Um tribunal da Mauritânia anunciou a primeira condenação à morte por apostasia na história do país contra um jovem mauritano, muçulmano, que escreveu um texto considerado pelos magistrados como uma blasfêmia.
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Mohamed Sheikh Uld Mohamed, detido desde 2 de janeiro, se declarou inocente no início do processo, o primeiro do tipo desde a independência da Mauritânia em 1960.
A Mauritânia é uma república islâmica, na qual a sharia (lei islâmica) está vigente. Mas a pena de morte ou penas de flagelação não são aplicadas há quase 30 anos. De acordo com a Anistia Internacional, a última execução aconteceu em 1987.
O julgamento do jovem, também identificado pela imprensa como Sheikh Uld Mohamed Uld Mjeitir, começou na terça-feira (23) em um tribunal penal de Nuadibu, 480 km ao norte de Nuakchott, a capital.
O condenado, de quase 30 anos, desmaiou ao ouvir o veredicto, antes de ser levado de volta para a prisão.
O anúncio da pena provocou comemoração no tribunal e nas ruas. Várias manifestações contra o jovem no início do ano levaram seu advogado a desistir da defesa.
Na primeira audiência, um juiz afirmou que o jovem era acusado de apostasia por ter "escrito com frivolidade sobre o profeta Maomé" em um artigo publicado em sites do país.
No texto, ele discutia as decisões tomadas pelo profeta Maomé durante as guerras santas, segundo o magistrado.
O jovem também acusava a sociedade mauritana de perpetuar uma "ordem social injusta herdada" desta época.
Para as organizações islâmicas locais, este foi o primeiro texto crítico ao islã e ao profeta publicado no país de quatro milhões de habitantes.
Durante o julgamento, Mohamed Sheikh Uld Mohamed afirmou que sua intenção "não era atacar o profeta, e sim defender uma classe social mal vista e maltratada", a qual ele pertence.