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Refém brasileira de Sydney diz ter 70 estilhaços em cada perna

Marcia Mikhael foi mantida refém por mais de 16 horas em uma cafeteria no Martin Place

Da Folhapress
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Publicado em 17/12/2014 às 16:25
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Marcia Mikhael foi mantida refém por mais de 16 horas em uma cafeteria no Martin Place - FOTO: Foto: Reprodução/Facebook
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No quarto privativo do setor de queimados do hospital Royal North Shore, cercada de familiares, Marcia Mikhael, 43, se recupera bem da cirurgia para a retirada de estilhaços de balas e granadas das pernas.

Na primeira entrevista desde que foi resgatada do sequestro no Lindt Cafe em Sydney, na Austrália, Marcia conversou com a Folha de S.Paulo e com o portal Terra nesta quarta-feira (17).

"Tenho cerca de 70 estilhaços em cada perna. Muitos foram extraídos, mas talvez os menores não possam ser retirados", relatou.

A brasileira foi mantida refém por mais de 16 horas em uma cafeteria no Martin Place, o centro financeiro de Sydney.

A personal trainer está com as duas pernas enfaixadas até o joelho, depois da cirurgia realizada nesta terça (16), mas mantém o otimismo em relação às competições de fisiculturismo.

"Quero voltar a treinar assim que me recuperar e sair daqui", declarou, otimista. Marcia se exercita regularmente e ganhou um campeonato mundial na Grécia, no ano passado.

Emocionada, Marcia agradeceu as centenas de mensagens de solidariedade que tem recebido de todas as partes do mundo. "Agradeço a todas as orações e manifestações de carinho das pessoas que rezaram e torceram para que eu saísse de lá com vida. Acho que foi isso que me salvou", disse.

Gerente de projetos de um grande banco, Marcia avisou que ainda não poderia comentar os detalhes do sequestro. "A polícia pediu para a gente manter sigilo por enquanto, com o objetivo de proteger as investigações", explicou. A polícia já esteve no hospital para conversar com a brasileira.

Para o irmão Carlos El Khouri, no entanto, ela relatou alguns momentos de horror que viveu dentro do Lindt Cafe. "A moça (Katrina Dawson, 38) morreu ao lado dela", lamenta.

Carlos conta ainda que o sequestrador estava atirando para fora do prédio quando a polícia invadiu a cafeteria, logo após a fuga de um grupo com cinco pessoas. "A polícia matou os reféns", opinou.

Revoltado, Carlos criticou a falta de ação da polícia. "Os policiais não fizeram nada. Ficaram caminhando de um lado para o outro sem tomar nenhuma atitude", disse o brasileiro, que permaneceu no Martin Place desde os primeiros momentos do sequestro.

Ele chegou a se oferecer como voluntário para levar a bandeira do Estado Islâmico, exigência do iraniano Man Haron Moniz, para dentro do prédio. "A polícia poderia ter usado um atirador de elite para matar o sequestrador, evitando a tragédia que terminou com a morte de duas pessoas", declarou.

A segunda vítima do sequestro foi o gerente da cafeteria Tori Johnson, 34.

CRÍTICAS - O raciocínio do brasileiro é compartilhado por parte dos australianos. Programas de rádio e televisão do país discutiram, durante todo o dia, as razões que levaram a polícia a não agir, quando havia um atirador de elite em um prédio em frente, apontando a arma para o sequestrador.

Em entrevista coletiva, o comissário de polícia Andrew Scipione defendeu a corporação e a estratégia adotada pelos policiais. "O sequestrador carregava uma mochila nas costas, que poderia conter explosivos", alegou.

Conforme ele, ninguém sabia exatamente a espessura das janelas de vidro da cafeteria, o que poderia alterar a trajetória do projetil.

"É mentira. Eles sabiam que não havia bomba dentro da mochila porque uma das reféns mandou um torpedo para o marido dando detalhes sobre isso", indigna-se Carlos.

O primeiro-ministro da Austrália, Tony Abbot, e o comissário de polícia passaram o dia dando declarações.

Publicamente, Abbott cobrou explicações do serviço de inteligência, que retirou o sequestrador da "lista de observação" de pessoas potencialmente perigosas à segurança nacional.

Man Haron Moniz era residente permanente da Austrália e recebia pensão do governo. Ele estava em liberdade condicional por envolvimento na morte da ex-mulher. Além disso, o iraniano havia respondido judicialmente a mais 40 acusações de assédio sexual envolvendo sete vítimas diferentes. Há 14 anos, a polícia do Irã pediu sua extradição, que foi negada pelos australianos.

Entre 2008 e 2009, o iraniano estava na mira da agência porque enviou cartas ofensivas às famílias de soldados mortos em guerras. "Eu não entendo porque ele foi retirado da lista. Precisamos saber porque alguém com uma ficha criminal tão grande e com um histórico de instabilidade emocional recebeu liberdade condicional e foi retirado da lista de observação da agência de segurança", afirmou Abbott.

O país ainda chora seus mortos, com um memorial de flores sendo erguido no local da tragédia, mas o dia também foi de agradecimentos.

Primeiro refém a fugir, John O´Brien, 83, destacou o trabalho da polícia. "Nunca havia sentido tanto alívio na minha vida até virar a esquina e encontrar a polícia esperando por mim. Sou muito grato por poder estar em casa com minha mulher", disse.

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