Islamofobia

Atentado de Paris pode alimentar hostilidades ao Islã

Diplomata da União Europeia teme xenofobia após o ataque

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Publicado em 07/01/2015 às 20:05
ALEX WONG / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / AFP
Diplomata da União Europeia teme xenofobia após o ataque - FOTO: ALEX WONG / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / AFP
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O atentado contra o semanário francês Charlie Hebdo, atribuído a islamitas, pode gerar mais hostilidade em relação aos muçulmanos na Europa, em um contexto de conflitos no Oriente Médio, afirmam especialistas.

"Pode-se temer que um assassinato desse tipo, em pleno centro de Paris, alimente a xenofobia e a islamofobia", comentou o ex-embaixador da França e diplomata da União Europeia Marc Pierini, após o atentado em que morreram 12 pessoas.

Gritando "Allah Akbar" ("Allah é grande"), homens armados entraram na sede da revista e dispararam rajadas de kalashnikov contra os jornalistas presentes, em uma operação muito bem organizada.

Os comentaristas se perguntam quais consequências podem ter esse atentado em um contexto de tensão crescente na França e na Europa em torno de temas como o Islã e a imigração. 

"Os loucos atacam em todas as partes. Cuidado, não nos equivoquemos com o inimigo e não confundamos fé e fanatismo, prática religiosa e fundamentalismo", afirmou Luciano Rispoli, diplomata francês em Bagdá.

"Somos contra qualquer forma de terrorismo, venha de onde vier", declarou o ministro das Relações Exteriores turco, Mevlüt Cavusoglu, para quem "associar o Islã com o terrorismo não é o modo correto de ver as coisas".

Na França, que conta com uma expressiva comunidade muçulmana e luta contra grupos islamitas no Sahel e a organização jihadista Estado Islâmico no Iraque, há um intenso debate sobre o Islã e a imigração.

Nesse contexto, o livro do polêmico Eric Zemmour, "O suicídio francês", que considera que a imigração é uma das causas dos problemas da França, esteve no topo da lista de livros mais vendidos no país no ano passado.  

"Nunca se falou tanto do Islã nos meios de comunicação e nunca se estigmatizou tanto o Islã na Europa", explicou Hasni Abidi, um pesquisador argelino radicado em Genebra, que cita como exemplo os temas que ocupam habitualmente as pautas dos noticiários da TV do ocidente: as guerras em Gaza, na Síria e no Iraque.

"Para aqueles que realizam atentados deste tipo, são imagens contra imagens, mortos contra mortos, olho por olho", destacou.

"Estamos em uma espécie de espiral infernal", afirmou Pierini, referindo-se a fenômenos como o atentado de Paris e as manifestações contra a "islamização" na Alemanha. "Um alimenta o outro", completou.

Na Alemanha, o governo está preocupado com a sua imagem no exterior em função das manifestações contra a "islamização" do país. A 11ª manifestação desse tipo reuniu 18.000 pessoas na cidade de Dresden (leste), um recorde desde que se iniciaram os protestos em outubro. 

Na Suécia, os recentes incêndios em três mesquitas indicam a islamofobia, apesar de um deles aparentar se tratar de acidente.

Para Pierini, o atentado de Paris "vai incidir na política da França. A Frente Nacional pode tirar proveito", apontou, referindo-se ao partido de ultra-direita francês liderado por Marine Le Pen.


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