Uruguai

Ex-preso de Guantánamo relata calvário e promete 'boa vontade' no Uruguai

Faraj é um dos seis detentos -quatro sírios, um palestino e um tunisiano- chegados na madrugada de domingo ao Uruguai

Da AFP
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Publicado em 08/12/2014 às 12:05
Foto: MLADEN ANTONOV / AFP
Faraj é um dos seis detentos -quatro sírios, um palestino e um tunisiano- chegados na madrugada de domingo ao Uruguai - FOTO: Foto: MLADEN ANTONOV / AFP
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Um dos seis ex-detentos de Guantánamo que chegaram na madrugada de domingo ao Uruguai contou seu calvário em uma carta divulgada nesta segunda-feira e na qual se compromete, junto a seus companheiros, a agir "apenas de boa vontade" enquanto estiver no Uruguai.

"Meu nome é Abdelhadi Omar Faraj. Nos últimos 12 anos também fui conhecido como prisioneiro número 329 de Guantánamo. E sou um dos homens recém-chegados como refugiados ao Uruguai vindos dessa horrível prisão", começa a carta enviada ao jornal local El País por seu advogado em Nova York.

Faraj relata na carta sua "infância feliz" na Síria, em uma família humilde, sua viagem ao Irã aos 19 anos em busca de trabalho e, depois, para o Afeganistão.

"Quando a guerra no Afeganistão começou, no fim de 2001, eu temia que uma das partes beligerantes, a Aliança do Norte, me matasse pelo fato de eu ser árabe. Fugi por terra para o Paquistão", conta. "Quando cheguei à fronteira com o Paquistão, fui detido por soldados paquistaneses. Em um dia me entregaram a membros do Exército americano em troca de uma recompensa. Por um período de seis meses, os americanos me mantiveram preso em Kandahar, Afeganistão, em condições subumanas". 

Após meses de interrogatórios, ele foi transferido no dia 8 de junho de 2002 para o centro de detenção de Guantánamo, aberto pelos Estados Unidos após os atentados de 11 de setembro de 2001.

Ele permaneceu em Guantánamo por 12 anos "frequentemente em condições cruéis, sem acusações, julgamento ou processo justo". Em sua crônica, ele conta que uma equipe do governo dos Estados Unidos revisou seu caso em 2009 e determinou de forma unânime que deveria ser liberado.

"Se não fosse pelo Uruguai, hoje ainda estaria naquele buraco negro em Cuba", ressalta Faraj, que agradeceu ao Uruguai por tê-lo recebido e, especialmente, ao presidente uruguaio, José Mujica, "por seu ato nobre de solidariedade".

"Quanto a mim e aos outros prisioneiros, quero garantir a todos os uruguaios, incluindo o governo uruguaio, que daremos apenas boa vontade e contribuições positivas ao Uruguai enquanto aprendemos espanhol e refazemos nossas vidas aqui", conclui.

Faraj é um dos seis detentos -quatro sírios, um palestino e um tunisiano- chegados na madrugada de domingo ao Uruguai, que os recebeu como refugiados, em uma processo que mostra claramente a aceleração das transferências da prisão americana que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, prometeu fechar.

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