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Conflito ucraniano é destaque no Fórum de Davos

Poroshenko lembrou que seu país vive um conflito armado desde abril e que será capaz de romper totalmente a dependência energética do gás russo em 2017

Da AFP
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Publicado em 22/01/2015 às 9:43
Foto: SERGEI SUPINSKY / AFP
Poroshenko lembrou que seu país vive um conflito armado desde abril e que será capaz de romper totalmente a dependência energética do gás russo em 2017 - FOTO: Foto: SERGEI SUPINSKY / AFP
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Os conflitos internacionais foram o principal tema abordado no primeiro dia do Fórum Econômico Mundial de Davos (Suíça), com a intervenção do presidente ucraniano, Petro Poroshenko, que acusou a Rússia de deslocar as tropas no leste e disse que seu país tem um projeto energético.

"Temos mais de 9.000 soldados da Federação Russa no território, com mais de 500 tanques, artilharia pesada e veículos de transporte de tropas", declarou o dirigente ucraniano no primeiro de quatro dias de debates em Davos, nos Alpes suíços.

Em Bruxelas, quando consultado sobre as declarações do presidente ucraniano, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse à AFP que a Rússia aumentou recentemente o envio de armamento pesado e equipamento para o leste da Ucrânia, mas não comentou a denúncia de Kiev sobre a presença de milhares de soldados russos em solo ucraniano.

Poroshenko lembrou que seu país vive um conflito armado desde abril e que será capaz de romper totalmente a dependência energética do gás russo em 2017 e que tem tecnologia para produzir petróleo de xisto.

A Ucrânia pode receber gás russo por meio de pagamento adiantado, mas quer reduzir ao mínimo estas compras devido a dificuldades financeiras e para reduzir a dependência em relação ao seu vizinho.

O mandatário prevê voltar rapidamente a seu país, considerando o agravamento do conflito. Na terça-feira, Kiev acusou a Rússia de ter atacado diretamente suas tropas no leste do país.

Durante o Fórum, Kiev pediu ao Fundo Monetário Internacional (FMI) a aplicação de uma cooperação a longo prazo e prometeu renegociar a dívida ucraniana.

O FMI concedeu um crédito de dois anos à Ucrânia em abril de 2014, e o pedido ucraniano pretende anular a operação e substituí-la por um plano mais longo.

Esta cooperação garantiria o apoio do FMI à Ucrânia nos próximos quatro anos, "durante os quais Kiev poderia retomar o caminho do crescimento econômico", segundo um comunicado oficial.

"Assim que o acordo com FMI for assinado, o governo ucraniano apresentará seu mapa para as negociações com os credores".

"Os mercados esperavam este passo e devem recebê-lo bem", declarou a ministra ucraniana das Finanças, Natalie Jaresko, citada no comunicado.

O secretário geral da OSCE, Lamberto Zannier, declarou nesta quarta-feira à AFP que a crise ucraniana "pode degenerar em um conflito mais amplo, já que as coisas não estão totalmente sob controle".

"Putin não levará nem um único pedaço da Ucrânia", disse Poroshenko, se referindo a seu homólogo russo, em uma entrevista ao jornal suíço NZZ, publicada também pelo Le Monde e pelo Wall Street Journal antes do seu discurso em Davos.

Antes de sua intervenção, um painel de participantes indicou que o risco de conflitos internacionais é a maior ameaça para o mundo, à frente da mudança climática.

"Acho que vamos ter 'cisnes negros' geopolíticos nos próximos meses", disse Jean-Marie Guéhenno, presidente do instituto de pesquisa International Crisis Group, em referência à possibilidade de acontecerem eventos anormais, difíceis de prever.

Economia chinesa não recuará

A economia chinesa, em plena desaceleração, não caminha para um "pouso brutal", garantiu o primeiro-ministro chinês Li Keqiang no encontro.

"O que quero destacar é que não haverá crise regional ou financeira sistêmica na China, e que a economia chinesa não caminha para um pouso brutal", declarou o primeiro ministro no Fórum Econômico Mundial.

"Se eu tivesse que comparar a economia chinesa com um trem em atividade, eu diria que esse trem não perderá velocidade nem ritmo, mas que terá um motor mais potente", completou o primeiro-ministro.

Em 2014, China cresceu cerca de 7,4%, seu ritmo mais baixo em 24 anos. Os dados superam a previsão média de um painel de 15 analistas consultados pela AFP, que esperava um crescimento de 7,3% na segunda economia mundial.

BCE sob a mira

A outra grande questão que agita Davos é o esperado anúncio na quinta-feira de um programa de compra de ativos financeiros, incluindo as dívidas soberanas, por parte do Banco Central Europeu.

O ex-presidente do banco central alemão e agora presidente do banco suíço UBS, Axel Weber, atacou sem rodeios a política que o BCE pretende adotar para estimular uma zona do euro afetada pelo crescimento fraco e ameaçada de entrar em deflação. 

Segundo ele, os membros do BCE "não devem ir muito longe, porque quanto mais forem, menos incentivos terão os governos para atuar", acometendo as reformas necessárias, e disse que a Europa desperdiçou três anos para implementar as reformas. 

Por outro lado, o governador do banco central chinês, Zhu Xiaochuan, manifestou seu apoio ao presidente do BCE Mario Draghi, afirmando que "a política monetária não é o remédio para atingir um objetivo, mas é, sim, uma ferramenta útil".

Adam Posen, ex-governador do Banco da Inglaterra e defensor fervoroso deste tipo de programa aplicado por Estados Unidos e Reino Unido, acredita que o maior risco seria limitar o volume e o período de compra de ativos, já que isso prejudicaria a confiança.

"Temo que a Alemanha impeça que a expansão monetária seja tão ambiciosa quanto deveria ser", disse Posen.

Outro dos temas dominantes nesta 45ª edição do Fórum de Davos é o contexto criado pela queda dos preços das matérias-primas e do petróleo em particular, que desde junho já recuou em mais de 50%.

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