A força da Otan no Afeganistão (Isaf) arriou sua bandeira em Cabul neste domingo, marcando a saída das tropas de combate internacionais após 13 anos de conflito. Mas o Afeganistão ainda enfrenta muitos desafios.
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P: Qual é o balanço da ação militar da Otan no Afeganistão?
R: Após a queda do regime talibã, no fim de 2001, as forças internacionais expulsaram os insurgentes das cidades afegãs, que viveram um desenvolvimento sem precedentes. Mas a ação contra a insurgência talibã, que opera a partir de sua base no Paquistão, não foi suficiente para impedir que os insurgentes realizassem contínuos ataques armados contra o exército afegão e sangrentos atentados inclusive na capital do país. Segundo um documento recente do grupo International Crisis, "a tendência geral é em direção a uma escalada de violência e dos ataques de insurgentes no Afeganistão".
P: As forças afegãs têm a capacidade de garantir a segurança do país após a saída da Isaf?
R: As forças armadas afegãs são compostas atualmente por 350.000 efetivos. Em 2014, sofreram perdas sem precedentes, com 4.600 baixas nos primeiros 10 meses do ano. A falta de formação, equipamentos obsoletos e uma cobertura aérea insuficiente explicam em parte as perdas sofridas diante de uma insurreição particularmente forte. As baixas foram registradas principalmente entre a polícia, menos profissionalizada e disciplinada que o exército. Apesar das dificuldades mencionadas, as forças governamentais armadas não perderam o controle de nenhuma cidade importante nos últimos meses. Em 2015, quando enfrentarem pela primeira vez a insurgência sem o apoio das Forças da Otan (embora os Estados Unidos prevejam uma intervenção em caso de avanço dos talibãs), será possível constatar se estão preparadas.
P: A saída da Isaf beneficia os talibãs? Eles estão interessados em um processo de paz?
R: A ausência de tropas de combate, sobretudo no sul do país, reduto talibã, pode encorajar as aspirações militares dos insurgentes. Os talibãs são conscientes de que representam a maior ameaça para a estabilidade do país, que se encontra em plena crise econômica e a caminho de uma instabilidade política crônica, razão pela qual, no momento, não estão interessados em negociar com o governo de Ashraf Ghani, o novo presidente, eleito em setembro deste ano.
P: Quais são as principais ameaças que pesam sobre a reconstrução após a saída da Otan?
R: A corrupção, um menor apoio financeiro internacional, a economia da droga e a segurança são os principais desafios, segundo o Inspetor Geral Especial para a Reconstrução do Afeganistão (SIGAR, em inglês). Concretamente, o tráfico de drogas está favorecendo os talibãs e outros grupos de insurgentes e criminosos, o que leva a problemas de segurança e a um menor investimento internacional. Apesar de uma década de caros programas antidrogas, as Nações Unidas detectaram em 2014 um novo recorde no cultivo de ópio.