Ciberataque

Especialistas questionam envolvimento de Pyongyang em ataque à Sony

O regime comunista nega estar envolvido em uma operação durante na qual foram roubados os dados pessoais de 47.000 empregados e colaboradores da Sony

Da AFP
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Publicado em 30/12/2014 às 10:25
Foto: YOSHIKAZU TSUNO / AFP
O regime comunista nega estar envolvido em uma operação durante na qual foram roubados os dados pessoais de 47.000 empregados e colaboradores da Sony - FOTO: Foto: YOSHIKAZU TSUNO / AFP
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Para Barack Obama não há nenhuma dúvida: a Coreia do Norte e seu líder Kim Jong-Un estão por trás do ciberataque que teve o estúdio Sony Pictures como alvo. Mas, de acordo com especialistas, o caso não é tão simples.  

O regime comunista nega estar envolvido em uma operação durante na qual foram roubados os dados pessoais de 47.000 empregados e colaboradores da Sony, mas elogiou seus autores.

O incidente, revelado em 24 de novembro, foi reivindicado pelo grupo de hackers Guardiães da Paz (GOP, na sigla em inglês), que obrigou a Sony a cancelar a estreia do filme "The Interview" (A entrevista), sátira na qual dois jornalistas são contatados pela CIA para assassinar Kim Jong-Un.

O presidente dos Estados Unidos não hesitou em culpar Pyongyang e disse que seu país responderia ao ataque.

No entanto, especialistas em segurança informática afirmam que as pistas em direção à Coreia do Norte podem ser bem frágeis. 

"Sou cético quanto a esta afirmação e me surpreenderia ainda mais que a Coreia do Norte tenha executado (o ataque) sozinha, sem ajuda", comentou John Dickson, da empresa Denim Group.

"Não há dúvida de que (os norte-coreanos) têm vontade de nos atacar, mas não dispõem dos recursos que os outros Estados têm e que os permitiria lançar um ciberataque dessa proporção", declarou à AFP.

"Na verdade, não sabemos nada", opinou Bruce Schneier, da Co3 Systems, firma especializada em segurança informática.

"Os elementos dos códigos utilizados pelos hackers apontam em várias direções. Não são provas sólidas", escreveu em seu blog.

Língua russa

Após a analisar o programa utilizado, a empresa Taia Global, com sede em Israel, concluiu que a língua materna dos hackers era o russo, e não o coreano. 

Por outro lado, advertem analistas, alguns hackers não têm problema em simular que suas ofensivas foram realizadas por terceiros, a fim de ocultar a origem do ataque e, assim, se proteger.

Washington não está disposto a revelar suas fontes no caso Sony "pois, se o fizesse, estimularia os próximos hackers a mudar de tática", indicou John Dickson. 

Johannes Ullrich, pesquisador no SANS Technology Institute, sugere que esses ciberataques foram feitos por grupos independentes de hackers, com ajuda ou sob o comando da Coreia do Norte. Segundo ele, o fluxo de informação que circula entre os hackers permite supor que há vários grupos envolvidos. 

"O ataque contra a Sony não exigia um alto nível de sofisticação, mas era necessária uma atitude perseverante para encontrar o ponto vulnerável e entrar no sistema", afirmou.  

Para o pesquisador Robert Graham, do Errata Security, se Pyongyang teve participação no caso, foi sem dúvida através de hackers que não são norte-coreanos. 

"Os hackers norte-coreanos são ligados ao Estado e não fazem parte do vasto mundo dos hackers (ocidentais) que começam a executar ataques na adolescência e são apadrinhados pelo sistema", observa Graham.

Alguns especialistas acreditam que Obama não mencionaria a responsabilidade de Pyongyang se não tivesse provas sólidas disso. "Me surpreende que algumas pessoas ainda duvidem", afirma James Lewis, pesquisador em ciber-segurança no Center for Strategic and International Studies. "As pessoas adoram as teorias conspiratórias", ressaltou. 

"Os serviços de inteligência dos Estados Unidos podem perfeitamente determinar a origem de uma operação de pirataria e aprofundar as divergências com a Coreia do Norte não é uma prioridade de política interna", observou.

Paul Rosenzweig, ex-diretor do Departamento de Segurança Interior e que agora integra uma empresa de consultoria, comentou no site Lawfare que nesses casos "sempre vale a pena conferir o ponto de vista do outro".

"No mundo pós-Watergate/pós-Snowden o governo não pode simplesmente dizer 'confiem em mim'", concluiu.

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