O primeiro-ministro grego, Antonis Samaras, propôs nesta segunda-feira (29) organizar eleições legislativas antecipadas, inevitáveis após o fracasso da eleição presidencial, em 25 de janeiro.
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Stavros Dimas, o ex-comissário europeu e candidato à eleição presidencial que precisava de 180 votos para ser eleito, conseguiu acumular apenas 168.
Diante da derrota de seu candidato, Antonis Samaras, a quem estas legislativas podem ser fatais, considerou que não há tempo a perder e decidiu organizá-las o quanto antes, em 25 de janeiro. Em sua opinião, serão as eleições "mais decisivas em várias décadas".
De qualquer forma, estas eleições podem reavivar más recordações, depois que a crise da dívida na Grécia esteve prestes a provocar o colapso da Eurozona em 2012.
A Grécia sobrevive desde 2010 graças à ajuda de seus credores internacionais (UE, BCE e FMI), que se comprometeram a emprestar 240 bilhões de euros em troca de uma drástica austeridade. Os gregos estão cansados de pagar as consequências, principalmente um desemprego superior a 25%.
Por sua vez, os mercados receberam muito mal o fracasso do voto presidencial, principalmente depois que Atenas precisou aceitar recentemente uma extensão de dois meses do plano de ajuda da União Europeia, diante das persistentes divergências dos credores.
A RETÓRICA DO CAOS - A bolsa de Atenas caiu mais de 11% após esta votação, enquanto o bônus grego a 10 anos, que na semana passada havia terminado com uma taxa de juros de 8,5%, disparou a 9,55%.
"As probabilidades de uma nova crise profunda na Grécia com uma possível saída da Eurozona são da ordem de 30%. É um risco importante", calcularam os analistas de Berenberg.
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, também manifestaram sérias reservas neste mês diante da ideia de que o partido radical Syriza, principal formação opositora, pudesse tomar o poder.
Alexis Tsipras, o deputado europeu de 40 anos que dirige o Syriza, não fez nada para acalmar estes temores. "É um dia histórico. Com a vontade do povo, em alguns dias os planos de austeridade pertencerão ao passado, o futuro pode começar", disse após a votação.
No entanto, a política que o Syriza realmente quer aplicar é um mistério. Recentemente, um integrante do alto escalão deste partido disse à AFP: "Nós temos um plano de reconstrução econômica e nosso primeiro objetivo é a renegociação para uma nova redução de grande parte da dívida", de 175% do PIB.
Paralelamente, Alexis Tsipras, que nos últimos meses se reuniu com vários líderes europeus, afirma que seu partido é a favor do lugar da Grécia tanto dentro da União Europeia quanto na Eurozona.
Craig Erlam, analista da Alpari, não cedeu aos maus presságios. "Não estamos mais em 2012 e, seja qual for o resultado, não pode ser pior do que na época", disse.
No entanto, este analista reconheceu que a votação desta segunda-feira "significa uma maior incerteza para a Eurozona, que não irá parar aqui, já que ainda irão ocorrer eleições nos países que mais sofreram devido à austeridade, como Espanha, Itália e Portugal".
Mas nem tudo está decidido para o Syriza. O partido de Tsipras talvez tenha dificuldades para chegar a um acordo com alguns de seus atuais aliados, como o movimento dos Gregos Independentes (direita conservadora) e, por sua vez, Antonis Samaras continuará dirigindo-se aos gregos mediante a retórica do caos.
"O povo não nos deixará voltar à crise", disse nesta segunda-feira.