados especuladores de negociar com as flutuações da moeda russa".
"O rublo não pode virar um objeto de especulação impunemente", insistiu Putin.
"As autoridades sabem quem são os especuladores. Temos os meios para enfrentá-los. É hora de utilizar estes meios", completou, sem revelar a identidade dos especuladores.
As sanções econômicas impostas pelas potências ocidentais a Moscou por seu papel na crise ucraniana e a queda do preço do petróleo provocaram um forte aumento da inflação e a desvalorização do rublo, que desde o início do ano perdeu 40% do valor em relação ao euro e 60% em relação ao dólar.
As autoridades russas anunciaram uma previsão de recessão para o país em 2015. Ao mesmo tempo, o presidente russo propôs uma anistia para quem repatriar o dinheiro à Rússia.
"Consideramos que é possível ganhar dinheiro de várias maneiras", declarou, afirmando que aqueles que repatriarem seus capitais de volta para a Rússia não precisarão se preocupar com a Justiça. "Não perguntaremos de onde vem este dinheiro, nem como ele foi adquirido", garantiu.
As sanções econômicas ocidentais provocaram uma fuga de capitais que deve alcançar 125 bilhões de dólares.
"O mais importante é compreender que o nosso desenvolvimento depende, antes de tudo, de nós mesmos", ressaltou o presidente, que pediu que produtos importados sejam substituídos pelos "Made in Russia".